Pesquisadores da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (Bramon) conseguiram calcular a massa, o tamanho, a trajetória e a velocidade da rocha espacial avistada em pelo menos seis municípios do Ceará, no dia 10 de outubro. O corpo rochoso tinha cerca de 500 kg, entre 60 cm e 70cm, e viajava a 100 mil km/h. A análise foi possibilitada por satélite da Nasa, registros de portais climáticos cearenses e imagens enviadas para a Bramon.
O compilado de informações cedido à equipe mostrou que o objeto oriundo do espaço percorreu um trecho de pelo menos 40 km de extensão antes de desaparecer. “A primeira detecção do bólido ocorreu quando ele estava a cerca de 60 km de altitude, sobre o município de Caridade. Ele seguiu na direção norte a 104 mil km/h, até desaparecer a cerca de 30 km de altitude sobre o município de Pentecoste. Esse trecho detectado pelo satélite tem 40 km de extensão e foi percorrido em 1,35 segundos, mas provavelmente ele foi visível por mais tempo antes e depois desse trecho, mas não gerou energia suficiente para ser detectado pelo satélite”, explica nota publicada pela Bramon.
Marcelo Zurita, diretor-técnico da Bramon, indica que a queda de rochas espaciais na Terra, em geral, é comum. Contudo a velocidade alta percebida no Ceará só acontece, no mundo inteiro, a cada duas semanas. “Não chegava a ser um asteroide, porque tinha diâmetro em torno de 60 cm, 70 cm, menor do que um metro, que é o mínimo para ser denominada assim”, explica.
Ainda segundo estimativas da Bramon, a rocha espacial se desintegrou completamente, ao entrar na atmosfera terrestre. Portanto, não restaram meteoritos em solo cearense. “Se essa velocidade fosse metade, é provável que tivesse uns 50 kg de meteoritos espalhados por uma área enorme, em pedacinhos de alguns gramas. Um ou dois acima de 1kg. O risco pra quem está em solo é muito pequeno. Em toda a história recente, existe apenas um caso de pessoa seriamente ferida, nos EUA”, lembra.
A documentação do fenômeno é importantes para o desenvolvimento científico local, “Mesmo tendo poucas imagens, fizemos um bom levantamento de dados cruzando informações de várias fontes. Fizemos uma estabilização parcial do vídeo pra tentar acompanhar a trajetória mesmo com a câmera se movendo, e por meio disso confirmamos a trajetória, com uma margem de erro de cerca de 4km. Para a ciência, pra Bramon, eventos como esse são importantes "para que a gente vá aprimorando a técnica”, conclui o astrônomo.
Fenômeno
“Um bólido é um meteoro super luminoso”, diferencia tenente Romário Fernandes, especialista no ensino de astronomia. “Quando um objeto ingressa na atmosfera e origina um fenômeno luminoso, a gente chama esse fenômeno luminoso de meteoro. Mas quando esse fenômeno é muito impactante, chamamos de bólido. Foi isso que aconteceu em Baturité”, avalia o estudioso.
Fernandes atribui a possível dispersão da rocha ao atrito com a atmosfera terrestre e a composição rochosa do corpo. “O objeto segue em direção ao solo com a aceleração decorrente da força gravitacional da terra. Isso significa que a cada segundo a velocidade do corpo aumenta 36 km por hora. Isso gera calor porque está em atrito com a atmosfera. É uma temperatura muito quente. Eles ou vaporizam ou viram fragmentos muito pequenos”, conclui Romário.
No entanto, o som alto percebido pelos moradores no Maciço de Baturité não é decorrente da evaporação do corpo rochoso, garante o tenente. “Possivelmente o objeto quebrou a barreira do som e gerou aquela onda de choque. Qualquer coisa que quebra a barreira, gera esse boom.
O mais provável é que aquilo que as pessoas ouviram foi o momento em que o objeto quebrou a barreira”, indica.
Por Cindy Damasceno, G1 CE
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