Orós. Redução do nível de água no Açude Orós, o segundo
maior reservatório do Ceará, e mortandade anual de tilápias produzidas em
tanques-redes têm afetado severamente cerca de 700 famílias produtoras do
pescado. Quem ainda insistia em manter as gaiolas povoadas registrou mais uma
vez prejuízo. Somente em uma área de produção, foram atingidas mais de 500
gaiolas com a perda de 70 toneladas, equivalentes a mais de R$ 500 mil.
Segundo estimativa do setor, a queda na produção é superior a
95%, em toda a bacia do reservatório, que abrange parte dos municípios de
Iguatu, Orós e Quixelô. “Aqui agora praticamente acabou tudo e teremos de
encontrar forças para recomeçar”, disse o produtor, Antônio Neto Lavor. “Tive
que enterrar todo o pescado morto e demitir os trabalhadores”
Desolação
O clima é de desolação entre os piscicultores da região.
Desde 2012 que o reservatório vem reduzindo o seu volume de água acumulado. Em
2014 e em 2015, houve mortandade elevada de pescado em várias comunidades nos
municípios de Orós e de Quixelô. Em 2016, o cenário permaneceu desfavorável. No
ano passado, sem condições de manter os criatórios, as gaiolas foram encostadas
nas margens do açude.
O ciclo produtivo de tilápia, que trouxe renda e trabalho
para milhares de moradores, agravou-se em 2017 e, agora em 2018, quando o Açude
Orós acumula cerca de 9,4% de sua capacidade, caminha para o seu fim.
“Não há mais condições de produzir em gaiolas, de forma
intensiva, porque o volume de água tende a cair nos próximos meses e essa
última mortandade afetou a capacidade econômica dos criadores”, avaliou o
veterinário Paulo Landim.
O governo do Estado, entretanto, não sinalizou até o momento
com nenhuma ação de apoio aos piscicultores de Orós. A atividade torna-se
inviável por causa de dívidas acumuladas em bancos e o reduzido volume que o
reservatório apresenta.
“O quadro, que já foi de geração de emprego e renda, com
mudança signicativa na vida de antigos agricultores, que viviam da produção de
grãos para subsistência, agora é de preocupação e empobrecimento”, pontuou. “O
desemprego é crescente na bacia do reservatório”.
No Açude Orós, a produção de tilápia em tanques-rede
prosperou nos últimos dez anos, chegando a 140 toneladas por mês. Em 2015, caiu
para 50%, mas, no m da quadra chuvosa de 2018, sem recarga signicativa do
reservatório, não há condições de recomeçar a atividade. “O pior de tudo são as
dívidas com os bancos e a falta de capital para pagamento das parcelas”,
explicou o produtor Francisco de Assis.
“Temos enfrentado dias difíceis, sem trabalho e renda, com
dívida nos bancos de custeio para compra de ração e alevinos e de investimento
para aquisição de gaiolas”, disse a piscicultora e presidente da Associação de
Produtores de Tilápia do Sítio Jardim, Auricélia Custódio Caetano. “Não temos
condição de quitar esses débitos sem a ajuda do governo”.
Falta de apoio
Os produtores de tilápia lamentam o comportamento do governo
do Estado. “Para o Castanhão, que tem muitos empresários, chegou a dar uma
ajuda, mas, para o Orós, que só tem produtor familiar, não deu atenção”, disse
José Pereira. Um dos problemas que ainda persistem na Bacia do Orós é a
produção de tilápia em gaiolas, sem a devida outorga de produção, isto é, a
falta de autorização legal.
Há dois anos, cerca de 100 famílias, das localidades de
Jardim, Brejinho e Baixas suspenderam totalmente a produção.
Após sucessivas mortandades de peixe, não houve como
continuar com a atividade. “As áreas que permitem a criação estão muito
distantes, próximas da parede do reservatório”, explicou Landim. “O custo
aumentou”, acrescentou.
A produção de peixe em gaiolas no Orós fez antigos
agricultores, que moravam em casas de taipa, sonharem, acreditarem na melhoria
de qualidade de vida. De fato, houve mudanças signicativas.
O padrão de vida mudou, houve transformação. As famílias
construíram casas de alvenaria e adquiriram eletrodomésticos e transporte
próprio (motocicletas e automóveis). “Houve uma mudança de vida estrondosa”,
disse Auricélia.
Castanhão
No Açude Castanhão, o maior do Ceará, a produção de tilápia,
peixe que conquistou os consumidores, caiu também mais de 90%. O reservatório
está com 8,4%. No início deste ano, acumulava 2,5%. O aumento trouxe esperança
para um grupo de piscicultores, mas é preciso capital para retomar a atividade.
O Ceará já importa da Bahia, Pernambuco e Piauí tilápia e
curimatã. Caminhões trazem o pescado e distribuem para cidades do Interior e
para Fortaleza. A produção local não atende à demanda. O Estado passou de
segundo maior produtor de tilápia do Brasil para a 20ª colocação, entre 2013 e
2017.
Fonte: Diário do Nordeste
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