A transferência de água do Rio São Francisco para o Ceará
fica cada vez mais incerta e distante no tempo. As informações oriundas dos
canteiros de obras em Penaforte e Salgueiro (PE) revelam que a Transposição do
Velho Chico segue devagar e tem cronograma atrasado. Em muitos trechos, o
cenário é de construção paralisada ou em ritmo lento, com reduzido número de
operários e ausência de máquinas.
O quadro traz preocupação para os gestores dos Estados de
Pernambuco, Ceará e Paraíba. Em setembro, o ministro da Integração Nacional,
Helder Barbalho, visitou parte do canteiro no Sertão Central pernambucano e
reafirmou que o esforço da pasta de concluir a obra no primeiro semestre de
2018.
Desde a visita do ministro, no entanto, pouca coisa avançou
no trecho, segundo informações de um dos engenheiros, que pediu para não ser
identificado. Quem visita a construção observa com facilidade o ritmo lento dos
serviços de engenharia e pontos ainda paralisados, com trechos do canal sem
placas e mato invadindo o eixo central.
Segundo os funcionários de Salgueiro, lá falta apenas
limpeza, acabamento e retoque. No entanto, no entorno da BR-116, a quantidade
de operários é reduzida para uma construção gigantesca. Uma ponte que deveria
estar pronta sobre a rodovia e o canal da Transposição ainda não foi concluída.
Na BR-232, na localidade de Uri, zona rural de Salgueiro, os serviços de
conclusão de uma barragem e de uma estação de controle de água também não
avançaram.
O Consórcio Emsa-Siton, que executa o trecho do Eixo Norte
trabalha com dois canteiros, um em Salgueiro, onde a obra está mais avançada, e
outro matriz em Penaforte, onde ainda tem muito trabalho a ser feito. Segundo
um funcionário da empresa que não quis se identificar lá tem poucos
equipamentos, a maioria de terceirizados. "Aqui é só moendo, devagar. Para
dizer que não está parado", disse. Outro funcionário conta que o Consórcio
está devendo empresas terceirizadas há quatro meses.
De 14 contratadas, apenas sete continuam trabalhando. Uma
demitiu 80 funcionários por falta de recursos e ainda tem débito com alguns
desses antigos empregados. No canteiro de Penaforte, deveriam ter 1.500 pessoas
trabalhando, mas tem apenas cerca de 480, pela manhã e pela tarde. Enquanto em
Salgueiro, a execução só acontece pelo turno da manhã, com aproximadamente 180
homens.
Nos municípios Salgueiro e Penaforte, os moradores comentam
que a Emsa não continuará e que as obras vão parar em breve. Os trabalhadores
temem demissões. Da antiga construtora, a Mendes Júnior, que abandonou a obra
em junho de 2016 por falta de recursos, apenas 16% das pessoas foram
contratadas pela atual executora. Na localidade de Pau Ferro, em Salgueiro, os
serviços não avançaram. "Aqui não tem nada de máquina e de
operários", disse o agricultor Ailton Pereira. "A gente espera por
essa obra e o sentimento é de tristeza por ver um serviço lento",
completa.
Especulações
A obra começou em 2007 e parece não ter um desfecho em curto
prazo. Diante das dificuldades técnicas, o Ministério da Integração estaria
vendo a possibilidade de notificação oficial ao consórcio Emsa-Siton para que
cumpra o cronograma da obra, que em seu trecho tem 146Km de extensão e inclui a
construção de estação de bombeamento de água e reservatório.
No entanto, a Assessoria de Comunicação negou que houvesse
notificação ao consórcio e disse que a obra segue em ritmo regular. A empresa
assinou o contrato em fevereiro e o prazo de execução é de 12 meses. A
Emsa-Siton foi procurada por telefone, e-mail e nos canteiros da obra, mas não
atendeu para explicar em que percentual está execução do trecho.
A Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), por meio de nota,
afirmou que não havia recebido qualquer comunicado do Ministério acerca de
possível notificação à empresa que executa a obra de transferência de água do
Rio São Francisco, no Trecho Norte. A SRH destacou, ainda, que, pela vontade do
Ministério, a obra deveria estar mais acelerada e a pasta tem feito todo
esforço para que a água do São Francisco chegue ao Ceará no primeiro semestre
de 2018.
Fonte: Diário do Nordeste
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