Pesquisadores do do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (Nois), da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), estimaram por modelo matemático que apenas 10,9% dos casos reais de Covid-19 são notificados no Ceará. Ou seja, apenas um em cada dez casos entra nas estatísticas oficiais da doença.
O Estado tinha, até a noite desta segunda-feira (27), 397 mortes e 6.783 casos confirmados pela doença, segundo a plataforma IntegraSUS, da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). Porém, de acordo com o estudo, esse número pode ser maior.
“O curso rápido da pandemia e o baixo número de testes realizados no Brasil dificultam a estimativa do real número de casos confirmados”, considera o Núcleo.
No último domingo (26), mais 300 mil testes rápidos importados da China para detecção da doença chegaram ao Ceará, mas o Governo do Estado vai priorizar pacientes de hospitais, profissionais da segurança e indivíduos suspeitos com mais de cinco dias de sintomas.
Para o Nois, o elevado grau de subnotificação pode sugerir “uma falsa ideia de controle da doença” e, consequentemente, levar ao “declínio” de ações de contenção do coronavírus. Em Fortaleza, por exemplo, o prefeito Roberto Cláudio admitiu que, para cada óbito, há uma estimativa de 100 casos da doença.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também aponta que o número de casos notificados é inferior ao real porque não há testes “em quantidade suficiente para atender a demanda, então é possível que haja subnotificação”.
Segundo o IntegraSUS, mais de 22,7 mil exames já foram realizados em todo o Ceará. Contudo, outros 18,8 mil casos seguem em investigação.
Sem confirmação da doença
A farmacêutica Naiara Ximenes, 30, preferiu não entrar na lista. “Eu sei como o negócio está colapsado. Eu fazer um teste não vai me dar abertura de um leito caso eu precise. Também não existe certeza de você não pode ser reinfectado, então deixei pra quem precisa”, explica Naiara.
A mãe dela, de 62 anos, teve diagnóstico positivo após retornar da Europa. Uma semana após a realização do teste da mãe, quando o resultado saiu, a farmacêutica apresentou febre e sintomas gripais. Agora, mesmo restabelecida, ela segue no isolamento social.
Mesmo com sintomas que incluíam febre e falta de ar, o advogado Leandro Lima, 26, também não foi testado, mas por um motivo diferente. “Na UPA do Edson Queiroz, o médico disse que provavelmente era coronavírus, mas não podia fazer o teste porque não tinha. Ele me deu atestado”, conta.
Dias depois, Leandro também passou pela perda do olfato e do paladar, que o fizeram confirmar sua suspeita. “Hoje, já estou bem. Acho que é como os médicos dizem, melhora com repouso”, descreve o advogado, que tem três hipóteses para ter contraído a doença: uma viagem ao Rio de Janeiro, uma festa de aniversário ou uma saída para um bar com a presença de estrangeiros.
Eduardo Finger, médico imunologista da Care Plus, reforça que “nenhum serviço consegue tolerar o número de testes” necessários para examinar toda a população. Ele destaca que apenas 20% demonstra algum sintoma, como nariz entupido, dor de cabeça, mal estar, febre, “e não vai passar disso”.
O especialista defende que, se o indivíduo apresentar sintomas leves, deve se isolar em casa e esperá-los passar. Procurar uma unidade de saúde, apenas se apresentar alguma dificuldade respiratória. “A gente tem que se isolar para reduzir o máximo possível essa transmissão, que é natural. Uma vez que você perde o controle, está correndo atrás do prejuízo”, explica.
Os testes rápidos importados da China serão distribuídos aos 184 municípios do Ceará de acordo com a população e o número de casos em cada um. O secretário da Saúde, Carlos Roberto Martins, o Dr. Cabeto, afirma que 40% dos testes devem ser enviados para o Interior; os outros 60% serão aplicados na Capital, que concentra o maior número de casos.
Por Nícolas Paulino, G1 CE
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