Na última terça-feira (5), o ministro da Integração Nacional,
Pádua Andrade, em audiência pública da Comissão de Desenvolvimento Regional e
Turismo (CDR), realizada no Senado Federal, garantiu que as águas do Projeto de
Integração do Rio São Francisco (Pisf) já beneficiariam o Ceará em agosto deste
ano. Enquanto isso, em Penaforte, chegava ao fim o protesto de ex-funcionários
do consórcio anteriormente responsável pela obra - Emsa-Siton - e de empresas
terceirizadas, que começou no dia 1º de junho. Com salários atrasados, eles
bloquearam a entrada do canteiro de obras, no Município cearense, por cinco
dias.
Uma das empresas terceirizadas foi contratada pela Emsa-Siton
para fazer serviços de terraplanagem. Segundo um ex-funcionário, o seu patrão
alegou que não recebeu o pagamento da antiga construtora em dinheiro, mas em
equipamentos. Por isso, não pôde pagá-los. Após o protesto, parte deles recebeu
a remuneração atrasada.
O restante promete realizar novos protestos. "A situação
é complicada. Estou devendo aluguel, mercado", lamentou. Durante os cinco
dias de protesto, nenhum veículo chegava ou saía do canteiro de obras. Inclusive
aquele que conduzia a alimentação dos funcionários que estão executando a obra
foi interceptado pelos manifestantes.
A invasão ao canteiro de obras foi registrada em Boletim de
Ocorrência (BO), pelo Ministério da Integração Nacional, que confirmou que os
trabalhadores foram impedidos de exercer suas atividades, porque as vias de
acesso às estruturas estavam interditadas. A Pasta também entrou com um pedido
judicial de proteção ao patrimônio da União e reintegração de posse das áreas
invadidas, que foi imediatamente deferido pela Justiça Federal.
Em nota, o Ministério da Integração afirma que as medidas
tomadas tiveram como objetivo assegurar o cumprimento do cronograma de obras do
Eixo Norte do Projeto de Transposição do Rio São Francisco. No entanto,
ressalta que os profissionais e fornecedores que atuam ou atuaram na execução
das obras do Pisf são contratados diretamente pelas construtoras, que são
responsáveis pelo pagamento de salários e direitos de cada trabalhador.
Equipes técnicas do Ministério se reuniram na última
terça-feira (5), em Salgueiro (PE), com representantes dos ex-funcionários da
Consórcio Emsa-Siton, para explicar as responsabilidades sobre os pagamentos e
receber as demandas do grupo. No mesmo dia, as atividades nos canteiros de
obras do Projeto de Transposição do São Francisco voltaram ao ritmo normal.
Outros impasses
Mas essa não é a primeira vez que os consórcios responsáveis
pela Meta 1N causam problemas com a população dos municípios por onde passa a
obra. Em junho de 2016, a Mendes Júnior comunicou sua incapacidade técnica e
financeira em executar os seus dois contratos e deixou dívidas milionárias com
fornecedores de alimentos, aluguel de veículos, empresários do ramo de
hospedagem, entre outros serviços. O grupo cobrava cerca de R$ 24 milhões. A
Emsa-Siton, assim que assumiu, se envolveu numa polêmica depois que foram
achados milhares de currículos queimados próximo ao canteiro de obras.
Andamento
O Eixo Norte, com 96% das obras finalizadas, pretende
garantir o abastecimento de mais de 7 milhões de pessoas, em 223 municípios nos
estados do Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Hoje, já reforça o
abastecimento de mais de 12 mil pessoas em Terra Nova e na zona rural de
Cabrobó, em Pernambuco. A Meta 1N, que possui 140 quilômetros de extensão,
levará água ao território cearense, a partir de Penaforte. Segundo o ministro
Pádua Andrade, as equipes técnicas estão se revezando na fiscalização em tempo
integral.
"Nos trechos mais complexos, a exemplo do Túnel Milagres
e da terceira estação de bombeamento - a EBI 3, os trabalhos estão acontecendo
durante 24 horas. Estamos priorizando o caminho das águas, pois nossa meta é
cumprir os prazos para beneficiar a população o mais breve possível",
disse Pádua Andrade, no Senado Federal, na última terça-feira (5). As demais
etapas (2N e 3N) estão praticamente concluídas.
A EBI-3, citada pelo ministro, é a maior estação elevatória
dos dois eixos - Norte e Leste - do Projeto São Francisco. A estrutura possui
90 metros de altura e bombeará volume de água equivalente a uma piscina
olímpica por segundo. A expectativa é que as bombas sejam acionadas até o fim
deste mês. O equipamento está localizado no município de Salgueiro (PE), onde
as obras estão mais avançadas. Inclusive, a ponte sobre a BR-116, no mesmo
município pernambucano, pode ser concluída até o dia 20 de junho.
No entanto, no canteiro central de Penaforte, a equipe do
Diário do Nordeste flagrou seis funcionários deitados, em horário de trabalho.
Mas isso acontece porque está faltando equipamentos para estes trabalhadores,
na maioria motoristas. Um dos funcionários conta que estão aguardando chegar
mais 40 máquinas, na próxima semana. Ainda há muitos caminhões parados da
Emsa-Siton por lá.
Segundo as informações do Ministério da Integração Nacional,
a Meta 1N está com 1.500 trabalhadores. A expectativa é de que, até o fim deste
mês, esse número seja de 3.000 profissionais. Durante a última semana, muitos
homens estiveram na porta do canteiro de obras, esperando serem chamados para
assinar contrato, mas, até agora, nada. O número de pessoas aguardando diminuiu
e, na última sexta-feira (8), apenas três ainda mantinham a esperança de serem
"fichados".
"Se essa daí não terminar, pode botar o Exército",
garante um deles, que já trabalhou em quatro empresas diferentes no Pisf.
Aproximadamente, metade dos antigos funcionários da Emsa-Siton permanecem na
obra.
Fonte: Diário do Nordeste
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