A Segurança Pública do Ceará enfrenta, diariamente, desafios para reduzir os crimes no Estado. O ano de 2019 foi encerrado com números positivos no que diz respeito aos indicadores de redução de crimes como homicídios e roubos. Os dados também mostram que a quantidade de armas de fogo apreendidas no Ceará vem caindo. O ano de 2019 foi o período com menos armas retiradas de circulação desde 2013.
De acordo com as estatísticas da Secretaria, no ano passado, houve 5.479 apreensões de armas de fogo no Estado. Em 2018, foram 7.171 recolhimentos. Quando comparados os dois anos, é percebido que houve redução de 23,59%. Mesmo com esta diminuição, se destaca o aumento de fuzis apreendidos.
No último ano, mais armas de grosso calibre foram encontradas pelas autoridades no Ceará: 33 fuzis em 2019; e 29 em 2018. A disparada nas apreensões no ano passado aconteceu durante o mês de janeiro, quando a população cearense presenciou a maior sequência de ataques já registrada. Só neste período, foram encontrados 12 fuzis.
O titular da SSPDS, André Costa, pondera que quase todos os fuzis apreendidos são importados dos Estados Unidos ou da Rússia. "Essas armas chegam, obviamente, de forma ilegal ao País. Nós temos algumas rotas pelas quais estes fuzis entram. Dependemos muito de informações dos órgãos federais. Existem rotas terrestres, uma muito forte é a do Paraguai. Temos desafio grande com relação à Colômbia, e ainda a rota marítima. Vemos alguns casos de contrabando, de navios que ingressam pelo litoral do Ceará. Esse tipo de armamento é muito perigoso e tem um alto potencial lesivo nas mãos de criminosos", afirmou.
Uma das maiores apreensões realizadas em 2019 ocorreu no bairro Luciano Cavalcante, em Fortaleza. Um homem foi preso e 35 armas, apreendidas, dentre elas, quatro fuzis e sete espingardas. A localização do arsenal ocorreu a partir de uma investigação iniciada na Delegacia de Parambu, onde uma arma específica foi utilizada em um crime. A apuração policial evoluiu e descobriu onde estavam as demais.
Violência
O secretário pondera que a redução das apreensões das armas de fogo deve ser interpretada com outros dados. Segundo ele, a queda nos números é reflexo do fato de menos armas estarem nas mãos dos criminosos. Para André Costa, o fato de ter menos armas nas ruas proporciona maior segurança à população que, ao se deparar com este objeto, fica mais propícia à letalidade.
A SSPDS contabilizou a redução no percentual de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLI) ocorridos com uso de armas de fogo. Em 2018, 87% das mortes foram com arma de fogo, enquanto em 2019, o número caiu para 78,8%.
"Quando visualizamos a questão dos CVLIs, esses crimes não só caíram em números absolutos, mas também se usa menos armas de fogo para homicídios. Passou-se a matar mais com armas brancas ou outros meios. Os criminosos mantêm uma espécie de guerra entre si. Precisam utilizar essas armas para ter embates, incluindo alguns homicídios. É um objeto que, em um assalto, por exemplo, tira dela qualquer possibilidade de reação e facilita praticar o roubo", disse o secretário André Costa.
Resultados
O professor e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Luiz Fábio Paiva, considera que as políticas de Segurança Pública em curso no Ceará evidenciam ambiguidade na dinâmica dos enfrentamentos da violência. O especialista destaca que, apesar da redução, os números de apreensões ainda são significativos e as armas nas ruas do Estado continuam sendo parte de tragédias.
"É evidente que um esforço está sendo feito, existe um trabalho de sofisticação das operações policiais pelo incremento de tecnologias, mas os problemas de segurança pública persistem porque existem dimensões estruturais que continuam a gerar violência e crime. Isto faz com que, no Ceará, apesar da redução de homicídios, os moradores das periferias urbanas, em sua maioria pessoas negras, continuem convivendo com grupos armados, seu mando e seus conflitos. Por isso, famílias, neste início de 2020, choram a morte de crianças vítimas de balas perdidas", afirma Luiz Fábio Paiva.
De acordo com ele, apesar de menos homicídios e menos armas apreendidas, "as populações mais pobres ainda convivem exatamente com os mesmos problemas que afligem suas comunidades há décadas. Existem armas circulando porque há sujeitos motivados e condições objetivas que ainda possibilitam com que esses grupos armados construam uma realidade e não apenas algo circunstancial com baixo impacto na existência e qualidade de vida de milhares de cearenses".
O ano de 2019 foi o período com menos registros de armas apreendidas no Ceará, desde 2013, segundo dados estatísticos da SSPDS. Em contrapartida, analisados os dois últimos anos, aumentou a apreensão de fuzis no Ceará.
Diário do Nordeste
Por Redação
Miséria.com.br
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