Já é possível ter uma ideia de quantos novos casos de câncer o Ceará e Fortaleza terão nos próximos anos. A projeção é que o câncer de próstata seja o mais frequente no Estado, com 3.330 casos novos em 2020. Uma taxa de 74,18 casos a cada 100 mil habitantes. Já na Capital, predomina o câncer de mama, com 1.230 casos a mais. Taxa de 86,56 a cada 100 mil pessoas. As taxas se repetirão a cada ano no triênio 2020-2022.
Os dados foram divulgados na "Estimativa 2020 - Incidência de Câncer no Brasil", publicação feita pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), que aponta as ocorrências estimadas para cada ano do triênio 2020-2022.
A projeção busca fazer um perfil da situação da doença, conforme Marceli Santos, tecnologista da Divisão de Vigilância e Análise de Situação do Inca. Para fazer o cálculo, são usados dois modelos: um mais sofisticado, com projeções a partir das informações de incidência dos registros de câncer no local; e outro que calcula a razão de incidência a partir da mortalidade, ou seja, quantas vezes o número de casos é maior que o de óbitos.
"Nós implementamos um registro de câncer em cada capital. Isso já faz bastante tempo, inclusive o de Fortaleza é um dos mais antigos. É desse registro que tiramos as informações para projetar", detalha a tecnologista. Segundo ela, a informação qualificada e a série histórica disponibilizada por cada registro permitiram que o Inca fizesse projeções melhores e mais estáveis. "É por isso que, pela primeira vez, conseguimos fazer a estimativa para o triênio. O câncer é uma doença crônica, então toda mudança [nos índices] é lenta e progressiva. A diferença é observada a cada cindo anos, pelo menos. Mas nós estamos lançando agora com um intervalo de três porque temos bastante informação para ser reproduzida", diz.
Idade
O surgimento de novos casos de câncer de próstata no Ceará durante os próximos anos, conforme a avaliação do urologista Gustavo Persici, coordenador do Centro de Atenção à Saúde do Homem, está relacionado à expectativa de vida dos homens, uma vez que a probabilidade é maior conforme o avanço da idade. "Quanto mais idoso, mais chances de ter o câncer de próstata. Alguns estudos de autópsias feitas em pacientes muito idosos que mostraram que, acima de 100 anos, quase todos tinham a doença", revela.
Com o aumento da expectativa de vida, segundo ele, os novos casos de câncer de próstata devem aparecer não só no Ceará, mas no Brasil como um todo. O que diferencia os diagnósticos é o grau de risco entre os tumores desse tipo, classificados como de risco baixo, intermediário ou alto.
O urologista ressalta que não há evidência científica suficiente para comprovar a existência de uma forma de prevenção eficaz da doença. Observa-se, porém, que pessoas sedentárias, que consomem grandes quantidades de gordura saturada, têm mais chances de desenvolver o câncer de próstata em sua forma mais agressiva.
Detecção
"A prevenção, na verdade, significa a detecção precoce. O paciente precisa fazer os exames regulares a partir dos 50 anos, e, para quem tem histórico familiar de câncer, deve fazer a partir dos 45 anos, para descobrir na fase inicial, quando ainda é curável", pontua Gustavo Persici.
Foi cumprindo religiosamente a rotina de exames para prevenção que o aposentado Airton Pereira, 73, teve o diagnóstico do tumor na próstata a tempo de tratá-lo. O câncer foi detectado em 2009, e ele passou pela cirurgia de remoção. "Eu ia todo ano, como recomendam. Só que em 2008, eu não fiz os exames, porque foi um ano atípico, com muitos eventos. Meu pai faleceu, eu tive minha terceira graduação, meus filhos se formaram. Deixei pra ir no começo do ano seguinte, e apontou a doença", relata.
Hoje, Airton está curado, mas continua sendo acompanhado no Instituto do Câncer do Ceará (ICC), usando medicação a cada três meses. "Foi uma experiência extremamente dolorosa no sentido psicológico. Mas valeu, porque posso transmitir aos jovens o cuidado que o homem deve ter para fazer a prevenção".
No Ceará, além da cirurgia, o tratamento pode ser feito através de sessões de radioterapia, opção reservada para pacientes com mais de 70 anos ou que tenham risco cirúrgico. A operação pode trazer algumas sequelas, como disfunção erétil e incontingência urinária. "A gente observa que os homens não procuram o médico. Caso não tenham plano de saúde, recomendo que busquem o serviço público, no posto de saúde mais próximo. O homem deve procurar o médico de saúde da família que é capacitado para identificar os casos e fazer essa prevenção, ou encaminhar para o urologista", enfatiza Gustavo Persici.
Fonte: Diário do Nordeste
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