A guerra entre facções criminosas, extrapola os muros dos
presídios, afeta comunidades e está expressa também nas redes sociais. Jovens
que se autodenominam integrantes das organizações comandadas de dentro de
unidades prisionais usam Facebook e outros meios de interação para fazer
apologia a crimes, ameaças e contato com criminosos de outros estados. Perfis
exaltam as facções do Primeiro Comando da Capital (PCC), Guardiões do Estado
(GDE), Comando Vermelho (CV) e Família do Norte (FDN).
Após reportagem publicada ontem pelo O POVO, moradores de
comunidades procuraram a Redação e relataram que se sentem atordoados com o
clima de terror. Eles apontaram a existência de aproximadamente 20 perfis no
Facebook que estimulam a violência entre os grupos organizados rivais no Ceará.
São imagens, por exemplo, de armamento e de corpos de pessoas
vítimas de homicídio, acompanhadas de texto assumindo a autoria de crimes. Há
ainda fotografias de “decretados” — pessoas marcadas para morrer pelas
organizações.
Dentre as postagens, há referência ao triplo homicídio
registrado em Horizonte, no último dia 28. As vítimas foram a mãe, o padrasto e
a companheira de um integrante da GDE. O suposto autor do crime já foi
“decretado” nas redes sociais e teve a foto exposta com os dizeres “matador de
mãezinha”.
Há perfis que fazem referência às facções PCC, Comando
Vermelho GDE e a grupo presente na comunidade da Babilônia, no bairro Barroso,
em Fortaleza.
Por meio deles, criminosos interagem com membros de outros
estados, como Rio Grande do Norte e São Paulo, incluindo tanto os que estão na
rua como os que estão presos. Entre os que se identificam nas postagens, há uma
maioria formada por adolescentes, que não seriam os principais integrantes das
facções. Acima nessa hierarquia estão os chamados “gerentes”.
Segurança
O presidente do Conselho Penitenciário do Estado, advogado
Cláudio Justa, cita, além do Facebook, o aplicativo de troca de mensagens
WhatsApp como uma ferramenta constantemente usada pelas facções, devido à
segurança das informações compartilhadas.
“As redes sociais são eficazes instrumentos de promoção e
articulação das facções. O Facebook é um canal de promoção da imagem da
facção”, ressaltou Justa. Nessa rede, criminosos fazem ameaças e trocam
mensagens mesmo em perfis abertos, que qualquer pessoa pode acessar.
Em relatório sobre as causas das rebeliões de maio de 2016, o
Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) apontou que houve um “salve geral”
por meio do WhatsApp, com instruções para a destruição e matança dos presídios.
As mensagens teriam sido determinantes para o início das rebeliões. Na ocasião,
14 detentos foram assassinados. Alguns corpos só foram identificados por exame
de DNA.
O POVO enviou todo o material recebido para o Departamento de
Inteligência da Polícia Civil na noite de ontem.
O POVO
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