Acompanhando o apogeu da violência registrado no Estado em 2017, o número de adolescentes assassinados cresceu quase 50%, em um ano (exatamente, 49,7%). De acordo com dados do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CCPHA), 981 jovens, entre 10 e 19 anos de idade, foram mortos no ano passado. Em 2016, foram 655 vítimas.
O crescimento exponencial apresentado em 2017 se dá após dois anos de quedas no índice. De 2015 para 2016, a redução foi de 19,8%, passando de 817 mortes na adolescência para 655 ocorrências; e de 2014 para 2015, foi de 18,7%, caindo de 1.005 crimes para 817.
Coordenador técnico do Comitê, o sociólogo Thiago de Holanda propõe uma reflexão sobre a presença das facções criminosas no Ceará, nos últimos anos, para explicar o aumento de homicídios na adolescência. Ele lembra que o estudo sobre o ano de 2015 já mostrava que vários territórios no Estado eram dominados por grupos armados e havia muitos conflitos entre eles. "Essa dinâmica vai se alterando com a implantação de facções criminosas no Nordeste, sobretudo no Ceará. Aqueles grupos que já existiam nos territórios ficaram mais poderosos, mais armados", indica.
A violência contra jovens freou com a pacificação entre as organizações criminosas, em 2016, segundo o sociólogo. Mas voltou ainda mais intensa no ano seguinte. "Eles instalaram uma nova dinâmica, trazendo demarcações territoriais, incorporando toda a comunidade naquele território. Pessoas acabam sendo marcadas, mesmo sem nenhum envolvimento direto com o comércio de drogas ilícitas. E (os criminosos) implantam também dinâmicas como o ´tribunal do crime´, julgamentos, que acabam pegando pessoas que estão ao redor dos jovens da linha de frente. E estão atraindo adolescentes cada vez mais jovens. Nos confrontos que estão tendo, aparecem tiroteios, com ´balas perdidas´, atingindo pessoas mais novas. Tudo isso vai agravando ainda mais esse cenário, atingindo públicos que não eram tão frequentes nas taxas de homicídios", conta.
O juiz da 5ª Vara da Infância e da Adolescência, Manuel Clístenes, acredita que o crescimento se deu principalmente pelo fortalecimento das facções criminosas. "Os territórios da cidade estão divididos (pelas facções) e muitos jovens que moram nesses territórios estão envolvidos de alguma forma. Eles passam a ser autores e vítimas. Muitas vezes, aquele adolescente que participou de um homicídio hoje vai ser a vítima de amanhã. A maioria tem envolvimento com a criminalidade. Alguns têm envolvimento, mas não têm ficha criminal. Antes deles terem ficha criminal, já são tragados por essa guerra", analisou.
Capital
Uma parcela de 42% dos crimes contra adolescentes, em 2017, foi cometida em Fortaleza, o que significa 414 assassinatos. O número representa um crescimento de 90,7% no índice, em comparação ao ano de 2016, que teve 217 mortes. Assim como em todo o Estado, a Capital vinha de dois anos seguidos de redução. Os homicídios se espalham pela periferia de Fortaleza. O CCPHA também mapeou as ocorrências por bairros, na Capital. As maiores incidências de assassinatos a jovens se deram nos bairros Bom Jardim e Jangurussu, com 31 casos; Barra do Ceará, com 26; Mondubim, com 20; e Canindezinho, com 17.
Seis dos sete municípios estudados pelo Comitê - que estão entre os mais populacionais e ricos do Estado - registram aumento no número de adolescentes vítimas da violência: além de Fortaleza, são eles Caucaia, Maracanaú, Horizonte, Sobral e Juazeiro do Norte. Apenas Eusébio apresentou redução.
Caucaia teve o maior aumento, de 102%, ao passar de 42 mortes em 2016 para 85, em 2017. Em Sobral, o aumento foi de 68,9% no índice, ao passar de 9 crimes para 29 mortes, de um ano para outro. Já no Eusébio, a redução foi de apenas 12,5%, caindo de 16 mortes em 2016 para 14 crimes, no ano seguinte.
O relator do CCPHA, o deputado estadual Renato Roseno (PSOL), afirmou que o Comitê "é fruto de uma indignação e de um compromisso para procurar por uma agenda de prevenção ao homicídio na adolescência". "O primeiro objetivo é produzir informações tecnicamente confiáveis. O segundo é mobilizar gestores públicos para implementar essa agenda", disse.
Feminino
O relatório alertou para o aumento significativo das vítimas que são adolescentes do sexo feminino e de idades menores. Entre 2016 e 2017, o número de meninas mortas no Ceará cresceu 196,2%, passando de 27 ocorrências para 80.
Em Fortaleza e no Município de Caucaia, o crescimento percentual é ainda mais alarmante, no período. Na Capital, a variação foi de 416,6%, aumentando de seis crimes registrados em 2016 para 31 mortes, em 2017. O estudo ainda dividiu todos os adolescentes mortos em duas faixas etárias: 10 a 14 anos e 15 a 19 anos.
Na primeira faixa, o número de mortos cresceu 207,1% em um ano, fechando o ano passado com 43 vítimas, enquanto em 2016 foram 14.
Fonte: Diário do Nordeste
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