O número de desligamentos momentâneos de alunos de graduação da Universidade Federal do Ceará (UFC), da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) chegou a 5.709 no semestre no qual houve os primeiros registros de casos de Covid-19 no Brasil. O número é 25% maior que os 4.563 trancamentos do semestre anterior ao início da pandemia.
Levando em consideração a soma de matrículas e de trancamentos nos cursos de graduação das três instituições, a proporção de estudantes que se desligaram momentaneamente passou de 5,8% para 8,9%.
Ao todo, 63.700 estudantes se matricularam nas instituições no semestre no qual houve confirmação de casos de coronavírus. No semestre anterior, foram 77.766.
Cada instituição tem um tempo limite para o estudante permanecer afastado. Eles têm o direito de parar temporariamente a formação, suprimindo as disciplinas e registrando o trancamento da matrícula.
Dentre as três instituições públicas de ensino superior, o IFCE teve a menor variação de proporção entre matrículas e trancamentos: no semestre anterior à suspensão das aulas presenciais (2020.1), foram 32.163 matrículas e 3.584 trancamentos (11,1% do total de alunos). Na pandemia, foram 16.698 matrículas e 2.108 trancamentos (12,6% do total).
De acordo com a instituição, quando a pandemia começou “nem todos os campi estavam no semestre 2020.1 por conta da reposição das aulas que vinham ocorrendo nos semestres anteriores”.
Na Uece, o semestre anterior à pandemia era 2019.1, quando foram registrados 16.990 estudantes matriculados e 630 trancamentos (3,7% do total). Já no semestre no qual a crise sanitária teve início, 2019.2, havia 16.848 matrículas e foram 1.447 trancamentos (8,5% do total).
Na UFC, no semestre anterior à pandemia (2019.2), eram 28.613 alunos matriculados e 349 trancamentos foram registrados (1,2% do total). Já no semestre de início da pandemia (2020.1), eram 30.154 matrículas, com 2.154 trancamentos (7,1% do total).
Mudanças
Foram criados mecanismos de trancamento distintos do convencional nas três instituições. A Uece explicou, em nota, que ao final do semestre 2019.2, os estudantes puderam suprimir quaisquer e quantas disciplinas quisessem, independentemente do semestre de curso, mesmo que estivessem reprovados por falta ou por nota
Já na UFC, com o Plano Pedagógico de Emergência para o período remoto iniciado em 20 de julho, os estudantes puderam excluir componentes curriculares sem prejuízo ao Índice de Rendimento.
No IFCE, normativas internas possibilitaram uma ampliação na quantidade de trancamentos por aluno, para evitar ou minimizar a evasão.
Trancamento
Jennifer Sanye, estudante do curso de Engenharia Ambiental do IFCE de Juazeiro do Norte, trancou diversas disciplinas do semestre durante a pandemia. Ela não tem computador em casa, e afirma que problemas familiares têm tornado a situação ainda mais conturbada. A estudante trabalha atualmente em um restaurante exercendo diversas funções.
As três instituições relataram a distribuição de chips e tablets como ações para tentar evitar o abandono.
"A universidade pública, com maior ênfase em alguns cursos, já tem tratado da evasão como um problema há algum tempo. A pandemia, aliada a uma crise econômica sem precedentes, serviu para piorar a situação”, destaca o professor da Faculdade de Educação da UFC Ruy de Deus e Mello Neto.
Para o professor, boa parte dos alunos se viu obrigado a trancar disciplinas em função das dificuldades impostas pelo ensino remoto, enquanto outros tiveram que descontinuar a formação por questões de subsistência, onde "o dia a dia define as possibilidades de trancamento ou não".
“O estudante no ensino superior tende a pertencer a uma faixa etária economicamente ativa. De tal maneira, a pressão por trabalho, retorno financeiro e mesmo o cálculo entre vantagens e desvantagens da manutenção de um curso remoto tornam-se elementos centrais na vida desse estudante. O fato de estarem em idade laboral é, provavelmente, um dos maiores fatores de impacto para o aumento da evasão”, pondera Ruy de Deus.
Por G1 CE
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