Em missa acompanhada por 35
mil fiéis no Vaticano, o papa Francisco canonizou, ontem, 30 mártires
assassinados no século 17 no Rio Grande do Norte, durante o período de
dominação holandesa no Nordeste.
Os mártires das cidades
potiguares de Cunhaú e Uruaçu morreram de forma violenta: tiveram as línguas
decepadas e os braços e pernas arrancados, além do coração. Eles haviam sido
beatificados pelo papa João Paulo 2º no ano 2000.
"Não se pode dizer
´Senhor, Senhor´ sem viver e colocar em prática a vontade de Deus. Necessitamos
nos revestir a cada dia com seu amor, de renovar a cada dia a escolha de Deus.
Os santos canonizados hoje, sobretudo os tantos mártires, indicam esse caminho.
Eles não disseram ´sim´ ao amor apenas com palavras, mas com a vida, e até o
fim", disse o papa na cerimônia.
Após a missa, o papa
anunciou a convocação de um sínodo (reunião de bispos) dedicado à Amazônia, que
acontecerá em outubro de 2019 em Roma.
Segundo o papa Francisco, o
objetivo do sínodo é encontrar caminhos para "a evangelização daquela
parte do povo de Deus, especialmente os indígenas e também por causa da crise
da floresta Amazônica".
O anúncio do pontífice
surpreendeu até o cardeal d. Claudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e
atual presidente da Comissão da Amazônia, da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB).
Francisco afirmou que está
convocando o sínodo em atendimento a pedido de conferências episcopais de
vários países. O sínodo de bispos é uma reunião que debate questões
desafiadoras para a Igreja e apresenta sugestões ao papa. Além de
eclesiásticos, leigos e especialistas podem ser convidados a participar dos
debates.
Massacres
"É um momento
gratificante, eterno e histórico para a nossa Igreja do Brasil, quando vemos o
testemunho de tantos que deram a vida e o sangue pelo nome de Cristo. Temos que
fazer com que esse exemplo seja revertido em benefício da população",
disse o arcebispo metropolitano de Natal, dom Jaime Vieira Rocha.
Das 150 pessoas mortas nos
dois massacres, apenas 30 foram consideradas santos. A quantidade foi menor
porque, segundo a Igreja Católica, ficou comprovada a identidade apenas do
desse grupo. Das 30 pessoas, 25 eram homens e cinco, mulheres - alguns deles,
bebês. A canonização, quando se trata de um mártir, deve partir de um fato
historicamente comprovado de morte violenta pela fé católica, aceita
voluntariamente.
Os 30 mártires foram vítimas
de duas matanças no Rio Grande do Norte, na ocupação holandesa. Os crimes foram
praticados por colonizadores holandeses, índios tapuias e potiguares,
comandados pelo alemão Jacó Rabe. O primeiro massacre ocorreu em Cunhaú, a 79
km de Natal, em 16 de julho de 1645. Holandeses e tapuias trancaram cerca de 70
pessoas, que rezavam uma missa, na pequena capela Nossa Senhora das Candeias e
as mataram. Em 3 de outubro, outro grupo, com cerca de 80 pessoas, foi levado a
Uruaçu, às margens do Rio Potengi, e morto.
O presidente Michel Temer
divulgou nota celebrando a criação dos 30 novos santos. "A canonização de
nossos mártires, eles mesmos vítimas da intolerância, traz este importante
ensinamento: sejamos todos mensageiros e construtores da paz e do
entendimento", disse ele.
Até a canonização dos 30
mártires, o Brasil tinha apenas seis santos. Somente um deles nasceu aqui, mas
os seis eram considerados brasileiros pela Igreja Católica: São Roque Gonzales,
Santo Afonso Rodrigues e São João de Castilho (mártires do Rio Grande do Sul);
Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus; São José de Anchieta; Santo
Antônio de Sant´Ana Galvão.
Fonte: Diário do Nordeste
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