terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Ceará registra 26 feminicídios em 2020; casos com uso de arma branca prevalecem


 
Até o último fim de semana, 2020 somou 26 mulheres assassinadas no Ceará por razões de gênero. De acordo com levantamento feito pelo G1, 21 casos foram no interior, quatro na capital e um na Grande Fortaleza. Mais feminicídios aconteceram com uso de armas brancas que com armas de fogo.

 No ano passado, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) contabilizou 34 feminicídios. O comparativo indica redução de quase 23% nas ocorrências. Ao mesmo tempo, os dados alarmam que, mesmo em uma pandemia, esta é uma violência constante e que preocupa o poder público.

 A SSPDS afirma que, neste ano, em 92% dos casos foi possível identificar o autor do crime e indiciá-lo por inquérito policial. Dois suspeitos de feminicídio cometeram suicídio logo após as mortes das mulheres.

 Investigação

De acordo com a diretora do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis (DPGV), Rena Gomes, a principal resposta da Polícia Civil aos casos é a repressão ao criminoso. Rena admite que os indicadores ainda são graves e cita que a Polícia judiciária conta com auxílio da Perícia Forense do Ceará (Pefoce) para concluir o mais rápido possível se a morte de uma mulher se tratou ou não de um caso de feminicídio.

 "Acompanhamos as mortes dessas mulheres a fim de ter resolutividade de todos esses casos, uma investigação célere. Nós seguimos diretrizes nacionais para investigar mortes violentas de mulheres. Muitas vezes, já na investigação preliminar, o delegado sabe se é feminicídio ou não. Importante também a ação conjunta com a Pefoce, que tem protocolo específico", comenta.

 "O feminicídio é um crime de ódio. O agressor quer exterminar aquela outra pessoa, que ele acredita ser da sua propriedade. Geralmente as lesões são múltiplas e em locais extremamente fatais. Para eles, não é impedimento que as vítimas estejam na frente de ninguém, nem mesmo dos filhos", afirma Rena Gomes.

Exemplo deste desejo de extermínio percebido pela delegada foi a morte da juíza Viviane do Amaral, vítima de um feminicídio no Rio de Janeiro, na véspera do Natal. A magistrada foi assassinada pelo ex-esposo, a facadas, e na frente das três filhas.

 Dois dias depois, no sábado (26), uma ocorrência similar foi registrada no interior do Ceará. Maria Neuvani da Silva, de 43 anos, foi assassinada a tiros pelo ex-marido, de identidade ainda não divulgada. O crime aconteceu na cidade de Salitre, na residência da vítima e na presença de um dos filhos do casal.

 Testemunhas disseram à Polícia que o jovem tentou evitar a morte da mãe. O suspeito pelo feminicídio fugiu e a Polícia Civil do Ceará segue investigando o caso.

 Ciclo da violência

A defensora pública e membro do Conselho Cearense dos Direitos da Mulher (CCDM), Anna Kelly Vieira, destaca a necessidade de a vítima romper o ciclo da violência antes que aconteça uma tragédia fatal. Segundo Anna, a maioria das mulheres que sofre violência doméstica no Ceará passa de cinco a dez anos para buscar ajuda e se afastar do agressor.

 "É uma violência que começa de forma silenciosa. Que esses casos recentes de feminicídio no País sirvam de alerta para todas as mulheres, para que elas rompam o ciclo da violência. Este período do ano, com datas festivas, costuma ser um período instigado por bebida alcoólica e pode, sim, haver disparada nos casos", alerta a defensora.

Rena Gomes ressalta que, para a Polícia Civil, é "tolerância zero aos responsáveis por feminicídios". Conforme a delegada, diante da pandemia da Covid-19, a Polícia Civil adotou estratégias específicas para atender as vítimas da violência doméstica.

 "Iniciamos a pandemia com um número baixo de denúncias nas delegacias, então possibilitamos o registro de boletim de ocorrência online para denunciar violência doméstica. Também deve ser dito que as delegacias da mulher em todo o estado do Ceará continuam funcionado 24 horas", acrescenta a diretora.

 

Por Emanoela Campelo de Melo, G1 CE

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