O custo de produtos feitos à base do trigo subiu cerca 12,5% nas padarias do Ceará. O quilo do pão antes comercializado pelo preço médio de R$ 12 elevou para R$ 13,50 neste mês de setembro. As oscilações de valores, porém, podem variar de 10% a 15%, a depender da empresa, segundo o Sindicato da Indústria da Panificação e Confeitaria (Sindipan).
Segundo o presidente da entidade, Angelo Nunes, foi inevitável o repasse da alta do cereal para o consumidor. "Houve aumento de vários alimentos e seguramos esses reajustes ao longo do ano, mas o cenário tem se agravado em relação ao trigo e não há mais como o panificador manter", aponta. O Sindipan representa 1.800 filiados.
O empresário e presidente da Rede Pão, da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Alex Martins, detalha que o valor do insumo disparou 75%. "Em menos de um ano, foram diversos reajustes. De novembro de 2019 até hoje, uma saca de 50kg foi subindo de R$ 87 para chegar até os R$ 153", calcula. "Na minha empresa, por exemplo, aplicarei o acréscimo somente de 10% a partir da segunda-feira para suavizar os efeitos e não pesar para o cliente", detalha.
No País, o trigo é cultivado no Sul e Centro-Oeste, mas ainda não atende à demanda brasileira e grande parte é importada. Recentemente, o Ceará passou a produzir a commodity agrícola, mas ainda em fase de teste e levará alguns anos para atingir a produção em larga escala.
Essa dependência das importações significa que a precificação sofre forte influência do câmbio. O economista Ricardo Coimbra explica que outro fator é o crescimento da demanda interna durante a pandemia e de países como Argentina, maior fornecedora do Brasil.
"O auxílio emergencial gerou uma maior capacidade de consumo, sobretudo, para as pessoas de baixa renda, aumentando o consumo de alimentos", analisa. Agora, acrescenta, com aumento do preço do arroz, muitas pessoas passaram a substituí-lo pelo macarrão, que também depende do trigo para ser produzido.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), neste ano, a importação deverá ser recorde de 7,3 milhões de toneladas. Outro ponto é a tensão comercial com a Argentina. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) subiu a cota de importação de trigo com tarifa zero para países fora do Mercosul. A medida gerou insatisfação entre os exportadores argentinos.
Coimbra desta que, somado a outros aumentos de alimentos, o reajuste vai pressionar mais o bolso do consumidor. A saída é organizar o orçamento, fazer cortes ou substituir o que for possível.
O vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-CE), Luís Eduardo Barros, acredita que o produto não terá mais acréscimos nos próximos meses. "Os produtores absorviam o preço, sem repassar para o cliente. Por isso a alta foi de até 15%. Se tivesse ocorrido mês a mês, o impacto seria menor. Agora, a tendência é estabilizar pelos próximos três a quatro meses", diz. (Com informações do colunista Eliomar de Lima)
Por: O Povo
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