Completadas duas semanas de ataques das facções criminosas no Ceará, o governador Camilo Santana (PT) trabalha, agora, visando ao pós-crise. Nos últimos dias, a intensidade dos ataques vem perdendo força. O apoio da Força Nacional de Segurança, a chegada de policiais de estados vizinhos e as medidas adotadas pelo Executivo, após aprovação das mensagens na Assembleia Legislativa, foram elementos que protagonizaram a reação estadual à onda de insegurança. Camilo, porém, atua para ampliar estratégias, abrindo caminho para que algumas possam ser utilizadas, inclusive, a longo prazo.
Nesta quinta-feira (17), em encontro com o ministro da Justiça, Sérgio Moro, em Brasília, o governador pediu reforço de 90 agentes penitenciários e a manutenção da presença da Força Nacional no Estado por tempo indeterminado, para impedir mais reações nas próximas semanas com a manutenção da agenda repressiva às facções nas penitenciárias.
"Eu coloquei a necessidade de manter sem limite de data a presença da Força Nacional", declarou após o encontro com o ministro. A intenção do Governo é manter o Estado em alerta mesmo com a queda nos números relativos aos ataques criminosos.
A previsão é justificada pelo discurso de Camilo, que prometeu, em coletiva, manter o cerco contra líderes de organizações criminosas. "Vamos continuar mantendo ações dentro do sistema prisional, transferindo líderes para presídios federais. Isso é preciso para manter o Estado em alerta, de prevenção. Por isso que vim tratar para manter a Força Nacional e aumento de agentes penitenciários de outros estados, mais experientes, para ajudar no controle do sistema", argumentou.
Além das duas demandas ao Palácio do Planalto, o governador aposta na inteligência para enfraquecer os grupos que têm ganhado força nos últimos anos, principalmente na região Nordeste.
Inteligência
Para o petista, a inauguração do Centro de Inteligência do Nordeste no Ceará, que tem a integração de todos os estados nordestinos, vai funcionar como um identificador do crime. O equipamento pretende rastrear os passos e articulações de grupos criminosos que se originaram em São Paulo e no Rio de Janeiro, e que se alastraram no resto do País.
"A gente tem mantido contato permanente não só com o ministro (Sérgio) Moro, mas também com o ministro da Defesa. Então, temos tido apoio da Força Nacional, dos agentes penitenciários federais, (o recebimento) de vagas do sistema federal... Transferimos 39 líderes de grupos (criminosos). Essa parceria é importante. Nenhum Estado sozinho vai combater o crime organizado. É preciso uma pactuação", enfatizou.
Liderando o diálogo dos governadores na pauta da segurança pública com o Planalto, Camilo cobrou do Congresso Nacional respostas para agendas que são de responsabilidade do Parlamento.
Reunido com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na última segunda-feira (14), o governador pediu que as pautas que envolvem a resistência aos grupos criminosos sejam colocadas como prioridade.
É o presidente da Câmara quem tem a responsabilidade de pautar os assuntos para serem discutidos e votados no plenário da Casa. Camilo, inclusive, chegou a defender o nome de Maia, em entrevista à Globo News, na última quarta-feira (16), para se manter no cargo de presidente.
"O crime se transnacionalizou. O Brasil deu um passo na criação do Susp (Sistema Único de Segurança Pública), agora tem um fundo, novas leis. Precisam rever leis no Congresso, como a lei antiterrorismo, progressão de pena... Algumas questões precisam ser vistas no Congresso, inclusive o presidente da Câmara, se reeleito, pretende colocar em pauta prioritária no Congresso. Há uma necessidade de o Brasil aproveitar essa ferramenta e colocar em prática, convocar atores, como governadores, prefeitos, Poder Judiciário", afirmou Camilo.
Medidas internas
Como forma de demonstrar que o Estado tem o controle da crise, Camilo tem apostado em medidas internas para que a Secretaria de Administração Penitenciária consiga executar a lei. Uma delas é a apreensão de equipamentos como TVs e celulares dos detentos. De acordo com relatório entregue aos ministérios da Justiça e Defesa, foram apreendidos 1.200 aparelhos de TV e 1.300 celulares no Ceará.
As ações também envolvem a convocação de militares da reserva para o serviço ativo da Polícia Militar, a retirada dos policiais lotados nas áreas administrativas para o reforço nas ruas, o fechamento de 67 cadeias públicas do interior e transferência de internos para as principais unidades prisionais do Estado, além de outras ações que devem surtir efeito a curto e médio prazos.
Fonte: Diário do Nordeste
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