terça-feira, 10 de setembro de 2019

Castanhão tem o segundo pior volume para setembro da história


O açude Castanhão foi edificado em 2003 com o objetivo de garantir segurança hídrica para cidades do Vale do Jaguaribe e também da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), incluindo o Complexo Industrial e Portuário do Pecém. O número de pessoas beneficiadas com o imponente reservatório ultrapassou, nos anos seguintes, a ordem dos 2,5 milhões de habitantes. Hoje, contudo, a realidade do maior açude do Estado é antagônica à sua grandeza de outrora.

Neste mês, o açude atingiu o segundo pior volume hídrico (4,48%) para setembro desde sua construção - que durou quase oito anos - ficando à frente apenas de setembro de 2017, quando a Companhia de Gestão dos Recursos Híricos (Cogerh) registrara 4,34% de sua capacidade máxima.

O baixo volume de água do reservatório decorre do reduzido aporte verificado na quadra chuvosa deste ano, na Bacia do Salgado, que garantiu valor ínfimo ao gigante. Nesta quadra, o Castanhão teve ganho de apenas 5% de seu volume.

No ano passado, mesmo com menos pluviometria registrada pela Funceme, foram 8% de recarga hídrica conquistados ao longo do período de chuvas. A explicação para este cenário contrastante reside na irregularidade das chuvas. Apesar de, em 2019, ter chovido acima da média histórica, a pluviometria não foi uniforme, isto é, algumas bacias tiveram bons volumes enquanto outras - como a do Salgado - amargaram poucas precipitações.

Impactos

Até o ano passado, o Castanhão assegurava o fornecimento do recurso hídrico através do Eixão das Águas para a RMF, incluindo o consumo do Porto do Pecém, em São Gonçalo do Amarante, e para mais dez cidades do Médio e Baixo Jaguaribe. Entretanto, neste ano, o quadro se modificou. A RMF parou de ser abastecida pelo Castanhão, e cidades do Médio e Baixo Jaguaribe, que dependem da transferência de água, já se veem ameaçadas. Para a Grande Fortaleza, os efeitos, num primeiro momento, não serão tão graves, isso porque a Bacia Metropolitana recebeu boa recarga e, hoje, acumula mais de 53% do volume total.

O diretor de Operações da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) para o Interior, Hélder Cortez, confirmou que a interrupção no fornecimento de água do Castanhão para a RMF não afetará a população. "Temos bastante água nos açudes Pacoti, Riachão, Gavião e em outros reservatórios da região. Essa reserva é suficiente para atender à demanda até junho de 2020", pontuou.

Cortez ressalta, contudo, ser vital uma boa recarga nos grandes açudes na próxima quadra chuvosa para que o cenário não se torne delicado. Para além da incógnita, os cearenses se apegam à conclusão do Projeto de Integração do Rio São Francisco (Psif). Após sete prazos não cumpridos, a expectativa, agora, é de que as águas do Velho Chico cheguem ao Castanhão no primeiro trimestre de 2020. Quando concretizada, a Transposição dará segurança hídrica a 12 milhões de nordestinos.

Além da suspensão no abastecimento da RMF, houve redução também no quantitativo de municípios atendidos pelo Castanhão. Atualmente, apenas cinco recebem água do reservatório: Tabuleiro do Norte, São João do Jaguaribe, Limoeiro do Norte, Jaguaribara e Russas. Essas cidades têm vazão garantida até 1º de fevereiro do próximo ano.

O gerente da Bacia do Médio e Baixo Jaguaribe, Hermilson Barros, frisou que há um esforço para que a água liberada pelo Castanhão chegue também até o Rio Sucurujuba, em Quixeré, o que beneficiaria a população daquela cidade. Segundo estimativa da Cogerh, mantida a liberação para estas localidades, o Açude deverá iniciar a próxima quadra chuvosa (fevereiro) com 2,5% de sua capacidade. Em igual período deste ano, o reservatório tinha 3,75%.

Alternativas

As cidades de Aracati, Fortim, Itaiçaba, Palhano, Russas e Quixeré, que antes dependiam de liberação de água do Castanhão agora são abastecidas por poços profundos. Essa alternativa de abastecimento, segundo Hélder Cortez, garante autonomia hídrica para estes municípios por mais três anos. Outras cidades da região, como Iracema e Potiretama, estão sendo abastecidas pelos açudes Canafístula e Figueiredo, respectivamente. "O volume de água acumulado nesses açudes é suficiente apenas até o início da próxima quadra", detalhou Cortez.

Já para os projetos de irrigação, Tabuleiro de Russas e Jaguaribe/Apodi estão recebendo cota mínima (1,2 m³/s) para manter a produção de grãos e fruticultura. A vazão é suficiente apenas para que não ocorra perda total na atividade. Em Jaguaribara, por exemplo, a piscicultura não resistiu ao baixo volume do Açude e chegou ao fim após sucessivas e robustas mortandades de peixes, deixando centenas de desempregados e um rombo na economia da cidade.

Semelhança

Se o maior Açude do Estado padece com o baixo volume hídrico, o seu sucessor também caminha no mesmo rumo. O Orós - segundo maior reservatório do Ceará, com 2,1 bilhões de m³ de água - atingiu o seu pior volume de água para o mês de setembro de toda a história. O reservatório acumula apenas 7,59% de sua capacidade máxima. O diminuto índice não impactou, ainda, no abastecimento das cidades de seu entorno que se valem de poços profundos, adutoras de montagem rápida e pequenos e médios açudes. Porém, a economia local foi afetada sobremaneira.

Se em Jaguaribara a baixa no Castanhão resultou no fim da piscicultura, em Orós ocorreu o fim dos criatórios intensivos de tilápia, além da impossibilidade de irrigação.

Para esses açudes responsáveis pelo abastecimento de um amplo contingente de pessoas, o presidente da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), João Lúcio Farias, avalia que se faz necessário que eles atinjam, ao fim do período chuvoso, volume médio de 20% a 25%. Esse percentual daria segurança para os reservatórios perpassarem o segundo semestre do ano de forma segura e sem alterar o abastecimento das cidades.

Ceará

Dos 155 açudes públicos cearenses monitorados pela Cogerh, apenas 16 atingiram - e superaram - este número tido como adequado. A maioria deles, no entanto, está localizada nas Bacias do Acaraú, Coreaú e Curu, nas regiões Norte e Litorânea. Deste universo, apenas dois (Angicos e Gameleira) possuem capacidade máxima acima dos 50 milhões de m³. Os demais são açudes pequenos e sem grande influência para as cidades.

"As chuvas deste ano foram boas, mas localizadas em regiões onde não estão os maiores açudes. Desta forma, os grandes reservatórios não tiveram aporte suficiente", detalha o gerente da Ematerce, Erivaldo Barbosa. O engenheiro agrônomo Marciel Roberto Castro recorda que, embora o volume atual médio de todos os reservatórios do Estado esteja em 18,85% - cinco pontos percentuais a mais do que o verificado em igual período do ano passado - a situação é tão crítica quanto à de anos anteriores.

"A análise tem que ser feita sobretudo nos açudes que trazem água e renda para a população. Os pequenos (reservatórios) têm sua importância, mas os impactos, sejam eles negativos ou positivos, que eles geram, são mínimos", observa Castro. Ele corrobora sua análise listando as cidades que estão ameaçadas de colapso hídrico: Milhã, Mombaça, Monsenhor Tabosa, Pedra Branca e Pereiro. Hélder Cortez complementa classificando a última situação hídrica do Estado do Ceará como "horrível".

Diário do Nordeste

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