A idosa Raimunda de Paula Melo, 90 anos, faleceu às 16h de quarta-feira (13), na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), no Bairro Itaperi, em Fortaleza. Na manhã desta quinta-feira (14), às 8h, a família foi buscar o corpo para o sepultamento, marcado para às 11h, mas deparou-se com o o "desaparecimento" do cadáver.
Só às 16h, após buscar ajuda policial, a família foi comunicada que a unidade hospitalar cometeu o erro, que ocasionou que o corpo da mulher tenha sido levado por outra família. A família de Raimunda de Paula Melo segue em busca do corpo da idosa para realizar o sepultamento.
Raimunda de Paula Melo, que sofria de Alzheimer, estava há três dias sem se alimentar, o que a levou a desidratação. Debilitada, a idosa foi levada pela família à UPA do Bairro Itaperi, mesmo com mesmo com medo por ela ser grupo de risco do novo coronavírus. De acordo com a neta da mulher, Sarah de Melo, o atendimento não foi imediato. “Eles responderam que só poderiam atender em caso de morte, foi quando dentro do carro a minha avó faleceu nos meus braços”.
Depois disso, ela foi levada para dentro da unidade de saúde. “Foi tarde, mas mesmo assim eles levaram ela, tentaram reanimar. Fizeram as reanimações e ela não respondeu”, contou a neta. Ainda no fim da tarde da quarta-feira (13) tiveram a morte da idosa confirmada, por meio da assistente social do local.
“A assistente social ontem mesmo conversou comigo, perguntou os dados pessoais dela, tudo que precisava para fazer o formulário. E aí ela falou assim 'olha, amanhã você vem só para reconhecer o corpo com a funerária para você poder fazer o enterro'”, relata.
Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde afirma que o corpo de Raimunda de Paula Melo foi liberado da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), nesta quarta-feira (14), para sepultamento, após reconhecimento, de forma incorreta, "de um familiar que também sofreu lamentavelmente uma perda na mesma unidade de saúde". "A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informa que concluiu todos os procedimentos de reconhecimento cadavérico, que somente os familiares podem realizar", diz.
Desaparecimento
Quando a família chegou junto com a funerária,o corpo da idosa de Dona Raimunda tinha desaparecido. “Tentei conversar com ela [a assistente social], tentei pedir pelo menos uma explicação da direção da UPA, um esclarecimento mais básico, que é o que eu tenho direito como cidadã e neta da minha avó. Eles não me atenderam, nenhum”, disse Sarah inconformada.
“Infelizmente eu só quero ter o direito de enterrar o corpo da minha avó, a questão é cadê o corpo da minha avó? Cadê a resposta da assistente social? Cadê a resposta da direção da UPA? Ninguém me dar uma resposta”, enfatizou a neta.
E foi assim, sem respostas, que a família ficou por cerca de oito horas, tendo que entrar em contato com a polícia, para tentar obter uma resposta da unidade hospitalar. "Se a gente não pode, alguma autoridade tem que fazer com que ela fale alguma coisa. Se foi um erro, falasse 'eu errei e estou tentando ajeitar', pelo menos falasse isso para gente, mas nem isso", frisou Sarah.
Apenas por volta das 15h, que Cícero Melo, o filho de Raimunda, foi chamado pela assistente social da UPA e informado que sua mãe tinha tido o corpo trocado com de outra pessoa, mas - conforme o filho da idosa- a UPA não tem a certeza quem levou o corpo de Raimunda. A Unidade de Pronto Atendimento informou também, ao filho da idosa, que o setor jurídico da unidade está à frente do acontecido, cuidando dos procedimentos legais e prestará toda a assistência à família
“A perda é grande, né? E aí você passa por uma situação dessas, todo um transtorno desses, tá aqui sem se alimentar, sem nada. O ônibus [com familiares para o enterro] foi embora, funerária foi embora, muito difícil. Para mim, minha mãe está viva , para mim ela não morreu. Ainda não deixei cair a ficha, essa que é a verdade”, concluiu o filho. Até 18h15, a família ainda não tinha recebido nenhum retorno.
Em 21 de abril, o G1 noticiou que o corpo de um homem vítima de Covid-19 foi trocado por hospital e família só foi avisada após sepultamento. O aposentado Carlos Alberto Viana, de 76 anos, morreu por Covid-19 às 6h do dia 19 de abril, após passar 21 dias internado no Hospital Monte Klinikum, em Fortaleza.
Familiares e amigos realizaram o sepultamento no mesmo dia, com o caixão lacrado como medida de segurança. Horas depois, porém, foram informados que ocorreu um erro no hospital, e o corpo enterrado era de outra pessoa. familiares receberam uma ligação da empresa funerária por volta de 14h no mesmo dia, informando que um erro havia ocorrido no hospital onde o parente esteve internado.
Por Marina Alves e Isabella Campos, G1 CE
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