Os sucessivos anos de chuvas
abaixo da média provocaram o esvaziamento do Açude do Governo, como é conhecido
o reservatório construído na década de 1880, pelos escravos, no Distrito de
José de Alencar, zona rural de Iguatu, na região Centro-Sul do Ceará. A antiga
parede de pedra e cal ressurgiu. O chão rachado é uma mostra clara da seca que
castiga o sertão cearense desde o ano de 2013.
Até hoje, não há denominação
oficial do reservatório, que passou a ser conhecido ao longo de décadas, por
Açude do Governo. Foi uma das primeiras obras públicas edificadas no Município
de Iguatu, concluída em 1888, há exatos 130 anos, por mão de obra escrava. O
objetivo, após seguidos anos de seca no fim do século XIX, que castigaram o
Ceará, era assegurar reserva de água para as famílias do Distrito de José
Alencar e possibilitar a irrigação a partir do barramento do Riacho Carnaúba.
É uma obra simples de engenharia,
mas que foi feita com muitas dificuldades na época, sem uso de equipamentos. O
trabalho exigiu esforço manual: transporte de pedras, cal, em caixas de madeira
e em lombo de animais. "Em 1888 foi concluído e o serviço foi feito por
escravos", observa o professor de História, Marcos Oliveira. "É uma
das primeiras obras de açudagem realizadas no sertão cearense e que mais tarde,
ao longo do século XX, seriam intensificadas, a exemplo de outros reservatórios
como Cedro, Lima Campos, Feiticeiro e Orós".
Em 1950, o governo do Estado com
apoio do governo federal construiu uma segunda parede, distante cerca de 30
metros da primeira, em pedra e cimento. Mais alta, ampliou a capacidade do
reservatório para 10 milhões de metros cúbicos, assegurando maior oferta de
água para os produtores rurais ao longo do Riacho da Carnaúba. Com o passar do
tempo, o açude sofreu assoreamento e diminuição de seu volume inicial.
Camadas
O ressurgimento da antiga parede
atrai visitantes e curiosos, que ficam admirados com a obra simples, da
manutenção das pedras, fincadas, lado a lado, formando camadas, que se
sustentam com o passar do tempo. O paredão tem cerca de seis metros de largura.
No lado que represa a água tem corte linear, mas na face oposta apresenta forma
triangular. "A parede continua intacta, firme", observa o morador,
Deurian de Araújo, que não esconde o sentimento de tristeza ao ver o açude
totalmente seco. "A gente pescava, havia produção, mas agora tudo
acabou".
Esse é o sentimento dos moradores
do lugar. Os agricultores estão desolados. "Esse açude, segundo os mais
velhos, secou a primeira vez, em 1983, mas dizem que ainda ficou um poço, que
as pessoas tiravam água para beber, mas agora está tudo seco", lamentou o
agricultor Pedro Souza.
O misto de história, beleza
singela da parede de pedras expostas e a seca que castiga a região trazendo
dificuldades para os produtores rurais e moradores compõem a realidade atual.
"Dá um aperto no coração ver o açude secar desse jeito", pontuou
Deurian Araújo. Na bacia do reservatório, há cerca de uma dezena de canoas,
abandonadas.
Fonte: Diário do Nordeste
Nenhum comentário:
Postar um comentário