O segundo maior açude do Ceará, o Orós, oficialmente denominado de Juscelino Kubitschek, acumula cerca de 6% de sua capacidade. A cada semana, o reservatório perde volume. Ilhotas, bancos de areia, troncos de árvores e antigos canais que estavam encobertos ressurgem.
O baixo volume registrado no Açude Orós reflete na paralisação da atividade de turismo e na queda drástica dos setores de pesca e comércio, afetando a economia local. O trimestre - dezembro, janeiro e fevereiro - é um período favorável à atração de visitantes em férias na região, mas, em decorrência do açude seco, os barcos estão parados na margem do reservatório e os comerciantes amargam prejuízos.
Atualmente, o Orós acumula apenas 6%, equivalente a 160 milhões de metros cúbicos. O açude continua liberando pelo menos três metros cúbicos de água por segundo para atender demanda da Bacia do Médio Jaguaribe. Nos próximos quatro meses, senão houver recarga, durante a quadra chuvosa que se aproxima, o açude deverá secar.
Sem atração turística, o segmento de serviço (passeio de barco) e comércio (bares e restaurante especializado em venda de peixe), no entorno do açude está praticamente paralisado. Nessa época do ano, em 2017, os negócios tinham caído cerca de 80%, mas agora a queda ultrapassa 90%.
Neste período do ano, nos fins de semana, costumava haver uma maior movimentação de visitantes, oriundos da região e de municípios mais distantes, e aumento nas vendas em barracas, na balsa-bar flutuante, na margem, e em restaurantes localizados em ilhas no açude, cujo acesso é feito por barco. "No ano passado demiti quatro garçons. Estou trabalhando só com a família, mas não tem movimento. O cenário atual é de tristeza", lamenta o empresário Fransualdo Andrade.
Redução do nível
O nível do Açude Orós vem caindo desde 2012 quando começou o atual ciclo de chuvas abaixo da média. Há um ano, estava em 17%. Agora despencou para 6%. "A Cogerh afirmava que estaria em 9% nessa época, mas estão liberando muita água que não chega a Jaguaretama por causa de desvio no leito do rio", reclama o integrante do Comitê de Bacia do Alto Jaguaribe, Paulo Landim. "Se o inverno não ajudar, o Orós vai secar".
Os moradores trazem na memória o ano de 1993 quando o Orós secou por causa da transferência total de água para o Canal do Trabalhador para evitar colapso de água em Fortaleza. Em 2016, houve operação de liberação de água para o Castanhão com o mesmo objetivo. "A gente achava que, depois do Castanhão, o Orós não iria secar nunca mais, mas está aí, o açude agonizando", frisou o produtor rural Ésio Barros.
O barqueiro Luzimar Bezerra que ainda insiste em permanecer nos fins de semana à espera de clientes para um passeio de barco, é incisivo. "O fim de ano foi amargo e este começo de janeiro também está ruim. O Carnaval, que sempre trouxe muita gente, deve ser fraco porque ninguém vem ver um açude seco como está".
O barqueiro Pedro Targino afirma que, aos domingos, aparece, no máximo, meia dúzia de famílias para visitar o açude. "Alguns dão meia volta. Não tem o que ver e o que fazer", lamenta. Os barcos são mais usados por moradores das ilhas e, mesmo assim, os barqueiros já reclamam do elevado risco de acidente: atrito com barrancos, galhos de árvores submersos e pedras. "É preciso conhecer bem as rotas de navegação. É comum a quebra de hélice do motor", frisa José Pereira.
Riscos à navegação
Ilhas, barrancos, pedras e galerias já aparecem em vários pontos do açude. Para se chegar à Ilha do Paraíso, onde há um restaurante, agora é preciso redobrar a atenção e o barco tem de ancorar um pouco antes. O empresário Maésio Vieira lamenta a queda nas vendas. "O atrativo é o açude, o banho, mas, do jeito que está, poucas pessoas vêm para cá. O movimento caiu mais de 80%", queixa-se.
Quem pretende frequentar a Ilha do Paraíso pode ir de barco até determinado ponto e em seguida segue de carro (há um fusca antigo que faz a travessia) sobre a bacia do Orós. "Aqui está praticamente parado", diz a empresária Lourdes Cândido.
Sem movimentação no açude, o comércio local é afetado. Na cidade, muitos lamentam a queda no varejo. "A criação de peixe impulsionou a economia local, houve maior circulação de dinheiro nas lojas, mas agora há retração nas vendas", destaca o comerciário Luís Custódio.
Produção de peixes
A atividade de produção de tilápia em tanques redes caiu consideravelmente. Centenas produtores estão parados. A renda familiar despencou, com sérios reflexos no comércio local. Mais de 700 famílias foram afetadas. No pico, a produção do pescado chegou a 150 toneladas por mês. Há ainda algumas gaiolas no leito do Rio Jaguaribe e próximo à parede do reservatório, mas em número reduzido. "Sem renda, as pessoas compram menos, priorizam o essencial", ressalta o empresário Luís Souza.
Fonte: Diário do Nordeste
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