quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Número de pessoas com dívidas cresce 9,3% em Fortaleza

 


Aproporção de pessoas endividadas cresceu 9,3% nos últimos seis meses atravessados pela pandemia de Covid-19, em Fortaleza. O percentual da população com parcelas a vencer de compras e/ou empréstimos passou dos 66%, em março, para 72,2%, em setembro deste ano, segundo a pesquisa "Perfil de Endividamento do Consumidor", divulgada ontem pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio-CE).

Os números revelam que foi em abril (83,1%), pico da crise sanitária no Estado, que a situação se agravou. Nos meses de maio e junho, houve recuo, mantendo-se no patamar dos 74,7%. Julho registrou nova alta de 75,2%, seguido de sutil declínio em agosto (74,2%).

A avaliação é que a redução de 2,3 pontos percentuais, na passagem de agosto para setembro, foi um respiro em meio à recessão, mas ainda é necessário cautela. A diretora Institucional da Fecomércio, Cláudia Brilhante, destaca que o cenário ainda é crítico. "Atribuo essa queda às negociações que estão ocorrendo pelas instituições financeiras e lojas. Isso é positivo. Mostra que o consumidor está mais cauteloso", analisa. "A nossa preocupação é que haja um planejamento para evitar a inadimplência", diz.

Ela acrescenta que a expectativa é que o comprador esteja apto a consumir de forma consciente durante o chamado "B-R-O Bró" (expressão referente aos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro), período no qual as vendas do varejo tendem a aquecer.

Dentre os endividados, os que têm nível de escolaridade mais baixo (até o Ensino Fundamental) figuram com a maior taxa (75%), seguidos dos compradores entre 25 e 34 anos (74,9%) e das mulheres (71,9%). A faixa de renda familiar que apresenta maior percentual é a de até cinco salários mínimos.

Os dados apontam que as dívidas estão concentradas na subsistência, como alimentação (41,7%) e aluguel (22%). Somente neste mês de setembro, o percentual de pessoas com contas em atraso ficou em 25,3%. O comprometimento destas despesas no orçamento chega a 30% da renda familiar.

A vice-presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-CE), Silvana Parente, acredita que os números delineiam um problema estrutural. "Quando as empresas estão endividadas, existe a prerrogativa judicial de pedir a concordata. Já para as pessoas físicas, a nossa legislação não tem nenhum dispositivo que possa realmente fazer uma limpeza das dívidas para aliviar", explana

"É fundamental essa rediscussão do processo de endividamento a nível do Congresso Nacional e, também, pactuação com os credores para haver esse alívio em grande camada populacional", afirma.

Outra análise é que o grande vilão continua sendo o cartão de crédito (68,4%), que é o canal mais atrativo nos momentos de dificuldade. No entanto, embora a Selic seja a mais baixa da história (2%), os juros da modalidade não a acompanham e disparam em casos de atrasos.

Atrás deles, estão outros (26,9%), financiamento (16,7%), empréstimo pessoal (8,3%), carnê de lojas (5,7%), cheque especial (0,8%) e pré-datados (0,3%). Na avaliação do economista Sérgio Melo, apesar de negativos, os indicadores foram amortecidos pelo auxílio emergencial de R$ 600.

"A preocupação é o efeito da diminuição dessa renda nos próximos meses e como ficará a situação quando acabar. Mas isso é um impacto a ser visto somente em 2021. Para o fim deste ano, esse recurso ainda conseguirá manter a roda da economia girando", analisa. Sérgio destaca que o maior risco é que as pessoas com dívidas tornem-se inadimplentes, o que implicaria diminuição do acesso ao crédito e estagnação econômica. Para a pesquisa, foram ouvidos 1.762.994 consumidores. A margem de segurança da amostragem é de 95% e o erro máximo de 3,3%.


Por: O Povo

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