Júlio César Braga da Costa foi
condenado a 16 anos de reclusão em julgamento realizado nesta terça-feira (23),
no Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza. Ele é o sexto acusado pela morte da
travesti Dandara dos Santos, que ocorreu em 15 de fevereiro de 2017.
O júri decidiu pela culpa de
Júlio César por homicídio triplamente qualificado, por motivo torpe, meio cruel
e recurso que impossibilitou a defesa da vítima. Foram acolhidas todas as
qualificadoras impostas pela denúncia feita pelo Ministério Público. Ele foi
absolvido pelo crime de corrupção de menores.
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morta a tiros no Ceará, diz secretário
A pena será cumprida inicialmente
em regime fechado. A Defesa tem prazo legal de cinco dias para recorrer.
Dandara, então com 42 anos, foi
morta no dia 15 de fevereiro de 2017, no Bairro Bom Jardim, espancada e
baleada. Os assassinos gravaram um vídeo que circulou nas redes sociais
mostrando o ataque à travesti. Ela levou chutes, pauladas e foi transportada em
um carrinho de mão a outro ponto da via onde recebeu tiros.
Durante o julgamento, Júlio César
confessou ter participado do linchamento de Dandara. "Cheguei e me deparei
com o acontecimento. Nunca tinha visto a vítima. A população disse que Dandara
tava roubando nas proximidades. Fiquei olhando, não me aguentei e participei do
linchamento. Dei dois chutes. Fui até a esquina e depois fui para a minha
casa", relatou.
Ele chegou a se desculpar com a
família de Dandara durante o depoimento diante do júri. "Não tive intenção
de matar, nem executar. Tinha consciência que tava fazendo mal a ela. Peço
desculpas à família. Eu errei", falou.
O promotor Marcus Renan Palácio,
do Ministério Público do Ceará (MPCE), afirma que Júlio César deu dois chutes
na cabeça de Dandara e a pegou pelos pés para jogar em cima do carrinho de mão.
Para o representante da acusação, as agressões são suficientes para condenar o
réu por homicídio.
"A participação do Júlio
César não se apresenta divorciada do comportamento dos agentes que cometeram
esse crime. O Ministério Público não tem a menor dúvida de que ele será
igualmente condenado, a exemplo dos outros cinco já julgados, em abril
passado", afirmou o promotor.
Já a defesa do réu, representada
pelo advogado Sérgio Ângelo, alega que o cliente não participou do assassinato
e deveria ser condenado por lesão corporal gravíssima, o que reduziria a pena
máxima de 30 para 8 anos. "A tese da defesa é negativa de autoria. Como
mostra o laudo médico, a morte foi em decorrência do disparo de arma de
fogo", justifica o advogado.
Outros condenados
Os cinco outros réus condenados
totalizaram 83 anos de prisão, se somadas as penas. Francisco José Monteiro de
Oliveira Júnior, o 'Chupa Cabra', foi punido com 21 anos de reclusão; Jean
Victor Silva Oliveira e Francisco Gabriel Campos dos Reis, o 'Didi' ou 'Gigia',
com 16 anos; Rafael Alves da Silva Paiva, o 'Buiú', com 15 anos; e Isaías da
Silva Camurça, o 'Zazá', com 14 anos. Quatro adolescentes foram apreendidos por
participação no assassinato da travesti e cumprem medidas socioeducativas,
determinadas por uma Vara da Infância e da Juventude.
Entretanto, dois denunciados pelo
crime não foram localizados pela polícia durante um ano e oito meses de
investigação pela Polícia Civil: Francisco Wellinton Teles e Jonathan Wiliam
Souza Silva. A liberdade da dupla revolta a mãe da vítima. "Ainda não foi
feita Justiça", considera Francisca.
"O Ministério Público se
ressente que a Polícia do Ceará ainda não tenha tido condições de capturar
esses dois acusados. Penso eu, pelas condições econômicas, financeiras, e
sociais deles, que permanecem no Interior do Ceará ou na Região Metropolitana
de Fortaleza", lamenta o promotor Marcus Renan.
Por Ranniery Melo, G1 CE
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