As manchas de óleo que já apareceram em pelo menos 12 pontos do litoral cearense são tóxicas e põem em risco a vida marinha, alerta a bióloga Alice Frota. O petróleo atinge, entre vários pontos, a Praia do Futuro e da Sabiaguaba, ponto de desova de tartarugas.
"Esse petróleo é tóxico e pode contaminar os ninhos. Caso encontre um animal vivo, encalhado, não retorne esse animal para o mar, ele já veio já se afogando, então ele está debilitado, mesmo aparentando estar bem", diz.
Uma inspeção vai realizada nesta sexta-feira (28) para avaliar se o material é o mesmo encontrado nas praias do Nordeste em 2019. Veja o material encontrado em Canoa Quebrada, praia de Aracati, no vídeo acima.
O trabalho vai ser realizado por professores do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (Uece), de acordo com a Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema).
A substância foi vista primeiro na praia de Canoa Quebrada, em Aracati, mas posteriormente também foram encontradas nas seguintes praias:
- Do Futuro, Sabiaguaba e Abreulândia, em Fortaleza
- Quixaba, Cumbe e Majorlândia, em Aracati;
- Prainha, Iguape e Porto das Dunas, em Aquiraz;
- Canto da Barra, em Fortim;
- Prainha do Canto Verde, em Beberibe.
O professor e pesquisador do Labomar, Rivelino Cavalcante, coordena um projeto atuante no litoral cearense há dois anos, quando uma substância, até então desconhecida, foi inicialmente flagrada nas praias nordestinas.
“Coordeno um projeto que avalia essas manchas e o impacto delas no litoral cearense todo. Passamos 2020 e 2021 percorrendo, de ponta a ponta, o estado e nós ainda encontramos resquícios de materiais, provavelmente, de 2019 ou que chegaram aos poucos. Nós analisamos também a areia da praia para ver se esse material está liberando muito hidrocarboneto de petróleo e, assim, contaminando as praias”, explica o coordenador do projeto do Labomar que vai avaliar o material.
A Sema disse que vai permanecer atenta, de forma a antecipar qualquer ação necessária para, na medida do possível, buscar um controle das ocorrências de manchas, o mapeamento e entendimento dessas fontes poluidoras.
Com o trabalho realizado há dois anos, os pesquisadores conseguiram a expertise para avaliar se os materiais que surgiram posteriormente são os mesmos de 2019. Ele informou que além do material em si, nesta sexta, a água e areia da praia também vão ser avaliadas.
“Nós vamos avaliar o perfil químico deste material e confrontar com o material de 2019 e de todos esses que nós temos durante esses dois anos”, complementa o professor
Comportamento do material
Rivelino explicou que visualmente o material parece ser antigo, por conta de características físicas apresentadas nos últimos registros, mas há questões que os pesquisadores não descartam. “Tem uma coisa que está intrigando, ele [o material recente] está vindo da mesma direção que veio o material de 2019, ou seja, de leste”, revela o pesquisador.
“Ele tem o mesmo comportamento de um material novo. A hipótese mais provável é que ele seja mais antigo, mas esse comportamento é de novos lançamentos. Ou então, esse local está se concentrando em outro local que não seja na plataforma do estado do Ceará e, com esse evento, ele vem sendo transportado de leste para oeste”, complementa o professor.
Com a aparição do material, a Semace notificou 20 secretários de Meio Ambiente dos municípios da Linha de Costa cearense e aos pontos focais do projeto Planejamento Costeiro e Marinho do Ceará (PCM), pedindo atenção para monitorar tais ocorrências, solicitando um diagnóstico das praias e orientando sobre a limpeza dos locais atingidos.
Por Samuel Pinusa, g1 CE
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