Os moradores do distrito Feiticeiro, zona rural deste
Município, enfrentam crise de abastecimento que se agravou nestes dois últimos
anos. O Açude Joaquim Távora (Feiticeiro), que deveria abastecer a localidade
está com 4,97% de sua capacidade e a água tornou-se imprestável para o consumo
humano. A expectativa é a implantação de uma adutora emergencial.
A crise de água enfrentada pela população local expõe as
falhas de um projeto, o Sistema Adutor Orós - Feiticeiro, que tinha a finalidade
de abastecer o distrito a partir do Açude Orós. A obra foi inaugurada em 2011,
após quatro anos de atraso. O eixo de integração deveria abastecer outro distrito,
Nova Floresta, e localidades no percurso.
O projeto previa atendimento a cerca de 20 mil pessoas e
perenização do Vale do Feiticeiro. A obra foi iniciada em 2006 e foi orçada em
R$ 30 mi, do Ministério da Integração Nacional. Tem extensão de 18 km,
incluindo 3.700m de adutora em rede dupla de 700mm, bombeamento, canais e
sifões, sendo a maior parte, 14.500m, por gravidade.
O canal termina na localidade de Canto do Juazeiro, a 20Km da
sede do distrito Feiticeiro, e a água segue pelo Riacho Feiticeiro, mas, no
meio do caminho, tem três açudes (Croatá, Pedra Branca e Córrego das Pedras) e
depois mais trecho do riacho largo, com obstáculos naturais que impedem a passagem
da água. A operação de liberação da água do Orós é feita por ondas para
possibilitar a chegada aos três reservatórios, mas, desde o início, mostra dificuldades.
"Com certeza, o melhor seria se houvesse uma tubulação a
partir do Canto do Juazeiro diretamente para Feiticeiro, evitando desperdício e
possíveis desvios da água", observou o gerente regional da Companhia de
Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), em Limoeiro do Norte, Francisco Chaves
de Almeida. O diretor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Jaguaribe,
Ronaldo Nunes, discorda que o Sistema Adutor Orós-Feiticeiro tenha ficado no
meio do caminho: "O projeto inicial foi realizado, mas hoje, com o projeto
Malha D'água, do governo do Estado, pode haver uma tubulação nova até o
Feiticeiro".
O pastor evangélico Antônio Alves Araújo e o líder
comunitário José Miranda entendem que o correto teria sido a instalação de uma
rede de canos até a Estação de Tratamento de Água (ETA) de Feiticeiro.
"Teria sido bem melhor, pois não haveria todo esse problema de falta de
água. Existe o problema do desvio da água do canal para atividade
agropecuária", disse Araújo.
O Açude Pedra Branca deve secar até o fim deste mês, caso não ocorra a nova
liberação de água do Orós, que acumula apenas 8,28% de sua capacidade. Caso
isso ocorra, haverá colapso de água também no distrito de Nova Floresta, que já
dispõe de uma adutora. A salvação tem sido um poço de Jacó, cavado em 2017.
Na semana passada, houve reunião entre a direção do SAAE, o
prefeito de Jaguaribe, José Abner Diógenes, e a Cogerh com o objetivo de
encontrar uma solução emergencial para a crise de desabastecimento em
Feiticeiro. A ideia é implantar uma adutora de cerca de 10Km, a partir do sistema
de captação do Açude Pedra Branca.
"Houve uma parceria entre o governo do Estado e a
Prefeitura de Jaguaribe", explicou Ronaldo Nunes. "A Cogerh vai
adquirir os canos e o SAAE vai cavar e instalação da rede". Nunes acredita
que a obra deve estar concluída em 60 dias. Já Almeida pondera a necessidade de
prazo para conclusão do processo de licitação na Procuradoria Geral do Estado
(PGE) para a compra dos canos. "Não temos como definir um prazo, mas estamos
cobrando agilidade. Agora a prioridade é o abastecimento humano e dessedentação
animal", disse.
O trecho entre os açudes Croatá e Pedra Branca e o ponto de
captação para a instalação da adutora precisa ser corrigido para eliminar
barreiras. A ideia é fazer valas para possibilitar a água escorrer.
"Estamos aguardando a chegada de máquinas".
Desvios
Não é de hoje que há queixas de desvios de água que deveria
chegar à localidade de Feiticeiro.
Quando o Orós apresentava um maior volume e liberava mais
água no canal adutor e no leito do riacho, muitos produtores aproveitavam para
ampliar áreas de cultivos de capim e grãos. Houve até a instalação de um
balneário no Açude Croatá. Compete à Cogerh a fiscalização do uso indevido da
água, observar limites de área de plantio e do seu uso. "Infelizmente, a fiscalização
da Cogerh é precária diante da falta de estrutura", observou Paulo Landim,
integrante do Comitê da Bacia do Alto Jaguaribe. "O Orós acaba liberando
mais água por causa dos desvios". Ao longo do canal adutor, é visível a
instalação de canos, mangueiras e de bombas.
Fonte: Diário do Nordeste
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