O motorista do aplicativo 99 Pop
Patrick Carneiro do Nascimento, preso por cometer crimes sexuais contra várias
clientes em Fortaleza, foi condenado a 14 anos e 4 meses de reclusão,
inicialmente em regime fechado, pelos crimes de estupro e roubo, pela 3ª Vara
Criminal da Justiça Estadual.
A sentença, que também decretava a
prisão preventiva do acusado, foi proferida pelo juiz no dia 6 de maio último,
mas não foi divulgada porque o processo está sob sigilo de Justiça. A defesa -
realizada pela Defensoria Pública Geral do Estado - recorreu da condenação, mas
o recurso ainda não foi julgado, conforme informações do Tribunal de Justiça do
Ceará (TJCE).
A reportagem apurou que Patrick
responde a mais quatro ações penais no TJCE, que tramitam na 7ª, na 14ª, na 15ª
e na 16ª Varas Criminais. Duas delas são por estupro e roubo; uma por estupro;
e outra por estelionato. Um dos casos já está pronto para ser julgado. Enquanto
isso, ele permanece em uma unidade prisional, no Município de Itaitinga.
A detenção e a condenação do
motorista de aplicativo amenizam a dor de Thaís (nome fictício), vítima em um
dos processos que corre na Justiça Estadual. "Já abriu um caminho, já me
sinto um pouco mais segura", afirma. Thaís teve a vida social modificada
após aquela corrida que terminou no destino errado, no ano passado. "É
muito complicado para mim andar só, não consigo confiar em mais nenhum
motorista. Para o trabalho, consigo ir de transporte público. Mas para sair à
noite, eu não pego mais aplicativo. Eu fico dentro de casa porque não saio, não
vejo mais minhas amigas", revela.
A mulher pede para não falar sobre o
dia em que ela foi vítima de estupro. "Eu tenho que ter acompanhamento
(psicológico), mas nunca tive como continuar, por problema financeiro e falta
de tempo", lamenta. O crime sexual afetou a família dela também: o pai
fica nervoso sempre que a filha sai de casa; enquanto o irmão teve que sair do
trabalho, logo após o caso, para ajudar a irmã no recomeço.
Repetição
O promotor Marcos William, do
Ministério Público do Ceará (MPCE), responsável pela acusação ao réu no
processo que tramita na 16ª Vara, acredita que o número de vítimas de Patrick
do Nascimento é maior do que a Justiça conhece. "Provavelmente, tivemos
outros casos, em que a vítima não procurou a Polícia. Muitas vítimas não têm
coragem de fazer a denúncia. Só depois que os outros casos vieram à tona, ela
veio denunciar, cinco meses depois", comenta, ao se referir à ação penal
em que elaborou a denúncia.
O motorista do aplicativo 99 Pop
repetia o 'modus operandi' nos crimes sexuais, na Capital. "Ele usava
outro nome no aplicativo. As passageiras pediam a corrida, ele levava para as
proximidades do bairro Dunas, as estuprava e subtraia, mediante violência,
objetos das vítimas, dinheiro, celular, geralmente à noite", conta o promotor.
Após o estupro sofrido por Thaís, os
seus familiares perceberam que a placa do veículo que Patrick dirigia era
diferente das informações do aplicativo. "A placa era de uma moto. Como
ela estava sem internet, só deu tempo de ela chamar o carro. Quando chegou, ela
não conferiu placa nem nada. No bairro Dunas, tem uma bifurcação escura. Ele
parou o carro, cometeu o abuso, bateu nela e mandou sair do carro. Ela procurou
um condomínio perto e pediu ajuda", detalha um parente, que não quis se
identificar.
Assistência
Thaís e os familiares reclamam que a
99 Pop nunca os procurou para oferecer qualquer tipo de ajuda e já os processou
por danos morais - ação pela qual a empresa ainda será intimada.
A 99 Pop, em nota, afirmou que
"lamenta profundamente os graves casos de violência ocorridos em 2018, em
Fortaleza, envolvendo um motorista cadastrado na plataforma". Disse ainda
que "baniu o condutor do aplicativo e colaborou ativamente com as
autoridades nas investigações".
A empresa afirma ter adotado medidas
para aumentar a segurança das corridas, como "a revisão do processo de
cadastro de novos motoristas e a reanálise presencial de 100% da documentação
dos condutores ativos na plataforma". Além disso, a 99 Pop lançou recursos
de segurança como reconhecimento facial que identifica os motoristas antes de
eles se conectarem ao app e algoritmo que rastreia denúncias de assédio e
estupro deixadas nos comentários das corridas.
Sobre a denúncia de não ter prestado
apoio à vítima, a empresa disse que manteve contato no período e ofereceu
auxílio às famílias, que inclui informações sobre como obter o seguro que cobre
acidentes pessoais dos usuários da plataforma. O aplicativo informou que a
vítima e a família não realizaram a ativação do seguro.
Fonte: Diário do Nordeste
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