Além de estudar as águas superficiais, os órgãos públicos demonstram interesse, também, pela água acumulada no subterrâneo. Monitorar qualidade, vazão e capacidade desses reservatórios é fundamental para a segurança hídrica no Ceará.
Além dos aquíferos Julião, em Iguatu, e Jandaíra, no Vale do Jaguaribe - utilizado na irrigação da fruticultura de Limoeiro do Norte, Russas e Alto Santo, o aquífero Dunas, que fica na bacia do Curu e Litoral do Ceará apresenta boa opção de recarga. O recurso alimenta, ainda, os poços da Vila de Jericoacoara. "Com os estudos é possível conhecer a qualidade dessas águas e quantificar as reservas, saber o que já está sendo usado e o que ainda pode ser disponibilizado. Um terceiro benefício é regularizar os aquíferos via outorga", pontua a gerente de Estudos e Projetos da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), Zulene Almada.
Resultado inesperado
A Cogerh é a responsável pelo monitoramento dos aquíferos. "As águas subterrâneas no Ceará têm surpreendido. Mombaça é um exemplo que, desde 2017, vem sendo abastecido com poços", pontua Almada. A surpresa maior se dá pelas características físicas do Estado, que tem como base rochas do tipo cristalino. Neste caso, a água só fica acumulada quando há uma fratura na superfície, deixando o recurso parado e absorvendo sais minerais da rocha. Ainda assim, "alguns municípios conseguem ser abastecidos integralmente por água subterrânea, já outros, como Poranga, (na Serra da Ibiapaba) recebem uma boa parcela de contribuição", afirma.
Reserva Hídrica
Em Iguatu, o aquífero Julião, que abrange aproximadamente 1.100km², recebeu ações de limpeza e testes de vazão nos poços. "O aquífero passou a ser explorado ano passado e tem um total de nove poços. A gente acredita que ele fornece 300 mil litros de água por hora", pontua Rafael Rufino, superintendente do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) do município.
Hoje, a água é responsável por metade do abastecimento da cidade. Os outros 50% são captados de poços do leito do rio Jaguaribe. A alternativa é necessária pelo baixo acúmulo no açude Trussu, que só conta com 1,38% da capacidade. "Todo poço tem uma rotina de abastecimento e deixa de funcionar durante 4h por dia", ressalta o representante. A ação é para o reabastecimento natural do aquífero.
A quadra chuvosa deste ano será fundamental para definir a utilização do Julião nos próximos meses. "Em dado momento, a gente pode ficar com água de reserva abaixo do necessário. Estamos esperando a quadra chuvosa para ver se o Trussu chega a pelo menos 5%. Se chegar, a gente passa a ser abastecido por ele. Caso contrário, vamos ter que pensar numa ampliação do Julião", explica.
Regularização de poços
Na última semana, a Cogerh divulgou resultados relacionados ao aquífero Dunas. Em Jericoacoara, o balanço aponta para uma área de solo poroso com recargas hídricas satisfatórias. A bacia do Curu e o Litoral, onde o Dunas está localizado, foi a região hidrográfica do Estado que recebeu as melhores recargas por chuvas nos últimos anos. Os estudos na região servirão como base para investimentos no setor.
Um passo importante para realizar o balanço foi a regularização dos poços profundos. É a partir das informações coletadas neles que o aquífero é avaliado. Em 2019, 123 (79%) dos 156 poços cadastrados foram regularizados.
Apesar disso, o acesso do órgão aos equipamentos é difícil. "Nós vamos nas residências e observamos a qualidade da água. Porém, se o usuário não deixa ter acesso ao poço ou não diz que tem nós não temos como fazer o trabalho", explica o geólogo e integrante da equipe que realiza os estudos, Guilherme Filgueira. Os estudos devem ser finalizados no primeiro semestre do ano.
Fonte: Diário do Nordeste
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