O isolamento domiciliar devido ao novo coronavírus levou aos órgãos públicos a preocupação com a possibilidade de os casos de violência doméstica contra a mulher aumentarem durante este período. Conforme levantamento da Gerência de Estatística e Geoprocessamento (Geesp) da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp), em menos de um mês de quarentena no Ceará, a Polícia registrou 703 ocorrências de violência doméstica.
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que os casos foram registrados do dia 20 de março até 12 de abril deste ano de 2020. Apesar de ainda alto, o número é inferior a igual período do ano passado quando, segundo o levantamento, foram contabilizadas 1.386 ocorrências no Estado.
Também de acordo com a Pasta houve redução em março. No último mês, foram 1.364 ocorrências de violência doméstica contra a mulher, enquanto em igual período de 2019, houve 1.924 registros deste tipo. A mesma queda nos números é vista pelo Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Fortaleza, com relação a medidas protetivas. Conforme balanço do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), em março de 2020 foram 325 medidas deferidas, enquanto em março de 2019, foram 413.
Preocupação
Apesar da baixa, a titular do Juizado de Violência Doméstica Familiar contra a Mulher de Fortaleza, Rosa Mendonça, afirma que os números preocupam. Para a magistrada, a redução não significa que há menos violência, mas sim, que há indicativo que menos mulheres violentadas estão recorrendo às autoridades.
O Disque 180, serviço do Governo Federal, registrou nas duas primeiras semanas de confinamento aumento no número de denúncias em torno de 18% e constatou que houve redução do número de denúncias em alguns estados. Gostaríamos muito de pensar que esta redução tenha se dado porque a violência cessou, porque houve harmonia familiar ou porque houve diminuição no uso da droga ou do álcool, mas infelizmente isto não é uma realidade. Não é o que está acontecendo, afirmou a juíza.
Segundo Rosa, na China, onde também existiu a quarentena, os índices de violência contra a mulher triplicaram. No Brasil, estados como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul também registraram aumento.
A dificuldade para algumas mulheres só aumentou nesta época. É um tempo de confinamento, difícil, uma época em que a mulher está 24 horas com aquele agressor em um ambiente que reina a desavença. Certas mulheres estão correndo um risco de violência muito grande, exatamente no lugar onde ela deveria estar mais protegida, afirma Rosa Mendonça.
A magistrada explica que as estatísticas mostram que mais de 70% dos crimes contra a mulher ocorrem dentro de casa. É lá que a mulher se sente menos segura, é onde ela está sendo vigiada, controlada pelo agressor. Ela não está conseguindo sair, está paralisada. Quando a mulher fica nesta situação ela está muito vulnerável, considera a titular do Juizado da Mulher. Mas não é só dentro de casa que a violência acontece.
Flagrante
Na quinta-feira (16), João da Silva Pereira, 47, foi preso após agredir a ex-companheira no supermercado onde ela trabalha, em Caucaia. O crime foi registrado por imagens das câmeras de segurança do estabelecimento. O homem foi preso em flagrante por policiais militares. A SSPDS afirmou que Pereira já teria agredido a ex-companheira outras vezes.
A juíza Rosa Mendonça destaca que os crimes precisam ser sempre comunicados à sociedade e afirma que o deferimento de medidas protetivas é importante para interromper a escalada da violência. Ao todo, o Ceará conta com 10 Delegacias de Defesa da Mulher que permanecem em funcionamento para receber as denúncias e realizar o primeiro acolhimento às vítimas.
Fonte: Diário do Nordeste
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