Minutos antes de 1h da madrugada do último dia 15 de outubro, a modelo Maria Lucilene da Silva Montenegro entrava em um veículo, na companhia do marido Francisco Hélio Batista. Naquele momento, aparentando tranquilidade - conforme imagens das câmeras de monitoramento do prédio que o casal morava - a mulher não imaginava que estava prestes a compor a lista das 26 mulheres vítimas de feminicídio no Ceará, em 2019. Às 5h24, ela já estava morta.
Segundo estatísticas da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), de janeiro a outubro do ano passado, foram registrados 23 feminicídios. Enquanto nos dez primeiros meses do ano corrente - sem outubro ter ainda sequer terminado - o índice já teve aumento de 13%.
O levantamento feito pela reportagem, a partir dos números mensais disponibilizados pela Pasta, mostra que, de janeiro de 2018 (mês em que a SSPDS passou a contabilizar feminicídios separados de outros homicídios) até hoje, 53 mulheres já foram mortas desta forma. A média é de, aproximadamente, três mulheres assassinadas por razões de gênero, a cada mês.
Estrangulamento
Dentre os feminicídios registrados neste ano, a maioria foi cometida com uso de armas brancas (18 ocorrências); enquanto seis crimes tiveram uso de arma de fogo; e dois foram provocados por outros meios. Maria Lucilene teria sido assassinada pelo marido, com o uso de um cinto de segurança do veículo do casal. Após o estrangulamento, Francisco Hélio ocultou o corpo da mulher, com a ajuda de um amigo.
O marido da vítima confessou o crime durante depoimento. De acordo com a delegada titular da 12ª Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Arlete Silveira, o homem "disse que a matou em um excesso de raiva, de ciúmes, após um telefonema".
Desaparecimento
A família da modelo chegou a registrar um Boletim de Ocorrência (B.0.) para informar o desaparecimento da vítima, na última quarta-feira (16). O corpo de Maria Lucilene foi encontrado apenas na manhã do último sábado (19), em um loteamento em Aquiraz, Região Metropolitana de Fortaleza.
Quem indicou onde o corpo de Lucilene estava foi o próprio marido da vítima, após equipes da Polícia Civil o abordarem em uma fuga, na BR-116, próximo à cidade de Jaguaribe. Os investigadores começaram a desconfiar de que ela tinha sido morta ao ouvir testemunhas.
"Ficou claro durante as investigações que aquela mulher vivia em um relacionamento abusivo. Vizinhos e familiares falaram de brigas frequentes, inclusive uma no dia anterior ao crime. Recebemos relatos de que ele teria até a agredido durante a gravidez da filha do casal", afirmou a delegada.
O amigo de Hélio foi identificado como Antônio Vanderlei Ferreira de Lima, 46. O marido da vítima já tinha antecedentes pelo crime de violência doméstica, em um relacionamento anterior, no Rio Grande do Norte. A dupla deve responder por feminicídio e ocultação de cadáver.
Diário do Nordeste
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