A dinâmica dos crimes
violentos no Ceará vem se reconfigurando. Comparados os anos de 2018 e 2019, o
percentual de vítimas de homicídios ocorridos com o uso de arma de fogo
reduziu. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social
(SSPDS), no ano passado, 78,8% das mortes violentas aconteceram com uso desse
tipo de armamento. Em 2018, o índice era 87%. Com a redução das mortes à bala
veio o aumento dos assassinatos cometidos à faca ou outros meios, como
espancamento.
Para o secretário André Costa,
as milhares armas de fogo apreendidas no estado nos últimos anos fizeram com
que muitos criminosos deixassem de ter acesso a esse tipo de material. De 2013
a 2019 foram 43.542 apreensões de armas de fogo. Destas, 5.479 recolhidas no
último ano de 2019, sendo 33 fuzis (12 apreendidos no mês de janeiro, período
da maior sequência de ataques no Ceará).
André Costa destaca que quase
todos os fuzis apreendidos são importados dos Estados Unidos ou Rússia:
"Nós temos algumas rotas pelas quais estes fuzis entram. Dependemos muito
de informações dos órgãos federais. Existem rotas terrestres, uma muito forte é
a do Paraguai. Temos desafio grande com relação a Colômbia, e ainda a rota
marítima. Vemos alguns casos de contrabando, de navios que ingressam pelo nosso
litoral do Ceará. Esse tipo de armamento é muito perigoso e tem um alto
potencial lesivo nas mãos de criminosos", afirmou.
O professor e pesquisador do
Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará, Luiz
Fábio Paiva, considera que as políticas de Segurança Pública em curso no Ceará
evidenciam ambiguidade na dinâmica dos enfrentamentos da violência. O
especialista destaca que os números são significativos, mas as armas nas ruas
continuam sendo parte de tragédias.
"É evidente que um
esforço está sendo feito, existe um trabalho de sofisticação das operações
policiais pelo incremento de tecnologias, mas os problemas de segurança pública
persistem porque existem dimensões estruturais que continuam a gerar violência
e crime. Isto faz com que, no Ceará, apesar da redução de homicídios, os
moradores das periferias urbanas, em sua maioria pessoas negras, continuem
convivendo com grupos armados, seu mando e seus conflitos. Por isso, famílias,
neste início de 2020, choram a morte de crianças vítimas de balas perdidas
utilizadas para acertos de conta", afirmou o pesquisador.
Recompensa milionária
Cada arma de fogo apreendida
por policiais militares ou civis rende uma recompensa financeira. Em 2019, o
Governo do Ceará desembolsou R$ 1,1 milhão para pagar essas gratificações.
Também foram pagos quase R$ 63 mil de recompensa pelas apreensões de 14.213
munições; e R$ 5,1 mil pelo recolhimento de acessórios (carregador rápido de
munições, luneta e silenciador).
De acordo com secretário, o
valor pago por cada item varia conforme o tipo de objeto apreendido. Para as
armas de fogo, a recompensa vai de R$ 400 a R$ 800, sendo o maior valor
entregue em troca da apreensão de um fuzil.
“É uma forma de estimular para
que os policiais trabalhem na busca por armas. Só pagamos por armas fruto de
algum crime, armas ilegais. É uma estratégia para desarmar o criminoso, retirar
de circulação essas armas de fogo e evitar crimes mais graves”, disse o
secretário. A verba para arcar com estes custos é proveniente do Tesouro
Estadual.
Por Emanoela Campelo de Melo,
G1 CE
Nenhum comentário:
Postar um comentário