Na noite desta sexta-feira 18/10/19 o Comandante dos
Bombeiros do Ceará, Eduardo Holanda, concede entrevista coletiva sobre as
buscas por vítimas do Edifício Andréa, e confirma a sétima vítima na tragédia.
Com informações do Jornal o Povo.
Bombeiros retiram 7ª pessoa sem vida dos escombros do Andréa
Rosane Marques entre os pais Vicente de Paula e Izaura Marques. Secretaria de Segurança já confirmou morte de Rosane e Izaura. Vicente foi encontrado ontem (18/10), a noite nos escombros. |
Incessante, o trabalho de resgate das vítimas do desabamento
do edifício Andrea, em Fortaleza, chegou ao 5º dia neste sábado (19). Na noite
de ontem, quando já passavam de 80 horas de buscas, o Corpo de Bombeiros do
Ceará confirmou a 7ª morte decorrente da tragédia: Vicente de Paula Vasconcelos
de Menezes, de 86 anos.
Ele é esposo de Isaura Marques Menezes e pai de Rosane
Marques de Menezes, ambas encontradas mortas sob os escombros, além de avô do
primeiro resgatado com vida, Fernando Marques.
Em mais uma reviravolta nas listagens, no entanto, o
comandante da operação, o coronel Eduardo Holanda, explicou que o número de
desaparecidos foi atualizado para dois, já que uma das pessoas anteriormente
reclamadas pela família não estava no prédio e foi localizada.
Heróis anônimos: bombeiros e voluntários fazem da esperança
energia contra o cansaço
Quando Davi Sampaio pediu ao pai, pelo telefone, que 'pelo
amor de Deus chamasse os bombeiros', eles já estavam chegando lá. Não saíram.
"E não sairemos até a última pessoa, até a última vítima". É o que
diz o comandante Coronel Eduardo Holanda em todas as coletivas. Da primeira entrevista,
na terça-feira, à última da sexta, três dias após o desabamento do Edifício
Andrea, é visível o cansaço. "Cansados, todos estamos, mas revigorados com
o desejo de sucesso no resgate". Depois, virou um lema pronunciado por
cada bombeiro: não vão sair 'até a última pessoa'; 'a esperança sempre existe'.
'Há chance de vida'.
"Eles fingem que estão no automático, mas é pra poder
não parar. Eles são uns heróis", responde a psicoterapeuta Ana Tereza
(teve ontem seu primeiro dia de voluntária), depois de ver o soldado Paulino,
do Corpo de Bombeiros Militares, passar e ouvir a pergunta de outra senhora:
- Meu filho, você não se cansa não?
- A gente só vai parar quando tirar a última pessoa.
Na tarde de sexta, precisamente às 12h56, porque "cada
minuto conta", pelo menos quatro pessoas ainda estavam desaparecidas. Meia
hora antes, Paulino estava na casa de Dona Malu, 82 anos, na Travessa Benjamim,
quase esquina com a tragédia (de sua porta se podia ver o prédio por inteiro).
Pediu licença para entrar na casa da senhora com o isopor da quentinha com o
almoço: um pedaço de bisteca, arroz, feijão, salada e macarrão. "A comida,
ele quem trouxe, mas vem pra cá pra não ficar na poeira, no sol".
Sair para almoçar é fugir um pouco. Tenta. E pelo instante em
que come, Paulino sai da cena em que está há três dias, apenas com as pausas
para dormir em casa. Nunca viu uma situação dessas. "Nunca. A gente já
mexe com sinistro. Já recolhi pedaços de gente na estrada, numa romaria. Tem
três anos, resgatamos dois homens no poço lá no Siqueira. Desabamento, é a
primeira vez".
As lajes estão sobrepostas de maneira muito intensa e isso
dificulta a progressão. O estado físico de todos aqui é de cansaço e extrema energia
positiva, no afã de procurar pessoas com vida
Eduardo Holanda
Comandante do Corpo de Bombeiros Militar
Carlo, filho de Malu, aumenta o volume da televisão na
cozinha. No 'CETV', o âncora anuncia novas imagens que contradizem a versão do
engenheiro da obra sobre não ter começado a recuperar os pilares no prédio:
havia homens trabalhando minutos antes de tudo. Martelavam as colunas, deixando
as ferragens expostas. Era o prenúncio.
Paulino encerra o almoço, observa a TV, mas logo levanta da
mesa, deixa restos de comida para a cachorrinha da casa e sai de volta para os
destroços. Continuaria o trabalho de resgate com os outros bombeiros de seu
turno.
A seis metros dali, em frente ao Mercadinho Bom Jesus,
atingido pelos escombros, onde vítimas foram soterradas, o Bombeiro Militar
Alberto Couto serra com maquita uma das vigas de concreto, para tornar pedaços
grandes em pequenos a serem recolhidos com a retroescavadeira para cima do
caminhão - por dia, são mais de dez viagens até o aterro sanitário de Caucaia.
Com o entulho erguido, a poeira sobe e desaba mais uma vez no lugar.
A esperança sempre existe e a gente se agarra nela. As
orações das pessoas lá fora também estão nos ajudando
Soldado Couto
Bombeiro Militar
"Ele foi certeiro", diz, sobre o motorista que
conseguiu manobrar a máquina para tirar uma boa quantidade de entulho para
despejo. A saída do veículo é a deixa para ele continuar cortando ferro.
Com quatro anos de Bombeiro Militar, é a primeira vez de
Couto em um desabamento como esse.
- Qual o tamanho do seu cansaço? Pergunto.
- A esperança sempre existe. Ninguém aqui vai parar até a
última pessoa - com vida ou não. Mas há chance.
Esperança em mãos
Somados às dezenas dos mais diferentes agentes de resgate, os
Bombeiros Militares, permanentes no alto dos destroços, com fardamentos laranja
em contraste ao cinza de tudo, são a chance por cima da tragédia. A esperança é
carregada em baldes por várias mãos. "Usamos ferramentas de menor impacto
em locais em que a gente considere mais sensível", diz o comandante
Holanda.
Entre tantos outros que estão diretamente envolvidos na
operação de resgate, trabalham pelo menos 135 Bombeiros Militares. São de
Fortaleza e região metropolitana. Alguns com 25 anos de atuação. Outros, como
Waleska Costa, de 32 anos, está no começo. Participava de um curso de resgate
quando o desastre ocorreu. Por toda a semana, está vivendo o primeiro grande
teste, que só acaba quando encontrar a última pessoa.
Sentir o outro
Entre terços e orações, pães, sucos, massagem, um colchonete,
água ou apenas ouvidos para receber um desabafo, a rede de voluntariado que se
coloca ao redor dos destroços do Edifício Andrea, mas sobretudo em torno da
esperança de encontrar pessoas vivas, reuniu os diferentes desde o primeiro dia
de tragédia.
"Tinha que ter, realmente, muitas pessoas aqui. Para
sentir o que estou sentindo desde o primeiro dia. Sei que é ainda mais forte
para os bombeiros, os socorristas, que estão lá no trabalho mais difícil. E do
lado de fora também um trabalho lindo. Não tem como não sentir. Não tem como
pegar um pedaço de entulho, de tijolo, e não ver que tudo aquilo que a família
construiu perdeu. Principalmente as vidas, que não se recupera depois",
desabafa Yala Lepaus, 44 anos, técnica em segurança do trabalho. Ela é um dos
rostos que compõem a capa desta edição. Soma-se aos muitos anônimos em meio ao
caos em busca de calma - e vidas.
Na tarde de ontem, mais uma troca de turno da equipe da Cruz
Vermelha. Aritene chega e se emociona com as orações do grupo de mulheres
pedindo por mais boas notícias. Mais de 25 anos socorrendo vítimas, em tão
diversas situações, mas o que tira de toda experiência é que cada missão parece
a primeira.
"Isso aí, e primeiro Deus, é o que nos mantém. O que a
gente tem que pensar e fazer é acreditar que é sempre possível ter
sobrevivente. É não parar. Não parar, entendeu? Não parar".
Diário do Nordeste
Tragédia do Edifício Andréa: "Infelizmente o tempo não é
mais favorável", diz comandante dos Bombeiros sobre resgate
No quarto dia de operação de busca no Edifício Andréa, o
comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Eduardo Holanda, disse, em entrevista
coletiva na noite desta sexta-feira, 18, que o tempo não está mais favorável
para encontrar pessoas com vida sob os escombros. As buscas, porém, seguirão
até que todas as pessoas sejam localizadas. Até esta noite, sete vítimas foram
resgatadas com vida e sete mortas. Duas pessoas seguem desaparecidas.
Segundo Holanda, a possibilidade de se encontrarem pessoas
com vida sempre existe, mas “a gente precisa ser realista”. “Neste momento, o
tempo já não é mais favorável. Quanto mais tempo passa, é óbvio que a chance de
ter sobrevivente vai diminuindo. Mas isso não tira a nossa esperança de ainda
ter sobrevivente”, frisou.
“O trabalho vai até o dia que retirarmos todas as vítimas. Se
Deus quiser, ainda com vida. A gente não tem hora, não tem tempo”, disse o
comandante. A equipe continua com o mesmo poder operacional. Em torno de 135
bombeiros militares atuam, diariamente, apenas no ponto que é chamado pelas
equipes de “zona quente”, ou seja, sobre os escombros.
Nesses lugares, atuam equipes de resgate especializadas em
estruturas colapsadas e cães farejadores, além de equipamentos como drones,
utilizados na varredura da área, e uma plataforma mecânica que possibilita uma
visão elevada e central de toda a estrutura. Conforme Holanda, há duas zonas
quentes no local da tragédia.
O POVO
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