Em meio a um clima de revolta, produtores rurais, vereadores, prefeitos e representantes de entidades de classe discutiram, na manhã desta segunda-feira, 16, em audiência pública realizada na Câmara Municipal desta cidade, a transferência de água do Açude Castanhão para a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) por meio do Eixão das Águas. O reservatório acumulava, ontem, 6,45% de sua capacidade.
A revolta decorre da decisão do Conselho Estadual de Recursos Hídricos (Conern), órgão máximo de deliberação, que no último dia 3, autorizou a transferência, por meio de bombeamento, de água do sistema Castanhão para Fortaleza. “Isso é um absurdo, passa por cima da decisão coletiva dos comitês de Bacia Hidrográficas”, disse o vereador e presidente do Comitê da Bacia do Médio Jaguaribe, Daniel Linhares.
Os participantes da audiência frisaram que havia um entendimento de que a água somente seria transferida após o fim da quadra chuvosa (fevereiro a maio). “Fomos surpreendidos mais uma vez”, disse Daniel Linhares. “Em junho próximo, haverá a reunião de alocação de água dos Vales do Banabuiú, Jaguaribe e Salgado e este é fórum adequado para decisão sobre a vazão de água nos açudes”.
No início da quadra chuvosa, em 1º de fevereiro o Castanhão acumulava 150 milhões de metros cúbicos. Ontem, segundo a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), o reservatório estava com 432 milhões de metros cúbicos, ou seja, 6,45%. A tendência para os próximos dias é de aumento do volume por causa da cheia do Rio Salgado, afluente do Ri Jaguaribe. Ontem, o aporte no açude foi de 23 milhões de m3.
Sem compensação
Na próxima semana, será elaborado um documento a ser entregue ao governo do Estado solicitando a suspensão da transferência de água até o fim da quadra chuvosa e medidas compensatórias para a região. “Não somos contra a retirada de água para Região Metropolitana de Fortaleza, mas não podemos ser prejudicados”, frisou o prefeito de Jaguaribara, Joacy Alves dos Santos Júnior (Juju). “Na Capital não tem racionamento, mas aqui tem para moradores e produtores”.
A revolta entre os participantes da audiência pública é a falta de compensação para a região do Médio e Baixo Jaguaribe. “O governo simplesmente seca o Castanhão, levando água para indústrias no Porto do Pecém, e para nós ficou a crise econômica com desemprego, esvaziamento da cidade e fuga de piscicultores”, disse a vereadora, Maria José Martins (Mazé). “Fomos atrás de adutora, poços e não veio nada”.
Segundo os parlamentares, há diversas localidades rurais que enfrentam crise de água no entorno do Castanhão, dependendo de caminhões pipa. “Isso é uma vergonha”, frisou o vereador, Tarcísio Dantas. “Desde 2013 que somos enganados”.
O coordenador do Complexo Castanhão, Fernando Pimentel, disse que a gerência da água é responsabilidade da Cogerh, mas chamou a atenção para a necessidade do uso racional e responsável da água. “A crise é grave, houve uma melhora com as últimas chuvas, e não podemos repetir erros do passado”, pontuou.
Para a vereadora, Damiana Martins, o sonho do Castanhão trazer o crescimento da cidade transformou-se em um pesadelo. “A nossa situação é triste, a renda acabou, os projetos produtivos estão parados e a maioria das promessas dos governos não se concretizaram”, desabafou.
O piscicultor, Francisco Eduardo Almeida (Padim), presidente da Associação dos Produtores de Tilápia do Castanhão, considera um exagero a transferência de água no período chuvoso. “Mal começou a chover já levam a água que poderia assegurar o abastecimento e reinício da piscicultura e de outras atividades produtivas”, lamentou. “Acho isso um erro e uma ganância com medo de falta água em Fortaleza antes da eleições”.
Explicação
O coordenador do Núcleo Técnico da Cogerh, em Limoeiro do Norte, Hermilson Barros, esclareceu que a transferência de água decorre do baixo volume e perda de reserva de água na Bacia Metropolitana (Pacajus, Pacoti, Riachão e Gavião), que tem um déficit de 190 milhões de m3 em relação ao mesmo período do ano passado.
Barros frisou que em decorrência da água acumulada nos rios Jaguaribe e Banabuiú há dois pontos de bombeamento para transferência de água em Morada Nova e Itaiçaba para o Fortaleza. “Hoje (ontem) decidimos suspender a retirada de água do Castanhão, as bombas foram desligadas”, assegurou. “Estamos liberando 500 litros por segundo para o Rio Jaguaribe, para manter a vazão mínima”.
De acordo com Barros, houve uma transferência média de 3,85 m3/s após a decisão do Conerh para o sistema Fortaleza. “Jaguaribara precisa conviver com essa dinâmica por causa da crise hídrica e a prioridade é o abastecimento humano”, definiu.
Fonte: Diário centro sul
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