A quantidade de requerimentos de seguro-desemprego no Ceará
aumentou 33,8% na comparação entre abril deste ano e igual mês em 2019, de
acordo com dados do Ministério da Economia. Um total de 26.204 trabalhadores
realizaram o pedido. Esse aumento já seria reflexo das demissões causadas pela
crise gerada na pandemia de Covid-19. O Estado é o oitavo do País e o segundo
do Nordeste em quantidade de solicitações.
Com o isolamento social imposto em decreto, as filas nos
Sines e Secretaria do Trabalho praticamente não existem. No último mês, 97,5%
dos atendimentos foram realizados nas plataformas virtuais, com 25.545 pessoas
atendidas.
Para o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos
de Finanças do Ceará (Ibef-CE), Raul dos Santos Neto, a pandemia do novo
coronavírus evidenciou os problemas que já haviam no mercado de trabalho
brasileiro, ainda em recuperação após anos de crise entre 2015 e 2017.
Raul explica que, apesar de período de otimismo após a posse
do novo governo, o mercado não recebeu as reformas prometidas que fortaleceriam
o trabalho. "O ano de 2020 já foi muito prejudicado. O emprego vai
depender da capacidade das empresas de se digitalizar. Quem entender como
trabalhar nesse contexto, sai na frente".
A velocidade desse processo é o que preocupa, de acordo com a
análise do fundador do Laboratório de Estudos do Trabalho e Qualificação
Profissional da Universidade Federal do Ceará (Labor/ UFC), Eneas Arrais Neto.
Ele não nega que haverá incremento dos meios de trabalho remoto, mas não na
proporção imaginada como ideal após a pandemia, por causa de aspectos culturais
e de produtividade.
Sobre o aumento das demissões em abril, diz que é o começo de
uma tendência de enfraquecimento do emprego neste período de crise. "Não
vejo intenção do Governo Federal de atacar esses números. Faltam ações
responsáveis, como discutido em vários países da Europa, sobre reduzir jornada
de trabalho para se produzir novos postos de trabalho", afirma.
O coordenador de Estudos e Análises de Mercado do Instituto
de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), Erle Mesquita, acrescenta que a análise
de dados e a projeção de soluções para o tema são prejudicados uma vez que o Governo
Federal ainda não divulgou em 2020 dados do Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged). "O trabalho de monitoramento é atrapalhado e as
tomadas de decisão são dificultadas. Após a crise, existirá a necessidade de
iniciar políticas de trabalho".
Ainda sem precisar o tamanho do prejuízo no Ceará, o
secretário executivo de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho do Ceará
(Sedet), Kennedy Vasconcelos, ressalta que o resultado de abril ainda nem
reflete o impacto causado pela pandemia, pois muitas empresas ofereceram férias
e fizeram negociações. "Em maio veremos os números de forma mais clara do
impacto da doença", explica.
O POVO
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