sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Caso Jamile :Advogado cobrou aluguel de imóveis da namorada morta


A empresária Jamile de Oliveira Correia ainda estava em estado grave no hospital lutando pela vida no dia 30 de agosto, enquanto o advogado Aldemir Pessoa Júnior, apontado pela Polícia como suspeito da morte da então namorada, usava o telefone dela para responder mensagens das amigas. Logo após a morte, nos dias 31 de agosto e 2 de setembro, ele continuou usando o aparelho de Jamile, mas agora para cobrar aluguel de imóveis de propriedade dela.

Um dos inquilinos procurados por Aldemir conversou com a reportagem, mas pediu para não ser identificado por temer represálias. Ele contou ter recebido uma ligação do namorado de Jamile às 8h50 do dia que ela morreu, pouco mais de uma hora depois do óbito. "Quando ouvi a voz dele, achei estranho porque sempre tratava com ela sobre isso. Ele perguntou quando eu ia fazer o depósito referente ao aluguel. Eu respondi que ia resolver com a Jamile".

No entanto, conforme a testemunha, Aldemir não parou por aí. Fez novas ligações do número da empresária e depois usou outro celular para cobrar R$ 1 mil. "Ele não contou que ela estava morta. Disse que ela estava depressiva e internada. Nesse momento, eu já tinha tomado conhecimento (da morte) por intermédio de outra pessoa, mas fiz de conta que não sabia. Ele ligou umas três vezes cobrando, mas eu não depositei e não falei mais com ele", contou.

Mensagens

Já a dona de uma imobiliária que administra dois imóveis da vítima prestou depoimento no último dia 25. A reportagem do Sistema Verdes Mares teve acesso aos detalhes do que a mulher falou à Polícia Civil. Ela descreveu detalhadamente as ações praticadas por Aldemir.

Conforme a testemunha, no dia 30 de agosto, às 9h39, ela mandou mensagens para o celular de Jamile com comprovante de depósito no valor de R$ 3 mil. No mesmo dia, às 11h25, enviou nova mensagem para o aparelho da empresária, dessa vez para convidar o filho de Jamile para um aniversário. Nos horários das mensagens, a empresária estava internada em estado gravíssimo no Instituto Doutor José Frota. Mesmo assim, às 14h50, uma mensagem do celular de Jamile chegou para a mulher respondendo ao convite do aniversário. "Ok, que horas?", a testemunha respondeu: "7h da noite, estou com saudade de você, linda". O celular de Jamile responde: "ok, beijos".

A dona da imobiliária contou que foi ao velório de Jamile, mas não falou com Aldemir ou com o filho da empresária. No dia 2 deste mês, um dia após o enterro, ela afirma que recebeu uma ligação do celular de Jamile e se assustou. Era o filho de Jamile dizendo que uma pessoa iria conversar com ela e passou o telefone para Aldemir.

O advogado disse: "Eu estou com o A. (filho da vítima) e vou continuar com ele porque é o que ele quer. Vou lhe indicar uma conta para que você faça os próximos repasses, porque nós temos condomínio para pagar e é tudo muito caro".

A mulher disse a Aldemir que não podia fazer isso sem consultar o departamento jurídico da empresa. Aldemir teria dito pra ela falar com o marido dela, que também é advogado. Ela disse que faria isso e depois desligou. A testemunha contou que depois desse dia não manteve mais contato com Aldemir. Ela apresentou à Polícia Civil imagens das conversas do celular.

A reportagem tentou entrar em contato com a defesa de Aldemir Pessoa Júnior, mas, até a noite de ontem, não teve as ligações atendidas. A Polícia Civil do Ceará chegou a pedir a prisão temporária do suspeito, mas a Justiça negou alegando que não havia motivo suficiente para mantê-lo sob custódia.

Diário do Nordeste

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