Dos 184 municípios do Ceará, 170 - cerca de 92% do total - são considerados mais vulneráveis aos efeitos do novo coronavírus, tanto por indicadores socioeconômicos mais baixos quanto por maior dificuldade de acesso a serviços básicos. A análise é de um relatório de pesquisadores da Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (EMAp/FGV) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Apenas 14 cidades do Estado estão incluídas nos grupos A e B, com melhores indicadores sociais, principalmente na Região Metropolitana de Fortaleza.
Até a última terça, das 59 cidades com casos confirmados do coronavírus, segundo a plataforma da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), 48 - ou seja, 81% - são classificadas nas faixas C, D e E, consideradas as mais vulneráveis.
O Ceará alcançou, nesta terça-feira (14), a marca de 2 mil casos de Covid-19. Ao todo, são 2.070 registros. Neste mesmo dia, foram contabilizadas mais dez mortes, totalizando 111. Os dados foram atualizados às 18h na plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa).
Grupos C,D e E
O grupo C abrange 60 municípios que mesclam populações urbanas e rurais e, em comparação com A e B, “têm uma expectativa de vida significativamente menor, pobreza significativamente alta e menos infraestrutura”.
Maior no Ceará, o grupo D tem 90 municípios com predominância de populações rurais, desigualdade, baixo componente de escolaridade e menor acesso a serviços de água e esgoto.
Já no grupo E, estão os piores indicadores educacionais, além de acesso precário à água tratada, disposição de esgoto e eletricidade. De acordo com os critérios do levantamento, 20 cidades cearenses ficam nessa categoria. Ainda que aponte Fortaleza e sua Região Metropolitana como as áreas com maior probabilidade de ter ou vir a ter atividade alta de covid-19, o relatório chama atenção para o “risco de interiorização da epidemia” em direção a esses municípios.
Medidas de contingência
Segundo Sayonara Cidade, presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems), os Planos Regionais de Contingência contemplam as necessidades assistenciais e os fluxos para acesso dos pacientes. “No momento, os gestores estão readequando seus Planos, conforme a epidemiologia local e regional, de modo a trabalharmos de forma alinhada ao Plano Estadual”, explica.
Conforme o modelo probabilístico da EMAp, a região nordeste do Estado possui maior nível de vulnerabilidade geográfica para entrada e circulação do vírus. A área do Litoral Oeste, o Litoral Leste e o Maciço de Baturité, bem como parte do Litoral Norte, do Vale do Jaguaribe e dos sertões de Sobral, Crateús, Canindé e Central. A região de Juazeiro do Norte, no Cariri, também deve ser observada.
O cenário epidêmico pode ou não se confirmar dependendo das medidas de redução de mobilidade interna e externa. Considerando os decretos estaduais e municipais restringindo a circulação de pessoas, e se houver manutenção de restrição de fluxo intermunicipal de 50% e 30% de distanciamento social, o risco epidêmico tende a ser menor. Porém, o relatório traça um cenário mais severo, nas mesmas áreas, caso as medidas de redução de mobilidade e distanciamento social sejam interrompidas.
O decreto estadual que limita o funcionamento de serviços e comércios está em vigor até o dia 20 de abril. O governador Camilo Santana declarou que, nesta semana, vai avaliar se haverá prorrogação do prazo junto a infectologistas e epidemiologistas. “É a ciência que precisa orientar os nosso passos dia a dia aqui no Ceará”, destaca. Além do decreto estadual, na última semana, pelo menos 25 cidades cearense passaram a permitir acesso somente a moradores.
Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto, secretário da Saúde do Ceará, também analisa com preocupação o avanço da covid-19 no Interior. Ele defende o engajamento das 184 Prefeituras e o trabalho dos agentes comunitários de saúde na orientação da população, principalmente na faixa mais vulnerável. “Nos hospitais públicos, as pessoas estão retardando a busca pelo sistema de saúde. É importante que elas procurem rápido esse sistema”, diz.
Também está em curso a expansão de Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) em municípios do Interior. A previsão inicial é que o Ceará abrisse 690 leitos a mais para atender a pacientes com covid-19. Até o momento, 160 foram entregues. Segundo Cabeto, a medida já estava nos planos de regionalização da saúde no Estado.
“Estamos apenas apressando esses processos. Essas unidades eram necessárias e já estão sendo estruturadas. Tínhamos previsto chegar a 690 leitos extras, mas eles dependem de insumos importados e o Estado está fazendo todo o esforço para adquirir ”, salienta.
Por Nícolas Paulino e Rodrigo Rodrigues, G1 CE
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