Ceará perde 4,5 vezes mais postos
de trabalho formais com pandemia
De janeiro a abril, Estado perdeu
25,6 mil empregos com carteira assinada, 4,5 vezes mais que em igual período de
2020. Especialistas ressaltam necessidade de políticas públicas coordenadas
entre poderes para recompor mercado.
Sob influência da pandemia do novo
coronavírus, o mercado de trabalho no Ceará ampliou o ritmo de perda de postos
de trabalho. Entre janeiro e abril deste ano, foram encerrados 25,6 mil
empregos no Estado - volume 4,5 vezes maior que no igual período do ano
passado, quando haviam sido fechadas 5,6 mil vagas formais, segundo o Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério da Economia. Conforme
a previsão do professor de Economia Ecológica da Universidade Federal do Ceará
(UFC), Aécio Alves de Oliveira, a estimativa é que o saldo negativo no Estado
deve demorar pelo menos três meses após a retomada das atividades para começar
a ser revertido.
Ele avalia que o retorno ao
trabalho se dará em um ambiente de muitas incertezas. "As estatísticas
positivas não vão aparecer de imediato. Para pausar, é rápido, mas para voltar,
é gradativo. E a economia não tem condições de repor todas essas vagas de uma
vez. No próximo trimestre, talvez já comecemos a ver algum tipo de melhora
nesse saldo", projeta o professor.
Para Oliveira, a pandemia é
realmente o principal motivo para o expressivo aumento das demissões. Em
janeiro e fevereiro, o Ceará apresentou saldo positivo de empregos, ou seja, a
quantidade de contratações superou as demissões, tendência que só se reverteu
em março e cresceu exponencialmente em abril, primeiro mês inteiro com a
atividade econômica restrita aos serviços essenciais. "Isso indica de
forma bem clara o efeito da pandemia", ressalta.
Empregos preservados
O professor ainda destaca o papel
do Estado para a manutenção dos empregos e renda das famílias. Segundo o Caged,
mais de 277 mil empregos foram preservados a partir do Programa Emergencial de
Manutenção do Emprego e Renda, que permite a redução proporcional de jornada e
salário dos trabalhadores ou suspensão de contratos.
"Se não fosse essa MP 936,
esses 277 mil trabalhadores estariam na conta dos demitidos. O Estado é
fundamental nesses momentos, apesar de ainda ter feito pouco, porque o mercado
não resolve. A solução que o mercado indicaria seria simplesmente
demitir", avalia o docente.
Em abril, a indústria foi o setor
que mais fechou postos de trabalho no Ceará, apresentando saldo negativo de
10,6 mil empregos com carteira assinada. Em seguida, as maiores perdas aparecem
nos setores de serviços (-8,8 mil), comércio (-7 mil) e construção civil (-3,1
mil). Mesmo sendo considerados essenciais, empresas dos setores de agricultura
e pecuária também reduziram o quadro de pessoal no mês passado, resultando em
um saldo negativo de 195 vagas formais no Estado.
Perspectivas
Erle Mesquita, coordenador de
Estudo e Análise de Mercado de Trabalho do Instituto de Desenvolvimento do
Trabalho (IDT), acredita não ser possível prever quando o mercado de trabalho
deverá se recompor após a pandemia. Segundo ele, serão necessárias políticas do
trabalho e união entre as diferentes instâncias de poderes e gestores para
recuperar os empregos perdidos e gerar novos.
"O grande problema é a alta
rotatividade do mercado. Com a pandemia, você estancou as admissões e deixou de
contratar. Quem ficou no mercado de trabalho teve de se submeter às iniciativas
que foram impostas. É uma grande incógnita saber quando o mercado vai se
recuperar. Os poderes e os gestores vão ter que realmente pensarem em políticas
do trabalho", avalia.
Para Mesquita, o mercado já vinha
em um processo de fragilização. "Você tinha um movimento que era
necessário por causa dessa onda tecnoló-gica, e a Covid-19 acelerou isso. O
Ceará já tinha meio milhão de desempregados antes da crise e, com ela, outros
muitos trabalhadores desempregados que não vão conseguir ser realocados. A
gente não tem uma perspectiva de recomposição muito facilitada desse mercado,
tanto pela situação da economia, como pela queda da renda do trabalho. É um
cenário de longa jornada para recomposição", analisa.
De acordo com o coordenador,
serão necessárias múltiplas e transversais iniciativas para recuperar os
empregos perdidos. "A gente vai precisar ter mecanismos de acesso ao
crédito para micros e pequenos empreendedores e de desonerações nas folhas de
pagamento, algo que vai ser difícil para os governos por conta da queda da
arrecadação neste momento", aponta.
Mesquita destaca que o esforço
terá de ser ainda maior por conta da deterioração da legislação trabalhista que
vem acontecendo nos últimos anos. "Há uma necessidade de se ter uma
força-tarefa muito forte, porque a gente vê uma destruição do Direito Trabalhista.
As previsões internacionais são muito ruins e o cenário interno é muito
turbulento. Isso tudo tumultua o processo de retomada", lamenta.
Municípios
Segundo dados do Caged, em abril,
Fortaleza foi o município com o pior saldo de empregos, com a perda de 15.308
postos de trabalho formais. Em seguida, aparecem Maracanaú (-2 mil), Santa
Quitéria (-1.013), Caucaia (-985), Juazeiro do Norte (-787), Maranguape (-663),
Aquiraz (-662), Camocim (-641), Eusébio (-517) e Sobral (-511).
"São municípios de médio
porte. Você tem os três principais polos do Estado, que são Fortaleza, Juazeiro
do Norte e Sobral. E são cidade que têm o mercado de trabalho com base na
indústria, muito embora não tenhamos esses dados cruzados entre municípios e setores,
mas a indústria em muitos desses é o carro-chefe", diz Mesquita.
Fonte: Diário do Nordeste
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