sexta-feira, 17 de abril de 2020

Demissão de Mandetta traz preocupação para lideranças cearenses



O anúncio da demissão de Luiz Henrique Mandetta do cargo de ministro da Saúde foi recebido com críticas tanto no Legislativo como nos governos estaduais e municipais. Apesar de encontrar apoio de parlamentares aliados ao Governo Federal, a decisão do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) provocou preocupações entre lideranças políticas. Entre os principais fatores para isso está a mudança no comando do Ministério da Saúde às vésperas do momento, apontado por especialistas, como o mais crítico na curva de infecções pelo novo coronavírus no Brasil.

O governador Camilo Santana (PT) se manifestou poucos minutos após Mandetta anunciar a saída. Além de elogiar o agora ex-ministro, ressaltando a atuação no combate à pandemia "colocando a ciência em primeiro lugar, sem ideologia ou partidarismo", ele demonstrou preocupação com a mudança. "Sua saída representa uma enorme perda para o Brasil", acrescentou o governador. Camilo reforçou a necessidade de que o Governo Federal "sinalize um caminho para o País, com a máxima urgência, neste momento tão delicado".

Afastamento

A demissão, no entanto, foi interpretada por alguns como mais um passo para um distanciamento maior entre a Presidência e outros Poderes, além do afastamento com os demais entes federados. Durante pronunciamento no Palácio do Planalto ontem, acompanhado pelo novo ministro, Nelson Teich, Bolsonaro voltou a alfinetar governadores e prefeitos. Segundo o presidente, estariam sendo cometidos "excessos" nas medidas em âmbito estadual e municipal.

"Em nenhum momento, eu fui consultado sobre medidas adotadas por grande parte dos governadores e prefeitos. Eles sabiam o que estavam fazendo e o preço vai ser alto", ressaltou Bolsonaro.

Presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Jonas Donizette rebateu. "Mandamos ofício, por duas vezes, pedindo orientações de como proceder", citou. "As decisões que tomamos foram porque não obtivemos respostas do presidente", salientou.

Donizette, que é prefeito de Campinas (SP), destacou ainda a cooperação entre municípios e Mandetta. "É preocupante retirar um ministro que vinha cumprindo o seu papel, baseado no conhecimento científico", acrescentou, por sua vez, o presidente da Associação de Prefeitos do Ceará, Nilson Diniz. "Agora, ficou uma interrogação".

A alteração da principal autoridade de Saúde do País no meio de uma crise sanitária também "causa confusão na cabeça das pessoas quanto à obediência ao isolamento social", afirmou Diniz. O caminho deve ser a coordenação entre municípios cearenses, sob a coordenação de Camilo Santana, aponta.

"Fica a preocupação com a condução daqui para frente, porque seria necessário um comando único ou pelo menos linhas básicas para o combate. Se a gente tiver o País com uma direção e os estados com outra, será muito ruim", avaliou Nilson Diniz.

Apoio

Por outro lado, a saída de Mandetta foi vista de maneira positiva por alguns parlamentares cearenses. Apoiador do presidente, o deputado Dr. Jaziel (PL) considera que a demissão demorou. "Mandetta estava prestando um desserviço à população", afirmou. O parlamentar discorda das medidas de isolamento horizontal apoiadas pelo ex-ministro.

"Não interessa a nenhum de nós o Brasil desse jeito. Quando o presidente diz que tem que ter uma alternativa para ir se levantando, ele está certo", enfatizou. O isolamento social é apontado pela Organização Mundial de Saúde como a maneira mais eficiente para o combate à Covid-19. O alinhamento do titular da Saúde a Bolsonaro deve ser total, considera ele. "Vamos ver se esse vai corresponder. Caso contrário, demite de novo".

Também da base do presidente Jair Bolsonaro, Heitor Freire preferiu tecer elogios tanto a Mandetta como a Teich e garantiu "confiar" na decisão tomada por Bolsonaro. "Na linha de frente está o brasileiro, sofrendo com o vírus e com os prejuízos econômicos que ele trouxe", finalizou.

Derrota

Contudo, outros parlamentares cearenses criticam a mudança. "É uma derrota da vida, do SUS e da ciência. E a vitória da irresponsabilidade e da falta de compromisso com a vida de Bolsonaro e do seu novo ministro", lamentou o líder da Minoria na Câmara, José Guimarães (PT). O Congresso, aponta ele, deve ter papel fundamental para tentar minimizar efeitos negativos de eventuais medidas de flexibilização do isolamento social, caso sejam adotadas pelo novo ministro em consonância com o que já defendeu Bolsonaro.

"A Câmara não tem o poder da caneta, mas está aprovando tudo que pode para salvar vidas", ponderou. Líder da oposição, o deputado federal André Figueiredo (PDT) concorda. "O Legislativo vai continuar fazendo o seu papel, aprovando medidas que minimizem os impactos da crise e destinando recursos para a Saúde", garantiu.

O alinhamento de Teich com Bolsonaro, embora provoque preocupação, também deve ser atenuado por medidas adotadas desde que os primeiros casos de Covid-19 foram confirmados no Brasil, considera ele. Uma delas é a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) pela autonomia de estados e municípios para decidir sobre o isolamento social. "Não vai ser por meio de decreto que vai acabar com o isolamento", afirmou.

A decisão também repercutiu entre senadores da bancada do Ceará. Eduardo Girão (Podemos) afirmou que já era uma "mudança esperada" devido aos "últimos acontecimentos" e que espera que o novo ministro possa buscar o diálogo. Cid Gomes (PDT), por outro lado, afirmou estar preocupado "com interferências de um presidente despreparado e inconsequente na atuação de uma área que deveria ser exclusivamente técnica".

Panelaços em Fortaleza

Diversos bairros de Fortaleza realizaram panelaços durante pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, na tarde de ontem, ao confirmar a demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. O anúncio à imprensa foi feito ao lado do sucessor de Mandetta, o oncologista Nelson Teich.

Assim como em várias capitais brasileiras, foram registrados panelaços na capital cearense, em bairros como Meireles, Joaquim Távora, Fátima, Damas, Aldeota, Praia de Iracema e Luciano Cavalcante.

As manifestações contrárias ao presidente ficaram mais recorrentes durante os pronunciamentos no horário nobre na televisão e no rádio.

Foram ouvidas também manifestações em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Brasília, Porto Alegre, Belém e João Pessoa. A saída de Mandetta do cargo ganhou relevância nas redes sociais.

Por volta das 18h, reações à decisão de Bolsonaro chegaram ao segundo lugar entre os assuntos mais relevantes do mundo no Twitter. Os panelaços voltaram a ocorrer horas depois quando o Jornal Nacional, da TV Globo, transmitiu o anúncio do presidente Jair Bolsonaro sobre a troca de ministros.

Governadores e presidentes do Legislativo lamentaram a demissão do ministro da Saúde. O anúncio da mudança na chefia da Pasta foi feito também nas redes sociais.

Mandetta anunciou conversa com Bolsonaro que culminou na decisão pela saída do então titular. A relação dele com o presidente ficou comprometida nos últimos dias em meio a divergências entre ambos na condução da crise na Saúde.


Fonte: Diário do Nordeste

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