Por falta de recursos, fraca
arrecadação e orçamento engessado, o Governo Federal, está paralisando obras
importantes em todos o país. Com isso, o país caminha para a pior taxa de
investimentos dos últimos 15 anos. Segundo levantamentos feitos por técnicos do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo pesquisador do Ibre/FGV
Manoel Pires, nesse período, a taxa de investimento do governo federal atingiu
seu nível mais baixo, de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2003. A
expectativa em relação a uma retomada dos investimentos recairia, então, sobre
o setor privado.
O volume de investimentos subiu
para 1,1% do PIB em 2010, mas, desde então, vem caindo. Em 2015, chegou a 0,7%
do PIB. No ano passado, houve um leve aumento, para 0,8% do PIB.
A ampliação da meta de 2016
também se reflete nas estatísticas do investimento deste ano, quando se observa
o dado acumulado nos 12 meses fechados em maio. Nesse período, o investimento
público federal ficou em 0,6% do PIB. No entanto, quando se considera apenas o
ano de 2017, em que o governo já teve de fazer um contingenciamento de R$ 45
bilhões para assegurar o cumprimento da meta fiscal, o investimento federal
está em apenas 0,39% do PIB.
Concessões
Um exemplo da penúria é o
programa Avançar, com previsão de R$ 56,6 bilhões de recursos públicos a serem
aplicados entre 2017 e 2018, na conclusão de 10 mil obras paralisadas, em todo
o país. O programa seria anunciado com pompa no fim de junho. Hoje, já não há
mais data para seu lançamento. Segundo um dos integrantes do governo, o
problema agora é fiscal.
Uma obra emblemática é a construção
da ponte do Rio Guaíba (RS), orçada em R$ 680 milhões e que já deveria ter sido
entregue. Os blocos das estruturas já foram comprados, mas o governo não tem
dinheiro para fazer a montagem.
Outro exemplo, é a duplicação de
trechos da BR-101 na Bahia. Prevista para iniciar em 2014, a obra ainda nem
começou, porque o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit)
não tem verba.
Integrantes das pastas ligadas à
infraestrutura, onde se concentram os investimentos, relatam que falta dinheiro
hoje até para o custeio, que inclui o pagamento de prestadores de serviço e
aluguéis. Considerando que o quadro fiscal está longe de ter uma solução de
curto prazo e que o governo passou a combinar um teto para os gastos públicos
com uma meta de resultado primário — o que o obriga a fazer um aperto maior no
Orçamento —, a saída tem sido recorrer ao setor privado como indutor do
crescimento.
O problema da falta de recursos
atinge toda a malha federal. Segundo uma fonte graduada, o Dnit não tem recursos
nem para manter as rodovias. Diante do temor de que o arrocho comprometa as
condições das vias, técnicos do setor estão trabalhando na modelagem de
concessões light, para que o setor privado possa se encarregar da manutenção e
de pequenas melhorias nas estradas.
Para não ver a situação das
estradas federais ainda mais deterioradas, o governo também estuda um novo
modelo de rodovias. O projeto, em gestação no Ministério dos Transportes, prevê
a concessão de trechos a empresas privadas sem necessidade de duplicação ou
realização de melhorias, como é exigido atualmente. Por esse novo modelo, o
pedágio pago pelos motoristas seria usado para bancar apenas os custos de
manutenção e operação das vias — função que deveria ser do Dnit.
Segundo um interlocutor do
Planalto, se as concessões programadas para setembro e outubro forem
bem-sucedidas, ajudarão na retomada dos investimentos. A expectativa é que as
receitas previstas no Orçamento se concretizem com os leilões das quatro usinas
da Cemig (Volta Grande, Miranda, Jaguara e São Simão) e de três certames na
área de petróleo e gás.
Também há mudanças previstas no
projeto de transposição do Rio São Francisco. Quando o acordo para a realização
da obra foi firmado, em 2005, ficou acertado que a operação do projeto, cujo
custo anual é de cerca de R$ 500 milhões, seria bancada pela União no primeiro
ano. Já no segundo ano, caberia aos estados beneficiados pela obra criarem
taxas extras nas contas de água dos consumidores.
Até agora, no entanto, nenhum
governador fez isso. Dessa forma, o BNDES estuda a viabilidade de que a
operação seja feita por meio de uma parceria público-privada (PPP).
Especialistas em infraestrutura e
integrantes do setor produtivo (bens de capital, máquinas pesadas e construção
civil) afirmam que os investimentos privados devem andar ao lado dos públicos.
Na avaliação de agentes do setor, o ajuste fiscal focado no corte de gastos do
governo federal, que diminui investimentos públicos, inibe o potencial de
geração de empregos e dificulta a retomada do crescimento da economia.
O especialista em infraestrutura
Cláudio Frischtak, da Inter.B Consultoria, diz que, no setor privado, não
faltam recursos para investir no Brasil, mas é necessário mitigar riscos
legais, contratuais, regulatórios e relativos ao ambiente de negócios. Um
quadro legal que proporcione segurança jurídica e um ambiente de negócios que
gere confiança na estabilidade das regras do jogo são essenciais, afirma
Frischtak.
Consequências no setor privado
O presidente da Associação
Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Venilton Tadini,
afirma que o setor privado não consegue, sozinho, tocar grandes projetos de
infraestrutura, e, por isso, quando caem os investimentos públicos, todos ficam
prejudicados.
Sem recursos no orçamento e com
necessidade de realizar obras nas cidades, o governo anunciou, no início deste
mês, a liberação de R$ 11,7 bilhões para prefeituras tocarem projetos de
infraestrutura em parceria com o setor privado. Esses recursos são do FGTS e de
bancos públicos (Caixa e Banco do Brasil), e a maior parte será emprestada para
as empresas que farão as obras, em vez de para as prefeituras.
O presidente da Associação
Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso,
disse entender a necessidade de ajuste, mas lamentou o quadro atual. Para ele,
a retomada do crescimento deve ser feita pelo investimento, mas o governo está
realizando o caminho inverso.
Com informações Agência O Globo
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