Os pequenos reservatórios secaram ou estão em situação
hídrica de volume morto. A queda nas reservas traz dificuldades de
abastecimento para sedes de distritos e centenas de localidades rurais. As
últimas chuvas, verificadas ao longo de dezembro, não foram suficientes para
recargas substanciais dos açudes.
A população de dois distritos populosos, Nova Floresta e
Feiticeiro, na zona rural de Jaguaribe, na região Centro-Sul do Estado,
enfrenta crise de abastecimento que tende a se agravar nos próximos meses, caso
não ocorra recarga no segundo maior açude do Ceará, o Orós, que está com apenas
5,8% de sua capacidade. Recentemente, as comunidades ficaram cinco dias
seguidos sem água.
A dona de casa Francisca Melo diz que há vários meses os
moradores de Feiticeiro sofrem com a escassez de água. "Além de faltar, a qualidade
é muito ruim, está cada vez pior". "Aqui, o problema é muito grave,
temos de comprar água para todos os usos", complementa. Em Nova Floresta,
a comerciária Lúcia Lima também questiona a qualidade. "Além de ser pouca,
a cada liberação do Orós, a água chega pior, muito amarela e com cheiro de
lama".
"Dependemos de liberação de água do Orós", explicou
o diretor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Jaguaribe, Ronaldo
Nunes. "As dificuldades estão cada vez maiores e, se o inverno não for bom,
a situação tende a piorar". Nunes explicou que a adutora que vai
transferir água para a sede do distrito de Feiticeiro está em fase de
conclusão. "Essa solução depende, entretanto, do Orós".
Há um sistema de transferência de água, por meio de rede de
canos e canal, a partir do Orós até o açude Croatá para abastecer as sedes dos
distritos de Nova Floresta e Feiticeiro, além de outras localidades rurais.
Recentemente, uma empresa contratada pela Companhia de Gestão dos Recursos
Hídricos (Cogerh) fez drenagem e limpeza do riacho Feiticeiro para melhor
escoamento da água.
O gerente regional da Cogerh, Anatarino Torres, explicou que
os técnicos fazem o monitoramento do nível do açude Pedra Branca, após o
reservatório do Croatá. "Quando o nível está reduzido a gente libera água
do Orós e a próxima operação deve ocorrer em 15 dias", explicou. "Se
o Orós não tiver recarga, a situação vai piorar. O sistema hidráulico pode
ficar impossibilitado de operar", completou.
Anatarino Torres disse que a preocupação maior é com as sedes
urbanas de Iguatu, Acopiara, Quixelô e Parambu, que podem enfrentar crises
sérias a partir do segundo semestre de 2019, caso não ocorram recargas nos
açudes Trussu e Facundo.
As dificuldades das comunidades rurais precisam ser
enfrentadas pelas prefeituras, explicou Anatarino. Um exemplo vem do distrito
de São José, em Saboeiro. O açude da comunidade secou e os moradores precisam
comprar água para o consumo. "A nossa situação é triste, estamos há mais
de duas semanas sem água, e o caminhão-pipa não aparece", disse o
agricultor Francisco Gomes.
As famílias de São José fazem um apelo para que a Prefeitura
envie carro-pipa para atender, pelo menos em parte, a demanda. O reservatório
acumula um pouco de água misturada com lama e alguns moradores fazem pequenas
cacimbas para tentar retirar o recurso hídrico.
Preocupação
O açude Trussu, localizado no distrito de Suassurana, zona
rural de Iguatu é estratégico para o abastecimento das cidades de Iguatu (100
mil habitantes) e Acopiara (54 mil). O reservatório acumula 4,3% e desde 2012
vem perdendo volume. Diariamente, cerca de 50 caminhões-pipa retiram água do
reservatório para atender à demanda por água de milhares de famílias em
centenas de localidades rurais nos municípios de Acopiara, Mombaça, Piquet
Carneiro e Deputado Irapuan Pinheiro, no Centro-Sul do Estado.
Até o início da quadra chuvosa (fevereiro a maio) o
reservatório deve ter o volume em torno de 3%. "As chuvas ocorridas no fim
de novembro e início de dezembro do ano passado contribuíram para reduzir a
evaporação no Trussu, o tempo ficou nublado, por mais dias, e ganhamos mais um
tempo", observou Anatarino Torres. O problema, entretanto, não é apenas o
volume acumulado, mas a qualidade ruim da água.
Atualmente, o Saae de Iguatu já investe mais recursos para
tratamento e distribuição do recurso hídrico à população. Porém, a água que
chega às torneiras já está amarelada e, com o passar dos meses, a situação
tende a se agravar.
O superintendente do Saae, Tácido Cavalcante, explicou que
estão sendo elaborados projetos alternativos caso o açude não obtenha recarga
no próximo período invernoso. "Vamos perfurar poços, fazer um reservatório
escavado e injetar água do aquífero Julião diretamente na adutora do
Trussu", explicou. "Outra alternativa é a perfuração de mais poços
rasos no leito do Rio Jaguaribe e a transferência de água por meio de uma
adutora nova de 2 km até a Estação de Tratamento de Água (ETA) (do bairro)
Cocobó do Saae".
Na cidade de Acopiara a população já sofre com a escassez de
água no sistema de abastecimento local. A adutora que transfere água do Trussu
apresenta problemas constantes e a reduzida vazão é insuficiente para atender à
demanda dos moradores que é sempre crescente.
Fonte: Diário do Nordeste
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