Até o último fim de semana,
2020 somou 26 mulheres assassinadas no Ceará por razões de gênero. De acordo
com levantamento feito pelo G1, 21 casos foram no interior, quatro na capital e
um na Grande Fortaleza. Mais feminicídios aconteceram com uso de armas brancas
que com armas de fogo.
No ano passado, a Secretaria
da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) contabilizou 34 feminicídios. O
comparativo indica redução de quase 23% nas ocorrências. Ao mesmo tempo, os
dados alarmam que, mesmo em uma pandemia, esta é uma violência constante e que
preocupa o poder público.
A SSPDS afirma que, neste ano,
em 92% dos casos foi possível identificar o autor do crime e indiciá-lo por
inquérito policial. Dois suspeitos de feminicídio cometeram suicídio logo após
as mortes das mulheres.
Investigação
De acordo com a diretora do
Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis (DPGV), Rena Gomes, a principal
resposta da Polícia Civil aos casos é a repressão ao criminoso. Rena admite que
os indicadores ainda são graves e cita que a Polícia judiciária conta com
auxílio da Perícia Forense do Ceará (Pefoce) para concluir o mais rápido
possível se a morte de uma mulher se tratou ou não de um caso de feminicídio.
"Acompanhamos as mortes
dessas mulheres a fim de ter resolutividade de todos esses casos, uma
investigação célere. Nós seguimos diretrizes nacionais para investigar mortes
violentas de mulheres. Muitas vezes, já na investigação preliminar, o delegado
sabe se é feminicídio ou não. Importante também a ação conjunta com a Pefoce,
que tem protocolo específico", comenta.
"O feminicídio é um crime
de ódio. O agressor quer exterminar aquela outra pessoa, que ele acredita ser
da sua propriedade. Geralmente as lesões são múltiplas e em locais extremamente
fatais. Para eles, não é impedimento que as vítimas estejam na frente de
ninguém, nem mesmo dos filhos", afirma Rena Gomes.
Exemplo deste desejo de
extermínio percebido pela delegada foi a morte da juíza Viviane do Amaral,
vítima de um feminicídio no Rio de Janeiro, na véspera do Natal. A magistrada
foi assassinada pelo ex-esposo, a facadas, e na frente das três filhas.
Dois dias depois, no sábado
(26), uma ocorrência similar foi registrada no interior do Ceará. Maria Neuvani
da Silva, de 43 anos, foi assassinada a tiros pelo ex-marido, de identidade
ainda não divulgada. O crime aconteceu na cidade de Salitre, na residência da
vítima e na presença de um dos filhos do casal.
Testemunhas disseram à Polícia
que o jovem tentou evitar a morte da mãe. O suspeito pelo feminicídio fugiu e a
Polícia Civil do Ceará segue investigando o caso.
Ciclo da violência
A defensora pública e membro
do Conselho Cearense dos Direitos da Mulher (CCDM), Anna Kelly Vieira, destaca
a necessidade de a vítima romper o ciclo da violência antes que aconteça uma
tragédia fatal. Segundo Anna, a maioria das mulheres que sofre violência
doméstica no Ceará passa de cinco a dez anos para buscar ajuda e se afastar do
agressor.
"É uma violência que
começa de forma silenciosa. Que esses casos recentes de feminicídio no País
sirvam de alerta para todas as mulheres, para que elas rompam o ciclo da
violência. Este período do ano, com datas festivas, costuma ser um período
instigado por bebida alcoólica e pode, sim, haver disparada nos casos",
alerta a defensora.
Rena Gomes ressalta que, para
a Polícia Civil, é "tolerância zero aos responsáveis por
feminicídios". Conforme a delegada, diante da pandemia da Covid-19, a
Polícia Civil adotou estratégias específicas para atender as vítimas da
violência doméstica.
"Iniciamos a pandemia com
um número baixo de denúncias nas delegacias, então possibilitamos o registro de
boletim de ocorrência online para denunciar violência doméstica. Também deve
ser dito que as delegacias da mulher em todo o estado do Ceará continuam
funcionado 24 horas", acrescenta a diretora.
Por Emanoela Campelo de Melo,
G1 CE
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