Descobrir a cura da Covid-19 continua sendo o eixo norteador da ciência em 2020. Contudo, em meio ao esforço mundial para obtenção de uma vacina, já há experimentos que interrompem a progressão dos sintomas graves do novo coronavírus. O Ceará tem envolvimento nesse processo a partir da criação do Elmo, um capacete de respiração assistida que reduz em 60% a necessidade de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Fruto da iniciativa público-privada, o equipamento oferece oxigênio a pacientes com quadro clínico moderado e grave, o que melhora a capacidade respiratória e evita a intubação por não ser um mecanismo invasivo, como os ventiladores mecânicos. A cúpula transparente, por onde entram os tubos fixada no pescoço, distribui fluxo de gás contínuo para oxigenar o sangue e expandir o pulmão.
Conforme o superintendente da Escola de Saúde Pública (ESP-CE) e idealizador do Elmo, Marcelo Alcantara, o item pode ser usado em período intermitente até a reversão dos sintomas. "O uso inicial dele é enquanto o paciente está acordado, alerta e consciente. Na primeira vez, você utiliza duas, três horas, sempre com um profissional de saúde acompanhando o procedimento para dar segurança. Nos intervalos sem o Elmo, ele pode se alimentar ou fazer higiene pessoal. Depois coloca de novo. Pode usar por dois, três, quatro dias até a condição de base ser resolvida".
Da elaboração do Elmo até agora, passaram-se apenas sete meses. Quando concebido, em abril, o Ceará estava prestes a atingir o pico de casos de SARS-CoV-2. No mês seguinte, o protótipo foi finalizado. Os testes começaram em junho com 10 voluntários sadios. Já entre julho a outubro, o experimento esteve na fase clínica com outros 10 pacientes graves do Hospital Leonardo Da Vinci, em Fortaleza.
"Desses 10, seis tiveram resposta excelente com o uso do Elmo na enfermaria da unidade. Um usou pouco tempo, cerca de meia hora, aí não teve boa resposta. Os outros três foram intubados e precisaram de UTI, tendo dois entrado em óbito e um recebido alta. Em geral, o conforto e a avaliação do paciente ao usar o Elmo foram muito bons", atesta o idealizador.
Diante dos resultados promissores após a finalização do ensaio clínico, no dia 29 de outubro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a produção em escala industrial do Elmo. A produção e a comercialização do equipamento ficarão a cargo da Esmaltec, empresa de eletrodomésticos pertencente ao Grupo Edson Queiroz.
Produção
O analista de processos da Esmaltec, Alexandre Brasileiro, informou que o teste das peças plásticas que serão usadas no Elmo e o guia do usuário ficarão prontos ainda nesta semana. Em seguida, a expectativa é que a produção do item já se inicie na primeira quinzena de dezembro próximo.
"A gente tem uma capacidade de produção de 50 Elmos por dia com a possibilidade de expandir a produção de acordo com a necessidade", afirma. O primeiro lote de mil unidades será repassado à Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), sendo, por enquanto, único pedido fechado. "Vamos dizer que será de 15 de dezembro a 15 de janeiro com 250 produtos feitos por semana".
A concepção, testagem e produção do Elmo estão sendo possíveis em virtude de uma força-tarefa feita por entidades públicas e privadas do Ceará, a exemplo da ESP, Federação das Indústrias do Estado (Fiec), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai/CE), Universidade Federal do Ceará (UFC) e Universidade de Fortaleza (Unifor).
"Da Unifor participaram professores das áreas de Engenharia e Design Industrial, porque tínhamos que fazer não só o projeto do capacete como também peças que iam ser usadas, validar o equipamento usando técnicas para evitar vazamento de oxigênio. Também a instituição ofertou os laboratórios para as diversas ações", aponta o diretor de Pesquisa e Inovação, Vasco Furtado.
A iniciativa integrada para criação do Elmo, ressalta, diminuiu o tempo de cada etapa de produção do dispositivo. "Construir, testar, validar com ensaios, protótipos em diferentes versões e trazer a indústria para dentro, tudo isso foi feito em tempo recorde porque todos estavam envolvidos em cada cadeia. É um case de sucesso, com certeza", avalia.
Fonte: Diário do Nordeste
Nenhum comentário:
Postar um comentário