quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Hospitais de campanha do Ceará continuarão montados 'por tempo indeterminado', diz Secretaria da Saúde



Mesmo com a redução nos indicadores de novos casos e óbitos de Covid-19 nos últimos dois meses, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) considera que “a pandemia ainda não acabou” e, por isso, decidiu manter montadas, “por tempo indeterminado”, as estruturas de hospitais de campanha que ajudaram a diminuir a pressão no sistema de saúde do Estado.

Ao todo, a Pasta investiu em sete hospitais de campanha: cinco na Grande Fortaleza e dois no Interior. Receberam anexos de atendimento o Hospital Regional do Sertão Central (HRSC), em Quixeramobim; o Hospital Regional Norte (HRN), em Sobral; o Hospital César Cals (HGCC), Hospital Geral de Fortaleza (HGF), Hospital São José (HSJ) e Hospital de Messejana (HM), em Fortaleza, e outro no município de Caucaia.

Segundo a secretaria, devido à diminuição dos casos e do número de internações pela doença, alguns leitos nessas unidades passaram a ser direcionados para outros perfis assistenciais.

O Ceará registra, até a tarde desta quarta-feira (2), 218.414 casos confirmados de Covid-19 e 8.481 óbitos em decorrência da doença. Os pacientes recuperados já são 192.335. Os dados são da plataforma IntegraSUS, atualizada às 16h58 pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesa).

Desativação
No entanto, o Hospital São José, referência estadual em doenças infecciosas, confirmou que a unidade de campanha com 25 leitos já foi desativada. Ao todo, ela realizou 140 internações, levando a 118 altas e 22 transferências internas para a sede do Hospital. Não houve óbitos. Atualmente, o Hospital mantém uma unidade de 20 leitos exclusivos para Covid-19.

Além disso, a Prefeitura de Caucaia informou que há previsão de desativação do anexo “ainda neste mês de setembro” por causa da queda nos registros. Desde a abertura do equipamento até a última terça-feira (1º), o local teve 44 altas, 21 óbitos e 13 transferências. Se ele iniciou agosto com 18 leitos para Covid-19, hoje destina apenas cinco: dois de UTI e três de enfermaria.

Ítalo Ramon de Araújo, diretor técnico do Hospital, nota uma “acentuada redução” na demanda assistencial nos últimos 40 dias. “Isso tem nos levado a reavaliar nossas estratégias de combate do ponto de vista hospitalar porque temos outras demandas não-Covid, e aos poucos tentamos retomar essas atividades”, explica.

Ao todo, o Ceará teve 11 hospitais de campanha operando durante a pandemia. Além do São José, apenas o hospital de campanha da Unimed Fortaleza, privado, teve desativação de leitos. Eles começaram a operar no fim de março, mas foram desmobilizados na transição de junho para julho, após três semanas sem novos pacientes.

De forma geral, o Ceará já deixou de utilizar 1.255 leitos exclusivos para a Covid-19, representando 42% dos 2.951 abertos pelo Governo do Estado entre abril e junho. Atualmente, são utilizados 1.696, sendo 524 de UTI e 1.172 de enfermaria para o atendimento. Os demais foram redimensionados para outras especialidades já que, de acordo com a Sesa, as consultas ambulatoriais e as cirurgias eletivas “estão sendo retomadas gradativamente”.

Capital
Outro hospital de campanha com possibilidade de encerramento ainda em setembro é o do Estádio Presidente Vargas (PV), em Fortaleza, que continua de pé, mas sem receber novas internações desde o dia 30 de julho, conforme a Secretaria Municipal da Saúde (SMS). A unidade realizou 1.239 atendimentos desde a inauguração, dos quais 1.025 resultaram em altas e 140 em óbitos.

A SMS informou que ele “permanece com sua estrutura física montada para acolher pacientes de acordo com a demanda da população”. “Como ainda estamos em pandemia, continuamos observando o cenário epidemiológico, que felizmente é de muita estabilidade com decréscimo sustentado de casos, óbitos e demanda assistencial”, destaca Joana Maciel, titular da Pasta.

A vendedora de cosméticos Maria Célia Rodrigues, 56, foi uma das vidas salvas no hospital do PV, onde chegou a ficar na UTI com 90% dos pulmões comprometidos, em maio. “Me colocaram na máscara e acho que passei duas semanas. Perdi noção do tempo, não tinha força pra nada, igual a um bebê. Tinha um medo grande de dormir e não acordar mais”, relembra.

Aos poucos, em junho, o quadro clínico dela foi melhorando até a alta. Contudo, Célia revela que só em agosto se livrou totalmente da tosse seca e do cansaço. “Eu vi a morte na minha frente”, sentencia a moradora da Barra do Ceará, que crê ter renascido por intervenção “de Deus e dos médicos”.

Interior
O hospital de campanha Dr. Francisco Alves, em Sobral, tinha, nesta quarta, 66% de leitos de UTI ocupados - 10 dos 15 - e 34% dos de enfermaria - 12 dos 35. A Prefeitura informou que mais de 400 pacientes já foram acolhidos no espaço, dos quais 320 evoluíram para recuperação e 56 faleceram. Embora tenha confirmado a diminuição da demanda, “o Hospital não tem previsão para desativar”, avisa a gestão.

Segundo a Sesa, pelo Hospital Regional Norte, também em Sobral, passaram 255 infectados por Covid-19. Já o Hospital Regional do Sertão Central, em Quixeramobim, recebeu 403 pacientes.

O G1 contatou a Secretaria Municipal de Saúde de Juazeiro do Norte, que também implantou um anexo do tipo, para saber quantos pacientes já haviam sido tratados nele e se há previsão de desativação. No entanto, não recebeu retorno até o fechamento desta edição.

Estruturas sem pacientes
Duas estruturas de hospitais de campanha chegaram a ser montadas no Ceará, mas não receberam pacientes. A Sesa informou que, em Maracanaú, o local levantado entre maio e junho está sendo utilizado como Centro de Testagem para a Covid-19, com capacidade para realizar 500 exames por semana.

Já o espaço provisório anexo ao Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) foi montado em abril, prevendo a sobreposição da Covid-19 aos casos sazonais de gripe. Contudo, a análise dos casos pediátricos da doença levaram à conclusão de “não haver necessidade da estrutura temporária”. A desativação ocorreu em maio.

Planejamento
Para a médica Fernanda Colares, professora do Curso de Medicina da Universidade de Fortaleza e diretora geral do Hospital Regional Unimed, os hospitais de campanha foram estratégias importantes de planejamento desde os primeiros estudos epidemiológicos que revelavam a necessidade de mais leitos.

“Não daria tempo de fazer uma estrutura de alvenaria ou achar um grande espaço para isso. Ao mesmo tempo, precisamos dar o mínimo de conforto ao paciente. A diferença foi que desmistificamos aquela coisa mal-ajambrada, feita de qualquer jeito”, explica.

No entanto, ela também observa que as estruturas não devem ser utilizadas de forma permanente. “Se for a longo prazo, tem que construir unidades dentro das normas e regras de segurança. A pandemia é uma exceção pela calamidade pública, mas um hospital de campanha não deve ser usado para sanar problemas rotineiros. Para isso, tem que ter planejamento”, indica Colares.


Por Nícolas Paulino, G1 CE

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