Precisar fazer uso do oxigênio
medicinal, e depois descobrir que vinha respirando um tipo de 'ar' utilizado em
soldas de oficinas mecânicas. Pelo menos 11 empresas no Ceará foram alvos da
'Operação Oxida' deflagrada ontem pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) com
objetivo de combater ações de empresários que estariam fornecendo oxigênio
adulterado para pacientes, clínicas e hospitais públicos de quase 20 municípios
do Estado.
A lista das unidades que
receberam oxigênio adulterado não foi divulgada pelas autoridades. No entanto,
conforme o promotor Patrick Oliveira, do Grupo Especial de Combate às
Organizações Criminosas (Gaeco), não há, até o momento, informação sobre a
existência de oxigênio adulterado em hospitais da Capital.
Onze mandados de busca e
apreensão foram expedidos pela 11ª Vara Criminal de Fortaleza e cumpridos
contra empresas localizadas em Fortaleza (3), Caucaia (2), Eusébio (1),
Jaguaribe (2), Juazeiro do Norte (2) e Barbalha (1). Um homem identificado
apenas como 'Ramon' foi preso em Caucaia, Município da Região Metropolitana. O
suspeito estava engarrafando gás adulterado no momento que as diligências
aconteciam, conforme as autoridades.
O médico pneumologista e
presidente da Sociedade Cearense de Pneumologia e Tisiologia, Ricardo Coelho
Reis, alerta que os riscos são altos. Segundo Reis, em determinados casos, o
uso de oxigênio medicinal adulterado pode levar à morte do paciente.
Investigação
De acordo com as denúncias
investigadas pelo Ministério Público, as empresas suspeitas adquiriam oxigênio
legalizado de empresas credenciadas, para justificar a entrada da mercadoria em
seus estoques, e adulteram o produto, seja misturando com gases industriais,
seja fornecendo gases industriais diretamente como se fossem medicinais. Para
tanto, estariam também falsificando os lacres das garrafas de oxigênio.
O promotor Patrick Oliveira conta
que a investigação teve início no fim do ano de 2019, após o Ministério Público
do Ceará tomar conhecimento de fatos similares no Estado do Rio Grande do
Norte. No desenrolar do caso, o órgão ministerial confirmou que o comércio de
oxigênio adulterado vinha acontecendo há pelo menos dois anos, e que em 2020 a
prática permanecia ativa, dando a entender que pacientes e hospitais permaneciam
sendo lesados.
"Algumas das empresas
funcionavam em prédios clandestinos. Em princípio identificamos hospitais da
rede pública que vinham recebendo o oxigênio adulterado. Não descartamos a
possibilidade de que servidores desses hospitais participassem das fraudes, é
possível sim que exista conluio de gestores, mas ainda não partimos para
investigar os editais de licitação. O que sabemos é que por essas empresas
irregulares fraudarem os gases e não obedecerem requisitos, elas têm preços
abaixo do mercado", disse o promotor.
Durante o cumprimento dos
mandados foram apreendidos documentos que devem auxiliar no aprofundamento das
investigações e amostras de oxigênio a serem periciadas. Ainda em Caucaia, as
autoridades encontraram uma lista com nomes de pacientes que vinham comprando o
oxigênio para tratamentos em casa: "Precisamos destacar que a população
fique atenta para a procedência do oxigênio adquirido", alertou o
promotor.
Prejuízos à saúde
O pneumologista Ricardo Coelho
explica que "o oxigênio que respiramos tem uma determinada pressão e o
medicinal é com essa mesma média. O risco de respirar oxigênio que não é para
uso medicinal é não poder avaliar a concentração correta. Então se o paciente
precisa de determinada quantidade e recebe mais ou menos, é arriscado. Oxigênio
em demasia causa inflamação, lesa o pulmão. E se é um subtipo de paciente que
precisa para sobreviver, a curto prazo, pode sim morrer".
A reportagem do Sistema Verdes
Mares entrou em contato com a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), mas a Sesa
não respondeu até o fechamento desta edição.
Fonte: Diário do Nordeste
Nenhum comentário:
Postar um comentário