A epidemia de homicídios vivenciada no Ceará é influenciada, de maneira considerável, pelas estatísticas criminais de Fortaleza. Sozinha, a Capital responde por 38,4% (1.618) dos assassinatos ocorridos no Estado (4.211), de janeiro a outubro deste ano. Por si só, os números demostram que tamanha violência se tornou um caso de saúde pública. As evidências, entretanto, não param por aí.
Conforme dados da Célula de Vigilância Epidemiológica (Cevepi), da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), no primeiro semestre de 2017, os homicídios superaram casos de Acidente Vascular Cerebral (AVC) em 55,7%. Diferentemente de 2016, os homicídios lideram o ranking das causas de morte na Capital.
Casos de AVC, que antes lideravam, agora aparecem como terceira motivação, antecedidos pelas mortes por pneumonia. Além disso, observada a evolução das causas de morte, os homicídios apresentaram a maior variação, com aumento de 48%, enquanto as mortes por AVC e pneumonia diminuíram.
Os números são parte do relatório apresentado em reunião do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CCPHA), realizada na Assembleia Legislativa, no último dia 6. Na ocasião, o prefeito Roberto Cláudio (PDT) anunciou que, em 2018, os assassinatos na Capital serão acompanhados e tratados como problema de saúde pública.
Através de boletins epidemiológicos, a Prefeitura, por meio do Comitê Executivo Municipal pela Prevenção dos Homicídios na Adolescência, divulgará, mensalmente, a partir de janeiro, dados de assassinatos. O levantamento deve apontar características dos crimes, perfil das vítimas, distribuição geográfica e fatores determinantes das mortes, além de possíveis vítimas futuras.
Com os dados, políticas públicas de prevenção e acompanhamento serão elaboradas. Caberá ao Município estabelecer orçamento para as medidas. “Tendo acesso a esse tipo de informação, as ações preventivas e imediatas podem ser feitas com muito mais eficiência, baseadas em informações científicas”, ressaltou Roberto Cláudio, em entrevista à rádio O POVO/ CBN.
A nova postura da Prefeitura, contudo, não foi articulada ou debatida, pelo menos até agora, com a Secretaria da Segurança Pública (SSPDS). Embora não haja impedimento para que Município realize, por conta própria, ações neste sentido, o titular da SSPDS, André Costa, demonstrou estranhamento e desconforto com a medida municipal.
“Não tenho muito o que falar porque, na verdade, esse é um termo médico. Até porque o prefeito é médico de formação. Mas, até como leigo, fica difícil de dizer: ‘é epidemia’. Ou, como é que isso é tratado. Realmente, fica difícil emitir opinião”, disse Costa, durante reunião na Câmara de Dirigentes Lojistas de Fortaleza (CDL de Fortaleza), no último dia 20.
Apesar de reconhecer que a medida foi adotada em cenário de recrudescimento da violência, sobretudo na Capital, e de enfatizar que conta com apoio “incondicional” do prefeito em ações de prevenção social, ele destacou que jamais foi procurado para falar sobre o tema. “Nunca foi discutido, a nível de secretaria. Não sei se foi discutido a nível de Prefeitura e Governo do Estado. Mas, conosco na secretaria, não houve essa discussão”, completou.
O Povo
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