O tempo de resposta sobre os
casos suspeitos de coronavírus tem sido um dos gargalos no combate à doença no
Ceará. O Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems) do Ceará, alega
que a espera pelo resultado dos exames chega a ser de 17 dias. Moradores de 68
cidades, conforme levantamento diário feito pela entidade, aguardam resposta.
No Estado, segundo o boletim
da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), divulgado neste domingo (29), 1.840
exames estão em análise. Devido à demora, a Sesa estabeleceu prioridades na
fila de espera: testes em pacientes internados com suspeita da doença; pessoas
que precisam de transplantes; daqueles que vieram a óbito supostamente em
decorrência do coronavírus; e profissionais da saúde e segurança.
No Ceará, em 15 dias de
confirmação da doença, foram registradas 5 mortes por coronavírus e outras 359
pessoas estão contaminadas. Segundo o boletim da Sesa, há casos confirmados de
Covid-19 em 11, dos 184 municípios, são eles: Fortaleza (338), Aquiraz (7),
Sobral (5), Quixadá (2), Caucaia (1), Fortim (1), Itaitinga (1), Juazeiro do
Norte (1), Maranguape (1), Maracanaú (1) e Mauriti (1).
Conforme o Cosems, nas 68
cidades que aguardam resultado, o tempo de espera tem variado entre 3 e 17
dias. Fortaleza não consta na lista.
A presidente do Cosems,
Sayonara Cidade, ressalta que essa demora é uma "dificuldade generalizada.
O interior inteiro está sem resposta" e explica que os municípios
receberam kits e fazem a coleta para os testes moleculares, chamado RC-PCR
(reação em cadeia da polimerase em tempo real). A análise é feita a partir de
amostra de secreção nasofaríngeo coletada por uma espécie de cotonete pelo
nariz ou pela boca.
Ainda segundo Sayonara, as
equipes municipais de saúde fazem a coleta e enviam o material nos transportes
das próprias prefeituras para análise em Fortaleza, no Laboratório Central de
Saúde Pública do Ceará (Lacen). Cada cidade, explica, se abastece de kits nas
sedes das regiões de saúde e recebe a orientação para buscar somente a
quantidade demandada para testar as suspeitas e uma pequena reserva, para
outras necessidades.
Exames realizados
Conforme o último boletim da
Sesa, divulgado domingo (29), foram feitos 4.664 exames laboratoriais no Ceará
e 372 confirmaram o adoecimento. A diferença entre o total de exames positivos
e os casos confirmados, informa a Sesa, leva em consideração a duplicidade de
13 amostras entre os laboratórios. Do total, 2.262 casos suspeitos deram
negativo e 1.840 aguardam resultado.
Lista
Acaraú: 10 dias
Antonina: 8 dias
Aracati: 15 dias
Barbalha: 15 dias
Campos Sales: 11 dias
Guaramiranga: 3 dias
Guaiúba: 9 dias
Ibiapina: 12 dias
Ipaporanga: 9 dias
Jaguaretama: 7 dias
Jati: 8 dias
Lavras da Mangabeira: 11 dias
Martinópole: 8 dias
Milagres: 9 dias
Mons. Tabosa: 11 dias
Morada Nova: 8 dias
Mulungu: 3 dias
Pacoti: 3 dias
Pindoretama: 12 dias
Potengi: 11 dias
Quixadá: 17 dias
Quixelô: 5 dias
Redenção: 5 dias
Russas: 11 dias
Salitre: 13 dias
Sobral: 13 dias
Tamboril: 6 dias
Umari: 11 dias
Várzea Alegre: 10 dias
Solonópole: 9 dias
Viçosa do Ceará: 11 dias
Itarema : 9 dias
Meruoca: 8 dias
Catarina: 7 dias
Paraipaba: 14 dias
Limoeiro: 10 dias
Itaiçaba: 10 dias
Tabuleiro norte: 9 dias
Ipueiras: 7 dias
Farias Brito: 6 dias
Araripe: 7 dias
Jaguaribara: 3 dias
Graça: 7 dias
Santana do Cariri: 4 dias
Jaguaruana: 3 dias
Pereiro: 4 dias
Jaguaribe: 8 dias
Tianguá: 12 dias
Tururu: 8 dias
Orós: 7 dias
Potiretama: 5 dias
Crateús: 10 dias
Banabuiú: 9 dias
Iguatu: 9 dias
Palmácia: 5 dias
Aurora: 9 dias
Jijoca de Jericoacoara: 15
dias
Maracanaú: 10 dias
Apuiarés: 8 dias
Cedro : 9 dias
Uruburetama : 9 dias
Cariré: 5 dias
Aiuaba: 7 dias
Palhano: 4 dias
Itapajé: 8 dias
Canindé: 11 dias
Cascavel: 12 dias
Mombaça: 9 dias
Gargalos
A secretária executiva de
Vigilância e Regulação da Sesa, Magda Almeida explica que há demora e
dificuldades devido à quantidade de kits de reagentes para a testagem. O Estado
tem um convênio com BioManguinhos, instituto da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
que produz reativos a detecção do coronavírus.
Conforme Magda, essa aquisição
permitia a análise de 100 exames por dia no Lacen. Mas, essa quantidade não
significa o total de pacientes testados, pois, em alguns casos, informa Magda,
a amostra de uma pessoa precisa ser testada mais de uma vez. Esse reteste entra
como um exame na contagem de uso do reagente.
Na semana passada, com o
empréstimo de dois aparelhos, sendo um do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento
de Medicamentos (NPDM) e outro do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), ambos
da Universidade Federal do Ceará (UFC), a capacidade de análise do Lacen
aumentou para 320 exames por dia.
Além disso, devido à demora no
tempo de resposta a Sesa, neste momento, trabalha com alguns critérios de
prioridade. Os resultados dos exames dos pacientes internados nas UTIs e em
seguida os das enfermarias passam na frente na fila de espera, conta Magda.
Caso haja procedimentos de transplantes, tanto doadores quanto receptores devem
fazer o teste para a Covid-19 e esse resultado também tem preferência frente
aos que já aguardavam.
Outra situação, explica, são
os óbitos em que haja suspeita de coronavírus. Os resultados desses exames
também são priorizados.
Testes rápidos
Magda também explica que os
testes rápidos adquiridos pelo Governo do Estado estão previstos para chegar
nesta segunda-feira (30). Eles são diferentes dos realizados atualmente. O
RT-PCR detecta, a partir da amostra, a presença do vírus no organismo. Os
testes rápidos verificam a resposta do organismo ao vírus, com por exemplo, a
presença de anticorpos contra o micro-organismo invasor. Não há ainda uma data
específica para o início pois é preciso verificar a qualidade dos testes,
afirma Magda.
Ampliação da rede de testagem
A Sesa também tenta, conforme
Magda, organizar a ampliação da rede de testagem, inserindo o Centro de
Hemoterapia e Hematologia do Ceará (Hemoce) e a Faculdade de Medicina da
Universidade Federal do Cariri (Famed/UFCA) na realização de testes de RC-PCR.
Outra possibilidade é a aquisição de uma máquina já solicitada pelo Governo do
Estado ao Ministério da Saúde que conseguiria realizar 1.000 exames por dia.
O diretor da Faculdade de
Medicina da UFCA, em Barbalha, Cláudio Gleidiston Lima, ressalta que a
instituição disponibilizou um laboratório e dois equipamentos para testes da
Covid-19, o RT-PCR e termociclador, que fazem o diagnóstico molecular. “Um
qualifica e o outro quantifica. Fazem testes moleculares capazes de identificar
microrganismos. Aqui, é usado como rotina para pesquisa de outras doenças
infecciosas”, explica.
Porém, segundo ele, a Famed
precisa de, pelo menos, duas pessoas indicadas pelo Lacen para ajudar e emitir
os laudos, já que o Covid-19 é uma doença de notificação compulsória. “Só o
Estado pode fazer isso”, explica Cláudio. Para realizar, a UFCA enviou um
ofício à Sesa com a lista de insumos necessários para realizar os testes na
região do Cariri e descentralizar as demandas.
A Sesa ainda não respondeu o
ofício encaminhado pela UFCA, segundo o diretor. Caso os diagnósticos possam
ser feitos na instituição, Cláudio acredita que terá capacidade para realizar
até 46 testes a cada 12 horas.
Um impasse, relata ele, é que
a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Saúde
sugerem que as manipulações destas amostras do vírus sejam feitas em
laboratórios de nível 3 de segurança. A UFCA é nível 2. “A maioria também é
assim. Nós estamos nos preparando, vamos reformá-los. Mas poucos nos Brasil são
nível 3”, completa o professor.
Por Thatiany Nascimento e
Antonio Rodrigues, G1 CE
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