O assassinato da travesti Dandara dos Santos está circulando em páginas da internet. (Reprodução/ Facebook) |
“Suba, suba! Não vai subir,
não?!”, bradam agressivamente três homens, em vídeo, enquanto Dandara, sentada
ao chão, mal consegue se mover. Ela chora. Um dos homens tira do pé o chinelo e
o utiliza para bater na cabeça dela. Chama Dandara de “viado ‘fêi’”. Chutes e
tapas vêm de todo lado em direção ao único alvo. A travesti sangra e tenta
subir no carrinho de mão enferrujado apontado por seus algozes. Não consegue.
“Sobe logo! A ‘mundiça’ tá de
calcinha e tudo”, zomba outro que filma, antes de um quarto garoto aparecer e
chutar diretamente o crânio de Dandara. Depois disso, as agressões miram só
ali: na cabeça loura-avermelhada que resulta da mistura de cabelo e sangue. Ela
tenta levantar. Um quinto homem surge com um pedaço de madeira quase do próprio
tamanho e o utiliza para bater repetidas vezes nela, que já não se sustenta.
Juntos, os cinco levantam Dandara e a jogam no carrinho. Levam sabe lá para
onde. É encerrado com um minuto e 20 segundos o vídeo da tortura.
Circulando em páginas da
internet, o assassinato da travesti Dandara dos Santos, 42, agredida até a
morte no último dia 15 de fevereiro, no bairro Bom Jardim, em Fortaleza, choca
por inúmeros motivos, mas, principalmente, pelo ódio dos agressores e pela
banalidade como tiram a vida de alguém que não consideram como igual.
Investigação
Em nota, a Secretaria da
Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que as investigações sobre o
crime estão a cargo do 32º Distrito Policial e “estão bem adiantadas”. Contudo,
não detalhou a situação do inquérito “para não comprometer o trabalho”.
Coordenador especial de
políticas públicas para LGBT, Narciso Júnior chegou a dizer para O POVO Online
que “salvo engano, um dos rapazes (envolvidos no crime) já estaria preso”. Ele
deu garantia de ter mais informações sobre as investigações na próxima
segunda-feira, 6.
Para a escritora e pesquisadora
de gênero e sexualidade Helena Vieira, histórias que envolvem agressões contra
travestis como Dandara têm múltiplos contextos. “Às vezes violência puramente
de ordem transfóbica. Mas, mesmo em situações de prostituição, drogas, entre
outros, a marca do ódio é grande. Sempre inclui tortura, espancamento,
esquartejamento”, pontuou.
Hérika Izidoro
Poucos dias antes de Dandara ser
morta, no último 12 de fevereiro, a travesti Hérika Izidoro, 24, foi espancada
na avenida José Bastos, na volta de uma festa de Pré-Carnaval, e encaminhada
para o Instituto Doutor José Frota (IJF), onde foi diagnosticada com
traumatismo craniano. Segundo o hospital, Hérika continua internada na Unidade
de Terapia Intensiva (UTI).
No início da tarde, ao telefone
com uma assistente social do IJF, o coordenador do Centro de Referência LGBT de
Fortaleza, Téo Cândido, soube que Hérika havia tido melhora em seu estado de
saúde e aguardava leito para ser transferida para a enfermaria. “Todo dia eu
vou lá, minha mãe tá muito arrasada”, compartilhou a irmã da vítima, Patrícia
Castro de Oliveira.
Téo, que está em busca de
articular assistência social para a família de Hérika, disse que agressões
transfóbicas ocorrem cotidianamente em Fortaleza. “Muitas vezes não denunciam
por, historicamente, não serem reconhecidos como sujeitos de direitos. Nem
sabem que podem reclamar. Muitas travestis não denunciam com medo de serem
violentadas novamente. As delegacias não estão preparadas para receber essas
denúncias”, concluiu o coordenador.
Sobre o caso de Hérika, a SSPDS
se limitou a dizer que o inquérito está em andamento pelo 3º Distrito Policial.
Segundo a pesquisadora Helena Vieira, que também é assessora parlamentar, o
deputado estadual Renato Roseno (Psol) chegou a enviar ofício para a pasta
solicitando celeridade no processo.
O POVO LUANA SEVERO
Cenas fortes de espancamento
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