Ainda com poucos casos confirmados da Covid-19, o interior do Estado dispõe de, pelo menos, 384 leitos clínicos, sendo 93 de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), para receber os pacientes em estado grave. 58 UTIs estão nos hospitais regionais do Cariri, Norte e Sertão Central, que são referência para 3,7 milhões de habitantes em 119 municípios cearenses. Este número, no entanto, pode ser maior. Demandada, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) não disponibilizou os dados gerais até o fechamento desta matéria.
Diante da curva ascendente de casos em todo o Estado, as unidades de saúde do interior estão se preparando para ampliar este quantitativo caso haja demanda. A readequação de prédios, o fim de cirurgias eletivas e a abertura de hospitais de campanha são algumas medidas a serem implantadas para ampliar o número de leitos. Questionada se o número de leitos no interior é adequado, a presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosems), Sayonara Cidade, observou que "nenhum país está preparado para uma situação dessas".
No entanto, reconheceu o esforço empenhado pelas prefeituras e ressaltou que "tudo está sendo organizado para assistir as pessoas mais graves. Os casos leves são feitos com monitoramento domiciliar".
Ações
Os três hospitais regionais do interior (em Juazeiro do Norte, Sobral e Quixeramobim) deliberaram pela dedicação exclusiva de 150 leitos clínicos de suas unidades para os pacientes com o novo coronavírus. Os dois primeiros já recebem cinco casos confirmados. À medida em que eles forem lotando, a Sesa encaminhará para outros hospitais credenciados pela Central de Regulação Estadual que também estão sendo adaptados.
Maior hospital do interior do Nordeste, o Hospital Regional Norte (HRN), em Sobral, é referência do atendimento de casos graves da Covid-19 para 55 municípios da macrorregião Norte do Ceará, que tem população estimada de 1,6 milhão. O equipamento conta com 50 leitos dedicados à doença e, destes, 20 são de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O número, no entanto, tende a não suportar a demanda crescente.
A secretária da Saúde do Município, Regina Carvalho, admite que a rede hospitalar está lotada, mesmo antes da chegada do novo coronavírus, "porque atendemos a nossa região toda", ressalta.
Para evitar o colapso, uma operação foi iniciada nesta semana. A primeira medida da Pasta foi fazer uma intervenção no hospital filantrópico Dr. Estevam, pois, segundo ela, estava sendo "subutilizado". Agora, a unidade está sob o controle da Secretaria Municipal da Saúde, que fechou o equipamento para outras patologias e abriu 18 leitos para o novo coronavírus, podendo ser ampliados para até 50. Outra ação foi cancelar as cirurgias eletivas para ter os leitos cirúrgicos à disposição. Os partos foram transferidos para outros hospitais.
Além disso, o poder público municipal requisitou um prédio que estava fechado, há cinco anos, onde funcionava uma clínica particular. Com três pavimentos, o local está sendo adaptado para ser um novo hospital, batizado de Hospital Dr. Francisco Alves, que terá mais 50 leitos e, destes, 11 de UTI. Um gerador de energia e um compressor de ar já foram instalados. Os dois elevadores também foram reparados. A expectativa é que esteja funcionando em dez dias.
Para efetivar sua abertura, será feita seleção com vagas para 16 médicos, 30 enfermeiros e 50 técnicos de enfermagem, além do recrutamento de voluntários. A Secretaria da Saúde ainda aguarda a doação de dez respiradores pelo Estado. Caso o processo demore, a pasta pretende alugá-los. "Quantos mais leitos de UTI melhor. Ainda são muito escassos. Vamos precisar ampliar", acredita Regina. O Hospital do Coração também cederá mais dez leitos para tratar pacientes com a doença.
No Sul do Estado, onde dois casos já foram confirmados, em Juazeiro do Norte e Mauriti, o Hospital Regional do Cariri (HRC) é referência para uma população de 1,5 milhão em 44 municípios do Cariri e Centro-Sul. Lá, foram criados 60 leitos exclusivos a Covid-19, sendo 19 de UTI. Assim como os outros hospitais regionais, na medida que forem ocupados, serão encaminhados para outros equipamentos.
Planejamento
No início da semana, representantes de 15 entidades, incluindo hospitais, Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), Justiça Federal e secretários municipais, se reuniram para discutir uma ampliação dos leitos na região do Cariri. No encontro, ficou acordado que o Hospital Maternidade São Francisco e o Hospital São Raimundo, ambos em Crato, dedicarão oito leitos de UTI, cada um, aos pacientes com Covid-19.
Já em Barbalha, os hospitais do Coração e Santo Antônio cederão juntos sete leitos no perfil cardiológico e neurológico, podendo ofertar mais cinco se o Estado fornecer equipamentos. No mesmo Município, o Hospital Maternidade São Vicente de Paulo ofereceu dois leitos de pediatria na condição do fornecimento de dois respiradores pela Sesa. Em Brejo Santo, o Hospital Geral indicou dois leitos de isolamento UTI para gestantes em estado grave.
Em Juazeiro do Norte, a Secretaria da Saúde está readequando o prédio da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), do bairro Lagoa Seca, que nunca foi inaugurada, para atender até 30 pacientes com novo coronavírus. Destes, quatro leitos devem contar com respiradores. Tudo deve estar pronto em até sete dias. "Isso é para dar suporte. Para pacientes com insuficiência respiratória grave, a referência é o Hospital Regional", reforça o secretário Lucimilton Macêdo.
Também estão disponíveis sete leitos no Hospital São Lucas e outros sete na Unidade Sentinela, criada exclusivamente para a doença. Além disso, o prefeito Arnon Bezerra determinou que o prédio do Hotel Municipal, que estava fechado há mais de um ano, fosse limpado e readequado para caso seja necessário criar uma nova unidade para receber os pacientes infectados. O Hospital Regional do Sertão Central (HRSC), em Quixeramobim, referência para 631 mil habitantes de 20 municípios do Sertão Central, está com 49 leitos para receber pacientes graves com Covid-19, sendo 20 de UTI.
No município vizinho de Quixadá, maior da região, está sendo instalada uma nova unidade de saúde no bairro Putiú, que fornecerá nove leitos isolados para tratamento de casos confirmados.
Em Acarape, no Maciço do Baturité, o governo municipal está criando um hospital de campanha para isolar pacientes com coronavírus. O equipamento funcionará na Escola Padre Antônio Crisóstomo e terá capacidade de 40 leitos de internação. Mesmo tendo apenas 16 mil habitantes, o prefeito Franklin Veríssimo acredita que é importante que a cidade esteja preparada. "Pode ser que não precisa usar, mas se precisar, estaremos prontos", ressalta. Lá, há um caso suspeito.
Em Iguatu, na região Centro-Sul, o Hospital Regional de Saúde colocou 16 leitos específicos para tratar casos suspeitos ou confirmados de Covid-19. Na noite de ontem (26), o prefeito Ednaldo Lavor divulgou a construção de 10 leitos de UTIs. As obras de implantação no HRI têm início hoje (27) e devem ser finalizadas em até 15 dias. Além disso, o Hospital Agenor Araújo destinou 25 leitos clínicos caso extrapole os pacientes da primeira unidade. "Colocamos dois médicos e sete enfermeiros dedicados à ala do coronavírus. Essa é a nossa estratégia inicial, mas a situação é muito dinâmica, muda quase todos os dias", pontuou o secretário de Saúde Georgy Xavier.
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