quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Pandemia da Bala: Ceará pode fechar 2020 com o dobro de assassinatos de 2019



Com 2.819 homicídios  acumulados entre os dias 1º de janeiro e 24 de agosto (ontem), o Ceará corre o risco de chegar ao fim de 2020 com  praticamente o dobro do número de assassinatos registrados no ano passado, quando, oficialmente, o estado contabilizou 2.257 Crimes Violentos, Letais e Intencionais (CVLIs).  Faltando ainda quatro meses para o fim do ano, a média mensal dos crimes de morte está em 352 casos/mês ou 12/dia.

A velocidade das estatísticas criminais no Ceará neste ano revela que o setor da Segurança Pública não sofreu nenhuma redução mesmo com a ocorrência da pandemia do Covid-19 que forçou o governo a decretar isolamento social em todo o estado a partir de Fortaleza e da sua Região Metropolitana. Ao contrário, o aumento do número de assassinatos no estado foi acelerado a partir de fevereiro e se estendeu até agora.

Nos 2.819 assassinatos registrados no Ceará em oito meses (incompletos) estão incluídos homicídios, latrocínios, feminicídios, lesões corporais seguidas de óbitos, assassinatos em unidades penitenciárias e centro socioeducativos, além das mortes decorrentes de intervenção policial.  Apesar do quadro grave, a Capital tem apresentando uma redução de assassinatos em vários bairros que antes eram destaque no cenário da criminalidade em Fortaleza.

Crescimento
Já a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF)  foi palco de um crescimento no número de assassinatos, especialmente naqueles onde as facções criminosas ocuparam espaços em comunidades e a disputa por território acontece com confrontos diários, como Caucaia, Maranguape, Aquiraz, Cascavel e Maracanaú.  Nestas cidades, as operações policiais de combate ao crime são pontuais, sem continuidade regular.

Na Capital, a redução do número de assassinatos se deve a, pelo menos, três fatores. O primeiro, a migração de criminosos procurados pela Justiça ou ameaçados pelas facções para outras cidades da Grande Fortaleza. Muitos bandidos foram se refugiar em cidades do Cinturão Metropolitano como Maranguape, Paraipaba, Aquiraz e Paracuru.  Mas lá, eles formam novos grupos ou quadrilhas para estabelecer domínio de território e, consequentemente, as mortes acontecem. Resultado disso, diminuição de CVLIs na Capital e aumento na zona metropolitana.

O segundo e importante fator na diminuição dos homicídios em Fortaleza foi a modernização e ampliação do trabalho da Guarda Municipal de Fortaleza com o Programa Municipal de Proteção Urbana (PMPU), que hoje tem nove torres de vigilância nos bairros Jangurussu, Goiabeiras, Vila Velha, Barra do Ceará, Caça e Pesca, Canindezinho, Bonsucesso, Coaço e Pan-Americano funcionando 24 horas, com blitz e operações de saturação em parceria com a

Polícia Militar, Polícia Civil e Polícia Penal.  As áreas das Torres do PMPU são vigiadas 24 horas por câmeras, drones, além do patrulhamento diário nas ruas.

Outro modelo de patrulhamento que tem reduzido, embora que ainda timidamente, os índices criminais em Fortaleza é o Programa de Proteção Territorial e de Gestão de Risco (Proteger), com policiamento fixo em bases montadas em contêineres em vários bairros da Capital. O programa, no entanto, ainda está em fase embrionária e não garante a vigilância com monitoramento eletrônico das ruas.  A presença estática dos policiais nas bases é complementada com a movimentação das patrulhas do Policiamento Ostensivo Geral  (POG) e das forças especiais como Comandos Raio e de Policiamento de Choque.

Interior violento
Cidades até então consideradas pacatas do Interior cearense hoje se transformaram também em refúgio de criminosos ameaçados ou procurados na Capital. Para lá a criminalidade migrou com a força e a violência do tráfico de drogas aliada à expansão dos “braços” das facções  Comando Vermelho (CV) e Guardiões do Estado (GDE), que dominam o Ceará.

Exemplo disso é a cidade de Sobral, na zona Norte do estado, onde os assassinatos tiveram um exponencial aumento com a instalação de “guetos” das facções em bairros da periferia como Terrenos Novos, Expectativa, Renato Parente, Padre Palhano, Junco, Vila União, Dom  Expedito, Nova Caiçara , Santa Casa e Dom José. Em Sobral já foram registrados, neste ano, mais de 70 homicídios.

O Município de Juazeiro do Norte, na Região Sul do estado (Cariri), também foi afetado drasticamente com a chegada das facções. Os crimes de morte se alastraram na cidade e, especialmente, em bairros como Tiradentes, Romeirão, Campo Alegre, Horto, Salesianos, Santa Teresa, Frei Damião e Pio XII.

Outras dezenas de cidades do interior, até então consideradas com baixo grau de criminalidade, hoje amargam a violência armada do tráfico de drogas e dos grupos criminosos organizados, como Crato, Morada Nova, São João do Jaguaribe, Ibicuitinga, Canindé, Lavras da Mangabeira, Beberibe, Marco, Forquilha, Groaíras e Varjota, entre outros.


Por: CN7

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