O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa
admitiu nesta quarta-feira (7) a possibilidade de se candidatar à presidência
da República, embora tenha ressaltado que "ainda hesita" em relação a
isso. Após solenidade, à tarde, no Supremo, quando foi descortinado o retrato
dele na galeria de ex-presidentes da Corte, Barbosa disse que está refletindo
sobre o assunto, não ignora as pesquisas eleitorais, já conversou com Marina
Silva, da Rede, e com o PSB, mas disse não saber "se decidiria dar este
passo".
"Eu sou um cidadão brasileiro, um cidadão pleno, há três
anos livre das amarras de cargos públicos, mas sou um observador atento da vida
brasileira. Portanto, a decisão de me candidatar ou não está na minha esfera de
deliberação. Só que eu sou muito hesitante em relação a isso. Não sei se
decidirei positivamente neste sentido", disse o ex-ministro do Supremo.
Barbosa admitiu conversas sobre uma possível candidatura, mas
negou ter assumido compromisso com algum partido.
"Já conversei com líderes de partidos políticos, dois ou
três. Até mesmo quando estava no Supremo fui sondado, sondagens superficiais.
Ano passado, tive conversas com Marina Silva. Mais recentemente, tive
conversas, troca de impressões, com a direção do PSB", disse. "Mas
nada de concreto em termos de oferta de legenda para candidatura, mesmo porque
eu não sei se eu decidiria dar este passo. Eu hesito", disse o
ex-ministro.
O comentário de Barbosa veio em meio a uma série de críticas
sobre o meio político, com foco no Executivo e no Legislativo.
"Passamos por um momento tempestuoso da vida política
nacional, em que visivelmente os dois Poderes que representam a soberania
popular, nossos representantes eleitos, não cumprem bem a sua missão
constitucional", afirmou Barbosa.
"Cabe a essa corte, como órgão de calibragem e
moderação, ter uma vigilância redobrada sobretudo no que se passa no país. Isso
é natural, sempre foi assim, mas não custa reafirmar", afirmou o
magistrado, explicando uma frase do pronunciamento que fez durante a
solenidade. Ele havia encerrado discurso dizendo que "esta Corte não
falhará".
O tema da "presidenciabilidade" foi introduzido
durante a solenidade pelo ministro Luís Roberto Barroso, a quem coube fazer o
discurso em homenagem ao ex-colega de Corte. Barroso destacou as especulações e
pesquisas que apontam Joaquim Barbosa como possível presidenciável.
Barroso disse que, independentemente disso, Barbosa ajudou a
quebrar um paradigma "de que pessoas de bem-estar na vida jamais seriam
presas", por meio da condução da Ação Penal 470, o Mensalão.
Eleição direta
Joaquim Barbosa afirmou que "a falta de liderança
política e de pessoas com desapego, pessoas realmente vinculadas ao interesse
público, faz que o país vá se desintegrando". Neste contexto, ele defendeu
eleição direta em caso de vacância da presidência da República.
"Veja bem, a Constituição brasileira prevê eleição
indireta. Mas eu não vejo tabu de modificar Constituição em situação
emergencial como esta para se dar a palavra ao povo. Em democracia, isso é que
é feito."
"Eu acho que o momento é muito grave. Caso ocorra a
vacância da Presidência da República, a decisão correta é essa: convocar o
povo", disse o ex-ministro do Supremo.
Barbosa disse que deveria ter havido eleição direta após o
impeachment de Dilma Rousseff. "Deveria ter sido tomada essa decisão há
mais de um ano atrás, mas os interesses partidários e o jogo econômico é muito
forte e não permite que essa decisão seja tomada. Ou seja, quem tomou o poder
não quer largar. Os interesses maiores do país são deixados em segundo
plano", disse.
Fonte: Estadão Conteúdo
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