Esperanças renovadas para o
povo cearense, em especial o sertanejo, em 2020. Isso porque há 45% de
probabilidade de o Ceará ter chuvas na categoria acima da normal - que
ultrapassem os 587,1 milímetros no acumulado - entre os meses iniciais da
quadra chuvosa, de fevereiro a abril. O prognóstico deste ano, divulgado ontem
pela Fundação Cearense de Metereologia (Funceme), é o mais otimista em nove
anos quando se trata da chance do acumulado de chuvas ficar acima da média.
No entanto, como salienta o
presidente da entidade, Eduardo Martins, "prever chuva não é a mesma coisa
que prever aporte em açudes". Atualmente, os reservatórios que abastecem o
Estado estão com 14,4% de volume acumulado, conforme o Portal Hidrológico do Ceará.
O prognóstico indica ainda 35%
de chances de precipitações dentro do normal - com chuvas cujo acumulado vai de
433 milímetros a 587 milímetros- e de 20% para a categoria abaixo do normal,
com precipitações cujo acumulado é inferior a 433 mm.
Distribuição
O levantamento também indica
menor ocorrência de chuvas nas regiões Centro-Sul do Estado, que apresenta
tendência de chuvas na média ou abaixo. As duas áreas são justamente as que
enfrentam, hoje, menor disponibilidade hídrica, também de acordo com o Portal
Hidrológico.
Titular da Secretaria dos
Recursos Hídricos (SRH), Francisco Teixeira aposta no planejamento a médio e
longo prazos para garantir o abastecimento de água da crescente população
cearense, hoje estimada em 9,1 milhões de habitantes - e observando as
peculiaridades pluviométricas de cada região territorial. "As chuvas estão
se concentrando no extremo Norte e no litoral. Isso é histórico e vem se
acentuando nos últimos anos".
Para o Norte, são previstas
novas barragens para conter a água que, normalmente, vai para o mar. Um projeto
ainda em estudos prevê um novo açude no Rio Coreaú, "que poderá acumular
até 1 bilhão de metros cúbicos e será muito importante não só para aquela
região, mas para Sobral, que pode ser bem maior no futuro e vai precisar de
mais reserva hídrica". Ele deve ser construído próximo ao município de
Granja.
Porém, o secretário não descarta
que a iniciativa possa beneficiar a Região Metropolitana, já que está, "em
linha reta, a 300 km do Pecém". Para a região do litoral, onde chove bem e
há proximidade com o mar, a tendência será de uso da chuva com água marítima
dessalinizada. Sem detalhar uma data específica, Teixeira lembrou que o edital
para a construção e operação da usina deve ser lançado neste início de ano.
Complicações
A região Centro "é a mais
sofrida", na opinião de Teixeira. Por lá, a solução será o programa Malha
D'água, cuja proposta concebe uma rede de mais de 6 km de adutoras "para
espalhar tubo pelo Ceará e levar água dos principais reservatórios para as
principais sedes distritais". Com recursos do Banco Mundial, o processo
deve ser iniciado por "uma grande adutora", com 675 km de tubulação,
saindo do Açude Banabuiú para atender a nove sedes municipais.
Já no Sul, que abriga a Região
Metropolitana do Cariri - com mais de 800 mil habitantes-, a esperança é a tão
aguardada água da Transposição do Rio São Francisco. "Não tenho dúvida de
que ele será muito importante porque lá tem água subterrânea, mas não dá pra
fazer barragem", destaca Teixeira. A previsão, segundo ele, é que a água
chegue ao Ceará "no fim de março, no mais tardar maio".
"A obra de integração é
muito complexa. São quase 500 km com 27 barragens e nove estações de
bombeamento. O Eixo Norte atrasou por conta de várias empreiteiras que foram
contratadas e entraram em recuperação judicial durante a construção. Estamos no
quarto consórcio que trabalha nesse último trecho. A obra está praticamente
concluída e em processo de enchimento. A água já está se aproximando da divisa
de Pernambuco com o Ceará e encaminhando para Penaforte", detalha o
secretário.
Cariri
O presidente da Funceme, Eduardo
Martins, ressalta que a estação chuvosa no Cariri já começou e deve enfraquecer
a partir de abril. Ela se antecipa um mês em relação ao resto do Ceará, que
deve receber precipitações até maio - mas nada que garanta que o medidor dos
açudes suba.
"Anos normais são
caracterizados por intensa variabilidade espaço-temporal, então podemos ter
veranicos (períodos secos). Mas, em última análise, o Atlântico é muito
favorável", informa.
O conhecido e temido El Niño, o
aquecimento das águas do Oceano Pacífico, estão em condições de neutralidade ou
fracamente aquecido e não deve interferir diretamente no regime de chuvas do
Ceará. O contrário, a La Niña - águas frias - tampouco deve se manifestar. Por
isso, os modelos de previsão se voltam para o Atlântico Sul, cujo aquecimento
na porção próxima ao Estado pode favorecer o transporte da umidade para o
continente.
Diário do Nordeste
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