Nas várzeas do açude Orós, o segundo maior do Ceará, na
região Centro-Sul cearense, as máquinas e agricultores estão no campo
concluindo a colheita de arroz irrigado. Diante do baixo nível de água no
reservatório, desde 2015 está ocorrendo uma redução drástica da área de
cultivo. Neste ano, chegou a 95%. Os produtores estimam também queda de 30% na
safra em decorrência do ataque de lagarta.
O açude Orós acumula atualmente 5,5% de acordo com o Portal
Hidrológico da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). As águas
estão distantes das tradicionais áreas de cultivo, localizadas nos municípios
de Iguatu e Quixelô. Em 2014, o reservatório acumulava 50% de sua capacidade
hídrica.
Produção
O cultivo irrigado nas várzeas do Orós ocorre no segundo
semestre de cada ano, período em que dificilmente haverá chuvas e risco de a
lavoura ser encoberta pelas águas. A colheita geralmente é iniciada em dezembro
e concluída em janeiro. Durante a quadra chuvosa não há, portanto, produção da
cultura de arroz.
O agricultor José Pereira enfrentou as dificuldades para
manter a produção na atual safra (2018/2019). Ele lamentou que as águas se
distanciaram muito, trazendo obstáculos para a transferência do recurso hídrico
por meio de bombeamento a partir do Rio Jaguaribe para as áreas de cultivo da
rizicultura. "Aqui, onde estamos, a água estaria em uma altura de 20
metros, se o açude tivesse acima do meio", observou.
"Fiz o plantio para não ficar parado, mas a produção
caiu demais".
Os agricultores reclamam do ataque de lagarta e de outras
pragas mais comuns à atividade. Na localidade de Currais Novos, no município de
Quixelô, a queda de produção é estimada em cerca de 30%. Esperava-se uma
produtividade de 4.000 kg de arroz por hectare, mas neste ano caiu para 2.700
kg.
"Já fomos uma das áreas de maior produção de arroz
irrigado no Ceará, nas várzeas do Orós e do Rio Jaguaribe, mas a atividade
enfrenta séria crise", pontuou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Iguatu, Evanilson Saraiva. "Se o açude não receber recarga neste
ano, a produção será paralisada, com certeza". Saraiva mostrou que a água
está distante mais de 5 km das tradicionais áreas de plantação da cultura.
A construção do reservatório foi concluída no início da
década de 1960, mas foi nos anos de 1970 a 1990 que houve uma expansão do
plantio de arroz, em áreas localizadas nos municípios de Iguatu e de Quixelô. A
atividade gerou trabalho e renda, na região.
Já no século atual, a produção de arroz foi mantida, mas
sofreu revés em decorrência do elevado custo de produção, necessidade de
consumo elevado de água e queda no preço, fatores que inviabilizaram a
continuidade do cultivo em larga escala.
Seca
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguatu estima que a
área de 300 hectares, que foi cultivada em 2014, quando o Orós acumulava cerca
de 50%, reduziu-se para cerca de 60 hectares. A produção esperada para a atual
safra é de apenas 150 toneladas.
O produtor rural, Marconi da Silva, acostumado há décadas a
produzir arroz irrigado na bacia do Orós desistiu da atividade. "Não
compensa porque a gente não tem capital, precisa pegar dinheiro emprestado,
pagando juros, para comprar sementes, veneno e o óleo para o trator e motor de
irrigação", explicou. "No fim, a conta fica devedora".
Fonte: Diário do Nordeste
Nenhum comentário:
Postar um comentário