segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

BEBÊS SIAMESAS UNIDAS PELA CABEÇA SERÃO SEPARADAS NO HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA USP EM RIBEIRÃO PRETO



Hospital das Clínicas da USP em Ribeirão Preto (SP) se prepara para um dos procedimentos mais audaciosos que já realizou: a separação de gêmeas siamesas unidas pela cabeça. As irmãs de Patacas, distrito de Aquiraz (CE), têm 1 ano e seis meses, e serão submetidas a quatro cirurgias ao longo de um ano.

A família foi orientada a não se pronunciar sobre o caso. O HC-RP também não informa detalhes sobre as pacientes. Chefe da equipe médica, o neurocirurgião Hélio Rubens Machado contou apenas que elas têm boa saúde e se desenvolvem de acordo com a idade.

As gêmeas estão realizando exames há um ano. Os médicos precisavam ter certeza da viabilidade da operação e, logo nos primeiros testes, foi possível constatar que os cérebros são separados, assim como as artérias, que levam o sangue do coração para a cabeça.

A partir daí, com apoio de uma equipe norte-americana, os crânios e os cérebros das siamesas foram reconstruídos em um molde tridimensional em acrílico, que contém detalhes de veias e artérias para todo o planejamento das cirurgias.

Professor de neurorradiologia da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (FMRP), Antônio Carlos dos Santos afirmou que as gêmeas foram submetidas a ressonância magnética e até a um cateterismo, para que o sistema vascular fosse reconstruído no molde 3D.

“O óbvio é que parte do crânio é comum, parte da pele é comum, parte do couro cabeludo é comum. Agora, o cérebro, felizmente, é bem dividido, cada um tem o seu, embora estejam muito próximos e algumas partes entrelaçadas. Mas, são individualizados”, afirmou.

Complexidade
Cerca de 30 profissionais estão envolvidos no caso, entre neurocirurgiões, neurologistas, anestesistas, cirurgiões plásticos, intensivistas, enfermeiros, entre outros. Referência nesse tipo de cirurgia, o médico James Goodrich, do Montefiore Medical Center de Nova Iorque, que já realizou 20 cirurgias desse tipo com sucesso, também integra a equipe.

A primeira operação está marcada para 17 de fevereiro. Ao todo, serão feitas quatro cirurgias, com intervalo de dois meses entre elas. Em cada etapa, os médicos vão abrir uma parte diferente do crânio para separar os vasos sanguíneos que estão interligados.

“Essas veias são um entrave porque elas são capazes de passar de uma para a outra. Mas, também, os cérebros das duas estão próximos um do outro, bem rente e entremeado, e eles têm que ser separados. As três primeiras fases vão ser muito semelhantes”, explicou Machado.

Na última operação haverá a separação total das irmãs. O chefe da Divisão de Cirurgia Plástica da FMRP, Jayme Farina Junior, explicou que a última etapa será a mais complexa porque envolverá a reconstrução do crânio, uma vez que as gêmeas são unidas pelo topo da cabeça.

Farina Junior afirmou que o couro cabeludo da região occipital – em cima da nuca – será implantado na parte superior da cabeça. A área que ficará sem a pele receberá enxertos retirados de outras partes do corpo.

“A última [cirurgia] é a mais complexa, a mais demorada. Nós temos que idealizar de onde vamos tirar esses retalhos para fechamento da parte superior da cabeça. É um grande desafio, mas, ao mesmo tempo, gera um grande entusiasmo em toda a equipe”, afirmou.

Infraestrutura
Diretor do Departamento de Atenção à Saúde do Hospital das Clínicas, o médico Antônio Pazin Filho afirmou que o procedimento é estimado em US$ 2,5 milhões na rede particular nos Estados Unidos, mas será realizado no Brasil por cerca de R$ 100 mil, custeados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

“É uma cirurgia que no exterior tem um custo extremamente elevado e a gente está fazendo tudo pelo SUS, coberto pela secretaria do Estado de origem, e a contrapartida muito importante das duas instituições, tanto da faculdade, que está fomentando todo o transporte para esse pessoal que vem de fora, como todo o material que a gente vai precisar”, disse.

Segundo Pazin Filho, a separação das siamesas exigirá medidas extraordinárias, como a abertura do hospital em horário diferenciado, para evitar o fluxo de pacientes e de profissionais que não compõem a equipe envolvida.

“É uma experiência que está sendo muito útil para o corpo clínico aprender a lidar com desafios novos e, um dos nossos objetivos, como hospital terciário, e como hospital de ensino, é exatamente proporcionar o desenvolvimento desses novos tipos de situação”, afirmou.


Por G1 Ribeirão e Franca

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