quinta-feira, 18 de março de 2021

As ruínas do êxodo do Castanhão: estruturas da antiga Jaguaribara emergiram das águas

 


Não há como lutar contra as ações do tempo, as ruínas da velha cidade de Jaguaribara mostram isso. Vinte anos depois de ser deixada para trás por seus moradores, para dar lugar às águas do maior reservatório do Ceará, a antiga cidade ainda vive na memória daqueles que, um dia, foram obrigados a seguir em frente distante dali.

Longe dos tempos das grandes cheias, o açude Castanhão enfrentou anos difíceis durante a última década. Segundo o monitoramento realizado pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), em 16 de maio de 2009 o açude alcançou seu maior nível, com 97,82% da capacidade — as comportas foram abertas em 24 de abril daquele ano, pelo risco de inundações. No dia 16 de junho de 2011, o reservatório estava com 82,73% de sua capacidade. A partir deste ponto, o acúmulo de água só declinou e atingiu 2,10% no dia 21 de fevereiro de 2018.

Diante do impiedoso período de estiagem, a velha cidade de Jaguaribara emergiu das águas. Em 2013, barcos passaram a ser capazes de aproximar curiosos das ruínas da velha cidade. Em 2016, com nível abaixo de 10% pela primeira vez, as estruturas remanescentes podiam ser percorridas. Hoje, o Castanhão está com 10,36% da capacidade máxima. Cerca de 60 quilômetros de estrada separam presente e passado. As águas que chegam da transposição do rio São Francisco desde a semana passada ainda não foram capazes de devolver a cidade antiga ao repouso submarino.


Após sair da BR-116, os que desejam encontrar a velha cidade ainda precisam enfrentar cerca de 40 minutos de estrada carroçal, só então encontrarão indícios da existência de um antigo município no local.

Uma velha parada de ônibus, assume o papel de ser o primeiro vestígio concreto pelo caminho. Desgastada pelo tempo e pelas águas que outrora ocuparam toda a região, o equipamento ainda resiste. Diante de temperaturas que beiram os 40°, ela serve de abrigo para visitantes que queiram fugir do sol escaldante.

Ao adentrar a cidade, pouca coisa restou. Tijolos e pedaços de entulho estão jogados às margens do que sobrou da principal via de acesso da cidade, que pode ser identificada pela presença de um meio-fio. Em um cenário de cidade fantasma, apenas o verde das plantas e alguns animais dão os primeiros sinais de vida.

Em meio às construções demolidas antes da chegada das águas, ainda no início dos anos 2000, hoje, a configuração da antiga cidade está completamente modificada, o que dificulta a compreensão do ambiente para aqueles que nunca pisaram ali.

O professor universitário e médico Odorico Moraes possui longa relação com o Município, vínculo nascido da sua paixão pela pesca. Com o seu conhecimento, Odorico localiza e aponta para as antigas estruturas.


"A gente conhece por causa dos bancos, sobraram dois bancos. Quando estava cheio a água atingia uns 15 metros de altura. A gente sempre vinha para cá pescar, porque os ninhos dos tucunarés ficam aqui, nessas ruínas. A gente pesca aqui em cima. Aqui começa a praça", explica Odorico, ao localizar os antigos bancos do local.

O médico foi à região para acompanhar a chegada das águas do São Francisco ao Açude Castanhão. Segundo a Secretaria dos Recursos Hídricos do Ceará (SRH), o encontro entre as águas aconteceu na noite da última quarta-feira, 10, após mais de uma década de espera.

Seguindo os passos de Odorico, o médico consegue localizar o que sobrou de outros equipamentos da cidade que estava submersa.

"Aqui na frente, ficava a Igreja e bem ali a pracinha. Ainda temos os mosaicos que faziam parte do piso da pracinha, aqui. Era um tipo de pavimento usado muito até o fim da década de 80".


Fonte: O Povo Online

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