“Onde não tem cisterna, os vizinhos dão água, mas quando acaba, acaba pra todo mundo”, lamenta a agricultora Antonieta Pedro da Silva, 48, residente na zona rural de Nova Russas, interior do Estado. A cearense compõe um grupo mais amplo, de famílias que não contam com água encanada em suas residências e dependem de serviços externos para garantir o abastecimento, essencial durante a pandemia de Convid-19.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) 2018, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente 209 mil domicílios cearenses não contam com água canalizada, número que representa 7% do total de domicílios. Sem o serviço, milhares de cearenses, em sua maioria no interior do Estado, recorrem a projetos externos de distribuição.
Até esta terça-feira (21), o Ceará havia registrado 3.682 diagnósticos positivos para a infecção, presente em 102 cidades cearenses. Conforme a atualização da plataforma IntegraSUS, feita às 17h20 de ontem, 221 pessoas perderam a vida por conta doença, representando uma taxa de letalidade de 6% dentre os infectados. Segundo especialistas, lavar a mão com água e sabão é uma das principais recomendações para evitar a disseminação do vírus.
A comunidade onde a agricultora Antonieta da Silva reside abriga mais de 80 famílias. Ela conta que o consumo cresceu por causa da higiene contra o coronavírus e água deve faltar no final do ano.
“Se a cisterna encher, dá pro inverno todo, mas quando ela seca, temos que abastecer. Se a gente tiver sorte, a Prefeitura manda deixar a água, quando não, temos que comprar do carro-pipa”, conta a agricultora.
Nas residências que possuem cisternas, usadas para guardar um pouco do excedente, como no caso de Antonieta, ainda é possível observar o acúmulo de março, mês que registrou pluviometria acima da média no Ceará. A água é usada para o consumo próprio e o preparo dos alimentos.
Nas residências que que não contam com água encanada nem com cisternas para o armazenamento, no entanto, a saída é contar com a solidariedade, situação de pelo menos 32 famílias na comunidade onde a agricultura vive com a família.
Investimento
A Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) anunciou, em janeiro, quase R$ 28 milhões para a implementação de quatro tecnologias sociais no Ceará. O recurso beneficiará 60.975 cearenses com a implantação de cisternas e microssistemas de abastecimento.
Os recursos serão destinados à instalação de 3.970 cisternas de placa, 100 cisternas de calçadão, 175 microssistemas e 795 cisternas escolares de instituições com o mínimo de 50 alunos matriculados.
“Mesmo perante os anos de seca recentes, a SDA atuou forte para que por meio do Projeto São José, Paulo Freire, do Água Para Todos e das Estações de Tratamento Móveis (ETAS) nossos agricultores acessassem a água”, ressalta o secretário Francisco De Assis Diniz.
Água diária
No Ceará, a situação se agrava quando considerado o número de domicílios sem a oferta diária de água encanada, que chega a 504.634 residências, segundo o IBGE. A realidade evidencia as desigualdades ainda presentes no campo, apesar dos avanços trazidos por políticas públicas às comunidades mais afastadas dos centros urbanos. Em Fortaleza, por exemplo, apenas 0,3% das residências não possuem o serviço.
Responsável pelo serviço nas sedes de 152 municípios, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) atende cerca de 2,3 milhões de residências cearenses. Em nota, a Companhia informou que “a cobertura de abastecimento de água nesses municípios é de 98,3%”. No caso das áreas rurais destes municípios, o Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar) atua com sistemas construídos pelas Secretarias do Desenvolvimento Agrário e das Cidades, pelo Programa São José e Programa Águas do Sertão.
Atualmente, o Sisar atende cerca de 700 mil pessoas mediante 185 mil ligações de água, além de 354 estações de tratamento e 690 poços. Os outros municípios do Estado têm o abastecimento e saneamento atendidos por Sistemas Autônomos de Água e Esgoto (Saae).
“Nas cidades do interior, a companhia aumentou o número de horas no funcionamento de alguns sistemas que possuem espaço para ampliar a produção”. Dessa forma, sistemas que antes funcionavam por 12 ou 15 horas, passaram a funcionar por 16 horas. “Já os sistemas que estão no limite, a Cagece está reforçando os ajustes operacionais para atender à demanda, realizando um planejamento para se antecipar a situações onde a disponibilidade de água seja comprometida pela escassez”, informou a Cagece, em nota.
Além da 152 sedes atendidas pela Cagece e Sisar, os municípios com sistemas autônomos de abastecimento de água e esgoto são acompanhados pela Fundação Nacional da Saúde (Funasa), entidade vinculada ao Ministério da Saúde. Tentamos contato com o órgão, mas até o fechamento desta edição não obtivemos resposta.
Por Rodrigo Rodrigues, G1 CE
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